Salto alto: as curiosidades em torno da peça símbolo de feminilidade
Nem sempre tais calçados foram exclusividade do vestuário das mulheres
atualizado
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Estamos entrando em mais um semestre repleto de novidades, diversidade, moda, arte e política: em setembro, começam os desfiles da temporada primavera/verão 2019. Ao mesmo tempo, lojas de todo o mundo recebem coleções de outono/inverno vistas nas passarelas ainda nos primeiros seis meses do ano. Entre mamilos expostos, tendências noventistas e, inclusive, o gótico romantizado, o que realmente dominou a última estação foram os tênis de luxo.
Gosto da proposta e sou adepta de calçados baixos ou com salto médio. No entanto, amo um belo salto alto e acho os scarpins insubstituíveis. São sexy, minimalistas e transformam qualquer produção. Pensando nos sneakers que têm aparecido como substitutos para o salto alto, relembro o valor da peça esteticamente símbolo de feminilidade e sensualidade.
Agulha, carretel, vírgula, cone e plataforma são apenas alguns dos modelos que existem há séculos. Essenciais desde os tempos dos cavaleiros persas, foram símbolo de status, inflaram o ego do rei da França e ajudaram a manter o mínimo de higiene durante a Idade Média.
Vem comigo saber mais!
Egito
Você sabia que o salto alto foi pensado inicialmente para os pés masculinos? Teve origem no antigo Egito, ainda em 3500 a.C. Há imagens em murais mostrando a nobreza com plataformas que serviam para distinguir entre as classes sociais, pois a plebe andava descalça.
Grécia
Durante a Antiguidade na Grécia e em Roma, o salto surgiu no teatro. No palco, atores usavam plataformas com base de quatro polegadas em madeira ou cortiça. A altura era proporcional ao status do personagem representado nos dramas e nas comédias. Mais tarde, por volta de 200 a.C., os romanos adotaram a ideia e chamaram os sapatos de kothorni.
Idade Média
Durante a Idade Média e até meados de 1500, o salto foi grande aliado dos cavaleiros da Pérsia. A extremidade mais alta das botas ajudava os arqueiros a se equilibrarem para atirar flechas.
Quando os persas buscaram apoio na Europa contra o Império Otomano, no final do século 16, a novidade chegou à aristocracia ocidental.
França
Não demorou para a moda do salto alto entrar na Europa. Catherine de Médici (1519–1589), esposa do rei Henrique II, foi uma das primeiras mulheres a apostarem na ideia, ainda no século 16.
No entanto, foi o rei Luís XIV (1643–1715), da França, quem lançou essa moda, cerca de 200 anos depois. Abusava do luxo, das perucas e, complexado por sua baixa estatura, de apenas 1,60cm, pensou na única forma de crescer: aumentar o salto dos sapatos. Denominou essa como nova regra de vestuário que, além da utilidade estética, distinguiria entre nobres e plebeus, pois apenas membros da sua corte tinham autorização para usar saltos como o dele.
Luís XIV investiu em versões quadradas de saltos em sapatos ornamentados por laços e fivelas. Sua marca registrada era o salto vermelho. Foi nessa época que a França, até então dominada pela Espanha, virou referência em moda na Europa, e o Palácio de Versailles se tornou palco de desfiles de nobres glamourosos.
Os homens da elite europeia, assim como os persas, usavam os sapatos também nos esportes a cavalo. Nesse período, o salto era um símbolo de virilidade, relacionado a práticas e atividades que cercavam o universo masculino. Por volta de 1730, tornou-se exclusividade feminina. Mas, hoje, essa questão de gênero é coisa do passado.
Outras funções
Os saltos altos eram mais que um símbolo de status. Entre 1400 e 1600, eram chamados de chopines, e sua principal função era proteger os pés da lama. Com anatomia bem estranha e salto de 45cm, o modelo de sapato virou moda entre as prostitutas, pois atraía olhares da população masculina. Já os açougueiros, por exemplo, usavam os calçados para não ficarem perto de todo aquele sangue no chão.
Foi a partir daí que o acessório se aproximou do universo feminino e tanto homens quanto mulheres circulavam com as plataformas. Elas foram se moldando e se distinguindo entre os gêneros. As damas usavam versões pontiagudas e finas, enquanto os cavalheiros adotavam peças mais grossas.
