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Salto alto: as curiosidades em torno da peça símbolo de feminilidade

Nem sempre tais calçados foram exclusividade do vestuário das mulheres

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Street Style In Duesseldorf – March 2017
1 de 1 Street Style In Duesseldorf – March 2017 - Foto: Getty Images

Estamos entrando em mais um semestre repleto de novidades, diversidade, moda, arte e política: em setembro, começam os desfiles da temporada primavera/verão 2019. Ao mesmo tempo, lojas de todo o mundo recebem coleções de outono/inverno vistas nas passarelas ainda nos primeiros seis meses do ano. Entre mamilos expostos, tendências noventistas e, inclusive, o gótico romantizado, o que realmente dominou a última estação foram os tênis de luxo.

Gosto da proposta e sou adepta de calçados baixos ou com salto médio. No entanto, amo um belo salto alto e acho os scarpins insubstituíveis. São sexy, minimalistas e transformam qualquer produção. Pensando nos sneakers que têm aparecido como substitutos para o salto alto, relembro o valor da peça esteticamente símbolo de feminilidade e sensualidade.

Agulha, carretel, vírgula, cone e plataforma são apenas alguns dos modelos que existem há séculos. Essenciais desde os tempos dos cavaleiros persas, foram símbolo de status, inflaram o ego do rei da França e ajudaram a manter o mínimo de higiene durante a Idade Média.

Vem comigo saber mais!

 

Egito
Você sabia que o salto alto foi pensado inicialmente para os pés masculinos? Teve origem no antigo Egito, ainda em 3500 a.C. Há imagens em murais mostrando a nobreza com plataformas que serviam para distinguir entre as classes sociais, pois a plebe andava descalça.

Reprodução/All-that-is-interesting.com
Gravura egípcia ilustrando um pé calçado com salto

 

Reprodução/Linkedin
Sapatos do antigo Egito

 

Grécia
Durante a Antiguidade na Grécia e em Roma, o salto surgiu no teatro. No palco, atores usavam plataformas com base de quatro polegadas em madeira ou cortiça. A altura era proporcional ao status do personagem representado nos dramas e nas comédias. Mais tarde, por volta de 200 a.C., os romanos adotaram a ideia e chamaram os sapatos de kothorni.

Reprodução/Goodhousekeeping.com
Na Antiguidade, os atores na Grécia e em Roma usavam plataformas cuja altura indicava a classe social dos personagens representados

 

Idade Média
Durante a Idade Média e até meados de 1500, o salto foi grande aliado dos cavaleiros da Pérsia. A extremidade mais alta das botas ajudava os arqueiros a se equilibrarem para atirar flechas.

Quando os persas buscaram apoio na Europa contra o Império Otomano, no final do século 16, a novidade chegou à aristocracia ocidental.

Reprodução/The Bata Shoe Museum
Modelo que os persas usavam por volta de 1400 para atividades com cavalos

 

França
Não demorou para a moda do salto alto entrar na Europa. Catherine de Médici (1519–1589), esposa do rei Henrique II, foi uma das primeiras mulheres a apostarem na ideia, ainda no século 16.

No entanto, foi o rei Luís XIV (1643–1715), da França, quem lançou essa moda, cerca de 200 anos depois. Abusava do luxo, das perucas e, complexado por sua baixa estatura, de apenas 1,60cm, pensou na única forma de crescer: aumentar o salto dos sapatos. Denominou essa como nova regra de vestuário que, além da utilidade estética, distinguiria entre nobres e plebeus, pois apenas membros da sua corte tinham autorização para usar saltos como o dele.

Luís XIV investiu em versões quadradas de saltos em sapatos ornamentados por laços e fivelas. Sua marca registrada era o salto vermelho. Foi nessa época que a França, até então dominada pela Espanha, virou referência em moda na Europa, e o Palácio de Versailles se tornou palco de desfiles de nobres glamourosos.

