Primavera/verão 2021: saiba o que rolou no London Fashion Week virtual
Entre os destaques, estão as coleções das marcas Burberry, Halpern, Vivienne Westwood, Victoria Bekckham e Emilia Wickstead
atualizado
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Neste ano, em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, o London Fashion Week se tornou digital. A primeira iniciativa completamente on-line da semana de moda aconteceu em junho. Agora, em setembro, com a temporada de primavera/verão 2021, as apresentações digitais continuam. Entre os destaques da edição, estão os trabalhos das marcas Burberry, Halpern, Vivienne Westwood, Victoria Beckham e Emilia Wickstead.
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Atualmente, o evento é genderless, ou seja, não divide as coleções por gêneros feminino ou masculino. Com isso, as marcas podem optar por se apresentar em junho, quando antes acontecia o London Fashion Week Men, ou em setembro, mês anteriormente dedicado apenas às coleções femininas.
Para esta edição, foram previstos cerca de 50 shows digitais, 21 híbridos (físico-digitais) e sete transmissões ao vivo. As propostas englobaram formatos multimídia, misturando fotos, vídeos, e até curtas-metragens.
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Burberry
Não à toa, a apresentação da Burberry aconteceu ao ar livre, com live streaming pela plataforma Twitch. Ao fazer a abertura do London Fashion Week, a marca investiu em um desfile digital e sem plateia por causa da pandemia. Apesar das limitações, o show não deixou de ser interessante. A marca quis retratar “a beleza crua e o romance da natureza”, inspirações de Riccardo Tisci para a coleção de spring/summer 2021.
Com performance desenvolvida por Anne Imhof, os modelos andaram por uma floresta, no interior da Inglaterra, para revelar os looks. A pegada misteriosa e bucólica ficou evidente. Fantasia, arte e elementos da fauna se misturaram.
Nos visuais, os clássicos tons terrosos da Burberry se misturam com nuances vibrantes de azul. O verde também foi uma das tonalidades protagonistas. O famoso trench coat, peça clássica da etiqueta, apareceu em variadas texturas, incluindo a rigidez do vinil e a pegada descolada de retalhos em jeans.
Jaquetas estruturadas, vestidos de silhueta marcada e botas over the knee chamaram atenção. Vale reparar ainda nos cristais bordados, que deram o toque final em algumas composições. Nas estampas, Tisci apostou em uma estética lúdica.
Antes da apresentação, Erykah Badu, Rosalía, Steve Lacy e Bella Hadid participaram de uma conversa, transmitida virtualmente, a convite da Burberry. A label britânica também divulgou um curta-metragem com a artista Eliza Douglas. A pintora e cantora fez um show com as músicas Half Of Freud’s Books e DNA.
O filme foi dirigido por Partel Oliva, parceria criativa de Lola Raban-Oliva e JR Etienne. De acordo com a Burberry, a ideia é “capturar a majestade do mundo natural e os grandes espaços ao ar livre”. Conceitual e profundo!
Halpern
A primavera/verão 2021 da Halpern está recheada com o escapismo alegre e otimista que o momento pede. O nova-iorquino Michael Halpern explora sua extravagância característica em 19 looks que reúnem detalhes como estampa maxi poá, plumas, mangas bufantes e animal print. As modelagens são festivas e tridimensionais, enquanto outras peças trazem o tweed como elemento central. Alguns conjuntinhos de camisa e calças formam pijamas. Tudo foi construído com silhuetas e técnicas da alta-costura.
Ao WWD, o estilista contou que a coleção foi toda montada com encontros individuais. Para apresentá-la, além de um lookbook, ele criou um filme de cinco minutos com depoimentos de oito profissionais que atuaram em serviços essenciais durante a pandemia. A coleção inteira é dedicada às “heroínas da linha de frente”, como o próprio Halpern as descreve. Vale destacar que o designer atuou como colaborador em uma fábrica improvisada de equipamentos de proteção individual, em Londres.
“Parecia antiquado fazer um desfile agora. Tivemos a oportunidade de fazer uma coleção e mostrar nosso apoio a essas trabalhadoras da linha de frente, dando-as um ótimo dia, para se arrumarem e fazerem o cabelo e a maquiagem. O conceito não era uma grande ideia, apenas fazia sentido”, contou ele em entrevista à Vogue norte-americana.
O vídeo traz oito mulheres que atuaram em serviços públicos, como Transport for London, National Health Service e Home Care Plus, o que inclui funcionária de serviços de limpeza, operadora de trem, ginecologista obstetra, dentre outras profissionais. Cada uma delas inspirou dois looks.
“Eu não projetei esta coleção com coquetéis ou salões de baile em mente, mas puramente do desejo de capturar, na costura, a individualidade encarnada pelo savoir-faire e a alegria que ela traz para quem a veste”, afirma o estilista no comunicado à imprensa.
Vivienne Westwood
Vivienne Westwood reforça seu compromisso com a irreverência e a sustentabilidade em sua primavera/verão 2021. A partir de agora, a dama da moda britânica afirmou que quer lançar apenas uma coleção por ano, com peças agênero.
Neste trabalho mais recente, é possível notar uma subversão entre masculino e feminino e das normas de vestimenta. “Vista-se para a hora do dia, ou não vista-se para a hora do dia – vista a sua roupa de noite para o escritório se voltar ao trabalho, misture as estações”, incentiva a estilista nas notas oficiais sobre a coleção.
