Poderiam Lady Gaga e Nicola Formichetti manter o fetichismo em alta?
Estética desenvolvida pelo stylist da cantora para seu novo CD pode fazer a maior tendência do outono/inverno 2020 sobreviver ao isolamento
atualizado
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Antes de enfrentarmos a atual crise global imposta na população pelo risco de contaminação com o novo coronavirus, desfiles vistos nas semanas de moda de outono/inverno 2020 apostavam no fetichismo como a grande tendência da temporada. No entanto, o isolamento social tem ressignificado a definição de estilo e investimos cada vez mais em roupas práticas e confortáveis, gerando dúvidas a respeito do que esperar no nível fashion. Falar sobre tendências se tornou secundário e o futuro das peças de couro e látex era incerto, pelo menos até agora.
Na última sexta-feira (29/05), a atriz, cantora e compositora Lady Gaga disponibilizou o álbum Chromatica nas plataformas digitais com inspirações cyberpunk, consagrando a estética BDSM como uma importante aliada para recuperar sua força no mercado. Vem comigo entender como o novo CD da estrela norte-americana pode impactar a moda!
Após a turnê do polêmico álbum Artpop, em 2014, Lady Gaga se distanciou das produções extravagantes que a consagraram para explorar um lado mais sóbrio de seu estilo. Ao lançar um álbum de jazz ao lado de Tony Bennett e invadir os tapetes vermelhos por meio do sucesso de suas atuações na tevê e no cinema, a cantora passou a apostar em visuais mais clássicos e polidos.
A nova imagem agradou a mídia especializada, mas os fãs da artista, seduzidos pela proposta “mãe monstra” vendida no início de sua carreira, clamavam pelo retorno às origens. Em Enigma, sua residência em Las Vegas, a norte-americana já havia ensaiado um regresso à estética over, porém, os littles monsters, como se intitulam os amantes da intérprete, precisavam de mais.
Quando Lady Gaga decidiu lançar um novo CD no mercado, ela sabia que precisava entregar um de seus mirabolantes conceitos. Então, o mood espacial, já trabalhado nos shows de Vegas, evoluiu para um contexto mais abrangente: um mundo distópico foi criado para a estrela, mais uma vez, extrapolar os limites de estilo.
Previsto para abril e adiado para maio, por conta da pandemia, o álbum Chromatica trouxe de volta tudo o que a norte-americana representava no início de sua carreira: exagero, coragem e drama. Porém, para compor a estética da nova era, a receita ganhou referências fetichistas que prometem dar uma nova chance à maior tendência do outono/inverno 2020.
Ao lado das referências extraterrestres, as meias-arrastão, harnesses e peças de couro compõem uma espécie de dominatrix extraterrestre que não deixaria Barbarella a desejar. E tudo faz ainda mais sentido quando as canções repletas de batidas noventistas do compilado musical se misturam aos visuais.
Nicola Formichetti, stylist que acompanha a artista desde os primeiros passos de sua carreira, explicou à Vogue que imagem adotada pela cantora não é utópica ou distópica. “É como ela vê o mundo. É muito otimista, mas é realista em sua mensagem. Ela fala sobre muitas coisas profundamente pessoais. Portanto, existe essa interação de claro e escuro. Precisávamos abraçar o passado para mostrar que Gaga está a caminho da cura”, comentou.
O retorno às raízes desenvolvido pela dupla é visto desde a arte do álbum. Logo na capa, assinada por Norbert Schoerner, fotógrafo alemão que fazia as campanhas da Prada nos anos 1990, a antiga Gaga pode ser vista por meio dos saltos impraticáveis, spikes e muito couro.
“É quase um retrato de sua jornada. Você notará que ela não pode se mexer. Ela está ligada à essa moda. Mas isso não é uma coisa ruim. É sobre onde ela começou e até onde ela chegou”, explicou Formichetti.
Para o clipe do primeiro single do álbum, Stupid Love, Gaga se inspirou no clássico Mad Max para idealizar as tribos distópicas que compõe o vídeo, incluindo elementos fetichistas que podem ter passado despercebidos por conta do colorido da produção. Todavia, em Rain On Me, sua parceria com cantora Ariana Grande, a norte-americana deixou arreios e bodies de látex bem evidentes.
“Gaga queria voltar às raízes e queríamos mostrar isso, também, por meio da moda. Porém, antes costumávamos escondê-la. Ela era esse mistério, com perucas, óculos escuros e maquiagem. Ela era um enigma. Ainda temos esse mistério, é claro, mas ela é muito mais presente, porque agora você vê mais de seu rosto, sua pele”, comparou Nicola.
Após o distanciamento, o stylist acredita que estética do Chromatica continuará a evoluir. A aguardada parceria com o quarteto sul-coreano Blackpink, Sour Candy, deve ganhar um videoclipe assim que for possível gravá-lo. “Somos todos punks aqui, então, todos queremos ir contra as regras sempre que pudermos. Há muitas partes nisso que ainda não exploramos. A Chromatica é grande”, adiantou.
O sucesso dos novos lançamentos de Gaga devem continuar a garantir a difusão do fetichismo nos próximos meses. Stupid Love estreou no 5º lugar na parada Billboard Hot 100, enquanto Rain on Me pode chegar no ranking em primeiro lugar na próxima semana. A colaboração com Ariana faturou o topo da lista global do Spotify, com 6,7 milhões de transmissões em um único dia.
Sour Candy, parceria com o Blackpink, já chegou em sexto lugar na plataforma de streaming, sendo a maior estreia de um grupo feminino no software, de acordo com o Chart Data. Na quinta-feira (28/05), a música também alcançou a primeira posição no iTunes em 52 países, ao passo que no Youtube a canção acumulou 21,8 milhões de visualizações nas primeiras 24 horas, sendo a melhor estreia de uma colaboração exclusivamente feminina no site.
Colaborou Danillo Costa