Os homens da elite europeia, assim como os persas, usavam os sapatos também nos esportes a cavalo. Nesse período, o salto era um símbolo de virilidade, relacionado a práticas e atividades que cercavam o universo masculino. Por volta de 1730, tornou-se exclusividade feminina. Mas, hoje, essa questão de gênero é coisa do passado.

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Pintura de Catherine de Médice, uma das primeiras nobres a calçarem saltos ainda no século 16

 

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Luís XIV, da França

 

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Sapato de Luís XIV com o famoso salto vermelho

 

Outras funções
Os saltos altos eram mais que um símbolo de status. Entre 1400 e 1600, eram chamados de chopines, e sua principal função era proteger os pés da lama. Com anatomia bem estranha e salto de 45cm, o modelo de sapato virou moda entre as prostitutas, pois atraía olhares da população masculina. Já os açougueiros, por exemplo, usavam os calçados para não ficarem perto de todo aquele sangue no chão.

Foi a partir daí que o acessório se aproximou do universo feminino e tanto homens quanto mulheres circulavam com as plataformas. Elas foram se moldando e se distinguindo entre os gêneros. As damas usavam versões pontiagudas e finas, enquanto os cavalheiros adotavam peças mais grossas.

No século 19, com o surgimento da fotografia, as mulheres passaram a ser fotografadas nuas. Nos ensaios, usavam saltos para acentuar as curvas do corpo, e daí veio a conotação erótica em torno da peça – além da associação com as antigas prostitutas, que usufruíam e deram fama ao item.

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Exemplo de chopines, calçados muito usados pelas mulheres por volta de 1600

 

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A espessura era um dos diferenciais entre os saltos masculinos e femininos do século 18. Os masculinos costumavam ser mais largos e grossos

 

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O salto mais fino dava um toque elegante aos calçados femininos do século 18

 

Reprodução/Le Boudoir de Marie-Antoinette
Modelo dos sapatos típicos dos anos 1700

 

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Sapatos do século 18

 

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Nos anos 1800, o salto diminuiu e tornou-se mais discreto, antes de voltar finíssimo e alto no século seguinte

 

Reprodução/Etsy
Modelo de sapato dos anos 1800, mais clean e sutil que os do século anterior

 

Século 20
A primeira fábrica de sapatos de salto alto surgiu em Nova York em 1888 e trouxe o estilo francês para o continente americano, mas foi a virada para o século 20 que provocou grandes revoluções. Mulheres deixaram de lado as longas saias, passaram a exibir mais as pernas e conquistaram liberdade para usar o salto alto para ressaltar a sensualidade.

De início, as criações tinham salto menor, inspirado no estilo criado por Luís XIV, e ao longo do tempo foram ganhando medidas maiores. O salto tímido durou até os anos 1920, aparecendo, a partir de 1930, com modelos mais altos. Foi na década de 1940 que surgiu a plataforma, ou wedge heels.

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Um exemplo de sapato dos anos 1900 com solado e salto de madeira

 

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Sapato italiano dos anos 1930 com couro dourado. O modelo é superatual

 

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Sapato italiano ankle strap dos anos 1930. O salto tinha saído do tamanho médio e virado algo mais alto

 

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A estreia do wedge heels, ou salto plataforma, febre dos anos 1940

 

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Sapato italiano de meados dos anos 1940 com detalhes florais que agregam romantismo e delicadeza

 

Nos anos 1950, o mundo se reerguia após a guerra, e a moda viveu um período de ouro. Os sapatos passaram por um processo de mudança: pelas mãos do designer Roger Vivier, a Dior lançou os stilettos, um dos grandes marcos da história dos calçados femininos.

Marilyn Monroe foi uma das maiores fãs do salto fino. A novidade trazia metal – steel – no interior da estrutura, para evitar que quebrassem como aqueles feitos de madeira e outros materiais menos resistentes.