Sempre flertando com a pegada punk que a consagrou, Westwood traz alfaiataria xadrez, listras e pinturas de Chrissie Hynde, vocalista da banda The Pretenders, na forma de estampas vívidas. Aí vai um detalhe curioso: como “pagamento” pelas artes, a estilista fez uma doação à fazenda de Hynde, Ahimsa Milk, que trabalha com a ordenha de vacas sem o abate dos animais.
Voltando às peças, o compilado traz vestidos e conjuntos com designs despojados, espartilhos e calças de cintura alta. Em alguns visuais, como nas blusas combinadas apenas com uma calcinha (ou cueca), o styling parece fazer uma referência à tendência de se vestir de um jeito mais elaborado apenas da cintura para cima, popularizada na quarentena. Os tecidos são ecológicos: algodão, linho, poliéster reciclado, seda, entre outros.
Camisetas e máscaras exibem a expressão “True Punk” (punk verdadeiro, em inglês), enquanto o vídeo que apresenta a coleção exibe cenas de um protesto com modelos vestindo as peças da coleção. Segundo a Vogue Runway, parte das cenas foram capturadas no lado de fora do tribunal inglês Old Bailey, em meio a manifestações contra a extradição de Julian Assange, fundador do Wikileaks, para os Estados Unidos.
Filmado por Louis Simonon, o vídeo tem um poema de Brian Nasty recitado pelo próprio autor, no início, e traz alguns artistas no elenco: as vocalistas Ursula e Delilah Holliday, da banda Skinny Girl Diet, a artista circense Dott Cotton Clown, a poeta e ativista Kai Isaiah Jamal, entre outros nomes. Eles também aparecem modelando no lookbook.
Victoria Beckham
O spring/summer 2021 de Victoria Beckham tem foco na liberdade. Em nota, a estilista explicou que o trabalho está “enraizado na realidade”. O objetivo foi mirar em um presente e um futuro mais ousado, mas sem perder das origens.
A britânica mantém a elegância presente no DNA da grife, mas atinge um ponto de rebeldia e despreocupação. A alfaiataria setentista ganha uma dose de sensualidade e até um toque boho. Uma pegada com mais simplicidade, que tem tudo a ver com o atual momento, também foi uma prioridade.
Lingeries aparecem como detalhes nas composições, assim como recortes estratégicos. Na paleta, tons fechados e neutros predominaram em meio a leves nuances mais enérgicas. Para dar o toque final nos looks, acessórios chamativos. Destaque para as correntes grossas.
Atualmente, Victoria Beckham enfrenta uma situação financeira desafiadora. Recentemente, a marca teve a equipe reduzida e lidou com quedas nas vendas. Com isso, a estilista britânica também reduziu o número de looks das coleções. Na primavera/verão 2021, a diminuição foi de 45 looks típicos para 20.
Ainda devido à pandemia, somente quatro modelos participaram da apresentação, que foi revelada via curta-metragem gravado na galeria de arte contemporânea Victoria Miro. “Não estávamos em posição de ter 10 histórias de moda e reduzi-las a uma ou duas. Tínhamos que ser muito focados e estratégicos”, destacou a diretora criativa à Vogue Runway.
Emilia Wickstead
Práticas, reais e adequadas para o período de pandemia. Assim são as peças de Emilia Wickstead para a primavera/verão 2021, que começou a ser desenvolvida durante o período de bloqueio. De fato, todas elas podem se adequar em compromissos simples neste momento, que dispensa festas e aglomerações.
A principal inspiração para o trabalho primaveril vem do livro de não ficção Faery Lands of the South Seas (1921), escrito por James Norman Hall e Charles Bernard Nordhoff. A obra narra as próprias perspectivas dos autores ao visitarem lugares como a Nova Zelândia, país de origem de Wickstead. “Quero educar meus clientes sobre como manter viva a fantasia da moda e não perder o sonho. Mas, ao mesmo tempo, todos nós passamos por um grande trauma e devemos nos vestir para o nosso tempo”, contou a designer ao WWD.
A coleção abre com peças clean nas cores preta ou branca, antes de mergulhar em estampas de veleiros, que surgem em tops, saias e vestidos. Outra cor que chama atenção é um tom sóbrio de vermelho, que dá vida a chemise, vestido com capa, entre outros estilos. Os vestidos com decote em V também são highlights na coleção, assim como os top croppeds que resgatam a tendência underboob, ao expor a parte de baixo do sutiã.
Tons suaves de azul, bege, rosa e amarelo também surgem na coleção, que explora capas com camadas de tecido sobre os ombros e dá espaço para uma estampa floral. As saias, de maneira geral, têm comprimento midi e cintura alta. O resultado de tudo isso é uma coleção que carrega um ar de romance, simplicidade e elegância. Para apresentá-la, a designer recorreu a um fashion film, assinado por Robin Mellor, que acompanha o tom minimalista do lookbook.
O LFW começou na última quinta-feira (17/9). Nesta terça-feira (22/9), último dia de programação, estão previstas as apresentações de marcas como Susan Fang, Constança Entrudo, Pronounce, David Koma, Richard Quinn e Erdem.
Colaboraram Rebeca Ligabue e Hebert Madeira