Strike a pose! Andar dramático está de volta às passarelas
Graças ao sucesso dos programas Pose e Rupaul’s Drag Race, expressividade dos anos 1990 é cada vez mais comum nos desfiles internacionais
atualizado
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Se a reinterpretação do vestido Versace de Jennifer Lopez roubou a cena na última Semana de Moda de Milão, em setembro de 2019, no Paris Fashion Week o protagonista foi o caminhar excêntrico de Leon Dame na passarela da Maison Margiela. A performance mal-encarada que fechou a apresentação da grife francesa impactou a indústria e viralizou nas redes sociais. O andar expressivo do modelo, no entanto, foi apenas um episódio de uma movimentação que ganha cada vez mais força nos desfiles internacionais.
Vem comigo saber mais sobre a volta das poses poderosas na passarela!
Do performático ao minimalista
Quando as supermodelos dominavam o mundo da moda, entre as décadas de 1980 e 1990, eram as responsáveis por acrescentar expressividade aos desfiles das grandes grifes.
Nomes como Naomi Campbell, Christy Turlington e Linda Evangelista sempre colocavam algo extra em seu caminhar, seja por meio de um giro no meio da passarela, seja uma pose arrebatadora em frente aos fotógrafos. Até mesmo no Brasil, onde Luíza Brunet incluía seus famosos pivôs em seu catwalk, a prática era comum na época.
No entanto, em algum momento entre a chegada de uma nova geração de profissionais e o crescente desejo de destacar, exclusivamente, as peças das novas coleções, as poses poderosas caíram em desuso. Apenas as Angels da Victoria’s Secret arriscavam uma caminhada mais performática.
Os comentados shows de Thierry Mugler, John Galliano e Alexander McQueen, em que modelos cruzavam a passarela com passadas cheias de drama, deram lugar aos desfiles robóticos que tomaram o universo fashion nas últimas duas décadas.
Strike a pose!
Por algum tempo, as instruções nos cursos de modelo eram rosto inexpressivo e gestos mínimos e simétricos, para não tirar o foco da roupa.
A postura era de quem passava o dia com uma pilha de livros da cabeça. O andar performático ainda se manifestava aqui e ali. Um exemplo? Quando Stella McCartney transformou seu desfile de outono/inverno 2017 em uma festa.
Agora, em parte pela difusão da série Pose, disponível na Netflix, que retrata os primórdios da cena ballroom nos Estados Unidos, e do reality show Rupaul’s Drag Race, no qual drag queens competem com carões e performances na passarela, o comportamento teatral ressurge.
Enquanto as artistas Aquaria, Violet Chachki e Miss Fame, ex-participantes da atração, passaram a figurar nas primeiras filas da temporada de primavera/verão 2020, os estilistas Brandon Maxwell, Christian Siriano e Marc Jacobs (fãs declarados do reality) decidiram acrescentar mais alegria, atitude e drama em seus desfiles na Semana de Moda de Nova York. Siriano convidou Coco Rocha para fechar o show com uma posição digna de um espetáculo de dança contemporânea.
Mais tarde, em Paris, a Maison Margiela incluiu o excêntrico Leon Dame em sua apresentação. Embora a situação tenha sido encarada de uma forma engraçada, o homem por trás dos passos bruscos do modelo, o coreógrafo Pat Boguslawski, defende a atuação. “Se é um desfile de moda, por que estamos assistindo a um andar comum? Deve haver algum tipo de performance, para que possamos ver os personagens”, afirmou à revista Elle.
A cultura dos bailes fashionistas mostrada em Pose também tem deixado suas impressões digitais no mercado. José Xtravaganza, consultor da atração da FX, tem trabalhado com Joan Smalls e Kendall Jenner para realçar o brilho do caminhar das top models.
Na passarela
O espírito da série também pôde ser sentido no show de estréia de Christopher John Rogers, no qual modelos percorriam a passarela com pausas dramáticas e soberbas que remetiam diretamente às competições da série.
No fashion show da Savage X Fenty, transmitido no Amazon Prime, a incorporação desse tipo de catwalk ajudou a marca a elevar ainda mais o potencial da apresentação, chegando lembrar a Mugler dos anos 1990, com cenários luxuosos e estrelas da moda exalando desenvolturas teatrais.
Na Semana de Alta-Costura, o recurso foi amplamente empregado por Jean-Paul Gaultier em seu desfile de despedida e, convenhamos, a ocasião não teria sido tão icônica se as modelos tivessem exibido feições comuns.
Em um cenário tão conectado quanto o que vivemos, as vendas de uma coleção não dependem apenas de qualidade e estilo mas também do estrondo que o trabalho faz na internet.
Uma roupa interessante em uma passarela comum pode valer um like, mas não há quem resista ao botão de compartilhar quando se depara com uma modelo exalando personalidade na passarela. As poses, mais do que impactantes, têm se mostrado uma ótima tática de marketing.
Colaborou Danillo Costa