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Mulher nos anos 1950 segurando salto com a ponta de metal

 

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Anos 1950

 

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Anos 1950

 

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Marilyn Monroe em 1954. “Não sei quem inventou o salto alto, mas todas as mulheres devem muito a essa pessoa”

 

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Os modelos famosos da Dior foram lançados em 1953

 

Manifestações
Nem tudo são flores. Embora os saltos altos explorem toda a nossa feminilidade, eles não são tão confortáveis – e, em muitos momentos históricos, nós nos rebelamos contra eles. Durante o concurso Miss America em 1968, feministas protestaram com a Freedom Trash Can, ou Lixeira da Liberdade, livrando-se de peças e acessórios que consideravam torturantes: sutiãs e sapatos de salto.

Nos anos 1970, a era da música disco, novos manifestos aconteceram. Além disso, os saltos ficaram mais extravagantes e ganharam uma aparência descolada e irreverente.

A ousadia continuou na década seguinte, quando uma vibe mais rocker dominou os pés femininos. O stiletto teve uma forte retomada entre os anos 1980 e 1990. Mesmo assim, saltos baixos e médios estiveram em alta nas década de 1960 e 1990, e também nos dias de hoje.

Reprodução/Press of the Atlantic City Archives
Mulher jogando salto alto na Freedom Trash Can, em 1968, em protesto pela liberdade feminina

 

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A era da música disco agitou o mundo dos sapatos, que ficaram mais ousados e despretensiosos

 

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Nos anos 1990, as garotas costumavam usar sapatos baixos com fivela

 

Veja alguns modelos icônicos:

Louboutin 

O solado vermelho traz sensualidade e luxo aos sapatos de Christian Louboutin. Os calçados do francês são conhecidos pelo solado em vermelho vibrante. A ideia da cor surgiu enquanto o designer observava sua assistente pintar as unhas com a tonalidade. De lá para cá, viraram um símbolo de status e são, de certa forma, uma marca registrada da grife.

 

Reprodução/Louboutin

 

Armadillo 

O icônico sapato gigante usado por Lady Gaga no videoclipe Bad Romance, em 2009, é uma criação de Alexander McQueen. As três versões do calçado, compradas em leilão pela própria cantora, foram produzidas exclusivamente para arrecadar dinheiro em prol das vítimas de um terremoto ocorrido no Nepal em 2016

Reprodução/Alexander McQueen

 

Manolo Blahnik azul

Grande fã de sapatos Manolo Blahnik, a personagem Carrie Bradshaw, de Sex and The City, eternizou este modelo azul

Reprodução/Manolo Blahnik

 

Blue Leather Gillies

Outra maxiplataforma que deu o que falar são os Blue Leather Gillies. O modelo, by Vivienne Westwood, em couro azul, ficou conhecido por ser responsável pela queda de Naomi Campbell durante a temporada de desfiles em Paris no ano de 1993 (confira no vídeo abaixo)

Reprodução/Vivienne Westwood

 

 

Salto fantasma

O sapato de Victoria Beckham, com o denominado “salto fantasma”, chamou atenção em setembro de 2008, no lançamento das fragrâncias assinadas por ela e pelo marido Davida Beckham. Quem assinou o modelo preto sem haste da eterna Posh Spice foi Antonio Bernardi. A estilista e ex-cantora é conhecida como “rainha do salto alto”

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Há quem ame, quem odeie e, ainda, aqueles parcialmente favoráveis à praticidade e ao conforto de um sapato baixo. No entanto, love them or hate them, o salto alto acentua o nosso shape, traz feminilidade e, hoje, pode ser usado tanto de dia quanto de noite.

Aparece em produções com calças, saias, vestidos, biker shorts e até mesmo tracksuits, mostrando que, apesar da onda dos tênis de luxo, stilettos serão sempre curingas no closet de qualquer mulher.

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Colaborou Hebert Madeira

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