No século 19, com o surgimento da fotografia, as mulheres passaram a ser fotografadas nuas. Nos ensaios, usavam saltos para acentuar as curvas do corpo, e daí veio a conotação erótica em torno da peça – além da associação com as antigas prostitutas, que usufruíam e deram fama ao item.
Século 20
A primeira fábrica de sapatos de salto alto surgiu em Nova York em 1888 e trouxe o estilo francês para o continente americano, mas foi a virada para o século 20 que provocou grandes revoluções. Mulheres deixaram de lado as longas saias, passaram a exibir mais as pernas e conquistaram liberdade para usar o salto alto para ressaltar a sensualidade.
De início, as criações tinham salto menor, inspirado no estilo criado por Luís XIV, e ao longo do tempo foram ganhando medidas maiores. O salto tímido durou até os anos 1920, aparecendo, a partir de 1930, com modelos mais altos. Foi na década de 1940 que surgiu a plataforma, ou wedge heels.
Nos anos 1950, o mundo se reerguia após a guerra, e a moda viveu um período de ouro. Os sapatos passaram por um processo de mudança: pelas mãos do designer Roger Vivier, a Dior lançou os stilettos, um dos grandes marcos da história dos calçados femininos.
Marilyn Monroe foi uma das maiores fãs do salto fino. A novidade trazia metal – steel – no interior da estrutura, para evitar que quebrassem como aqueles feitos de madeira e outros materiais menos resistentes.
Manifestações
Nem tudo são flores. Embora os saltos altos explorem toda a nossa feminilidade, eles não são tão confortáveis – e, em muitos momentos históricos, nós nos rebelamos contra eles. Durante o concurso Miss America em 1968, feministas protestaram com a Freedom Trash Can, ou Lixeira da Liberdade, livrando-se de peças e acessórios que consideravam torturantes: sutiãs e sapatos de salto.
Nos anos 1970, a era da música disco, novos manifestos aconteceram. Além disso, os saltos ficaram mais extravagantes e ganharam uma aparência descolada e irreverente.
A ousadia continuou na década seguinte, quando uma vibe mais rocker dominou os pés femininos. O stiletto teve uma forte retomada entre os anos 1980 e 1990. Mesmo assim, saltos baixos e médios estiveram em alta nas década de 1960 e 1990, e também nos dias de hoje.
Veja alguns modelos icônicos:
Louboutin
O solado vermelho traz sensualidade e luxo aos sapatos de Christian Louboutin. Os calçados do francês são conhecidos pelo solado em vermelho vibrante. A ideia da cor surgiu enquanto o designer observava sua assistente pintar as unhas com a tonalidade. De lá para cá, viraram um símbolo de status e são, de certa forma, uma marca registrada da grife.
Armadillo
O icônico sapato gigante usado por Lady Gaga no videoclipe Bad Romance, em 2009, é uma criação de Alexander McQueen. As três versões do calçado, compradas em leilão pela própria cantora, foram produzidas exclusivamente para arrecadar dinheiro em prol das vítimas de um terremoto ocorrido no Nepal em 2016
Manolo Blahnik azul
Grande fã de sapatos Manolo Blahnik, a personagem Carrie Bradshaw, de Sex and The City, eternizou este modelo azul
Blue Leather Gillies
Outra maxiplataforma que deu o que falar são os Blue Leather Gillies. O modelo, by Vivienne Westwood, em couro azul, ficou conhecido por ser responsável pela queda de Naomi Campbell durante a temporada de desfiles em Paris no ano de 1993 (confira no vídeo abaixo)
Salto fantasma
O sapato de Victoria Beckham, com o denominado “salto fantasma”, chamou atenção em setembro de 2008, no lançamento das fragrâncias assinadas por ela e pelo marido Davida Beckham. Quem assinou o modelo preto sem haste da eterna Posh Spice foi Antonio Bernardi. A estilista e ex-cantora é conhecida como “rainha do salto alto”
Há quem ame, quem odeie e, ainda, aqueles parcialmente favoráveis à praticidade e ao conforto de um sapato baixo. No entanto, love them or hate them, o salto alto acentua o nosso shape, traz feminilidade e, hoje, pode ser usado tanto de dia quanto de noite.
Aparece em produções com calças, saias, vestidos, biker shorts e até mesmo tracksuits, mostrando que, apesar da onda dos tênis de luxo, stilettos serão sempre curingas no closet de qualquer mulher.
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Colaborou Hebert Madeira