O que esperar da parceria entre Raf Simons e Miuccia na Prada?
Anunciado como codiretor criativo da grife no último domingo (23/02/2020), estilista belga deve rejuvenescer a imagem da casa italiana
atualizado
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Desde o início deste ano, especula-se a volta de Raf Simons ao grupo Prada. Ele liderou a Jil Sander enquanto a grife pertencia ao conglomerado e chegou a ser cogitado como o novo comandante da Miu Miu, outra marca da empresa italiana. Porém, no último domingo (23/02/2020), semanas após especialistas identificarem alguns de seus traços na mais recente coleção masculina da Prada, foi confirmado que o belga coordenará as criações da casa ao lado de Miuccia. A notícia deixou os fãs da moda polvorosos, mas será que essa parceria vai dar certo?
Vem comigo que eu te conto!
Embora as suposições em torno da contratação de Simons fossem recorrentes nos últimos meses, o anúncio pegou a indústria têxtil de surpresa, afinal, o belga é o primeiro designer de fora a ingressar na Prada. Além disso, Miuccia, a atual diretora criativa da grife e neta do fundador da casa italiana, é conhecida por ser resistente a colaborações, tendo sido julgada por isso algumas vezes em sua carreira.
Na coletiva em que a novidade foi divulgada, a marca afirmou que a primeira coleção sob a colaboração de Raf e Prada será apresentada em setembro, na temporada de primavera/verão 2021. O estilista inicia suas atividades no começo de abril, se dividindo entre a Antuérpia, onde fica o ateliê de sua linha masculina homônima, e a sede da casa italiana, em Milão.
A dupla compartilhará todas as responsabilidades e tomadas de decisões referentes à direção criativa. “Quando nós dois acreditarmos em uma ideia, colocaremos em prática. Se alguém não acreditar, não faremos”, explicou Simons, na coletiva, enquanto Miuccia enfatizou a boa relação entre os dois.
“Nós gostamos um do outro, respeitamos um ao outro. Fui criticada por não fazer colaborações. Agora, apresento uma a vocês”, disse a estilista de 70 anos, que rebateu as teorias relacionadas a sua aposentadoria. “Absolutamente não. Gosto de trabalhar e estou muito animada com os novos ventos que isso trará. Por favor, não me faça mais velha do que sou”, disse, em tom de brincadeira.
Em um comunicado emitido à imprensa, a label definiu a colaboração como uma vontade de ultrapassar fronteiras e experimentar. “Se a noção de uma parceria é trabalhar em conjunto, o resultado dessa conversa pode não ser apenas um produto, mas a propagação de um pensamento e uma cultura”, destacou o texto.
De fato, o duo compartilha a capacidade de criticar aspectos sociopolíticos e artísticos em tom descontraído. Projetar roupas bonitas em prol da estética não faz o perfil de nenhum dos dois. Contudo, falamos de pessoas que seguiram vivências completamente distintas.
Simons, de 52 anos, iniciou sua carreira como designer de móveis e é regularmente inspirado na cena noturna e no streetwear. Desde que fundou sua label homônima, em 1995, se mostrou versátil, tendo trabalhado como diretor criativo de Jil Sander, Christian Dior e Calvin Klein.
Enquanto isso, Prada nasceu em Milão, fez doutorado em ciências políticas nos anos 1970 e atuou no partido comunista italiano e nos grupos de direitos das mulheres. Quando chegou ao negócio de sua família, em 1978, transformou o feminismo em uma das características da marca, sendo conhecida pela excentricidade e elegância.
Raf e Miuccia se conhecem desde 2005, quando o belga foi nomeado diretor criativo de Jil Sander. Desde então, ele surgiu em diversos eventos e desfiles da companhia, se tornando amigo pessoal de sua nova parceira.
“A Prada é uma marca pela qual fui interessado minha vida inteira. Mal posso esperar para expressar todo o diálogo que terei com a sra. Prada e sua equipe”, disse o estilista durante a coletiva de imprensa, revelando que a label o procurou logo após sua saída da Calvin Klein, em 2018.
Há três anos e meio, a dupla se reuniu para um especial da revista System. Na época, a conexão entre eles era notável, com direito a um prelúdio do que vemos hoje proferido pela boca de Miuccia. “Se eu pudesse fazer um show com ele, imagine o quanto nos divertiríamos”, declarou.
No domingo, durante o anúncio, tal alegria não soou tão sincera. À medida que Prada se limitou a dizer que não sabia onde chegaria, o novo companheiro foi responsável por fazer a mídia acreditar que o resultado da colaboração será satisfatório.
“Neste momento, muitos diretores criativos se sentem incomodados, sentem que a indústria da moda está virando as costas para nós. A gente acredita que esta colaboração pode mudar esse aspecto”, disse o belga no encontro com a mídia especializada.
Ainda no diálogo da revista System, Prada afirmou que toma muitas de suas decisões em cima da hora. Seu colega prefere seguir os planos feitos no início de seus projetos. Eles, no entanto, compartilham as frustrações com a indústria têxtil, e é aí que, acho, que as coisas podem ficar emocionantes.
Em ambos os casos, os estilistas foram responsáveis por alguns dos desfiles mais marcantes da história, sendo referências globais de estilo e criatividade. Eles sobreviveram aos mais diversos percalços em suas carreiras e agora unem suas forças para reinventar não só a Prada, mas o rumo do universo fashion. “Em teoria, é para sempre”, concluiu Miuccia, nos dando a certeza de que a revolução chegou para ficar.
Enquanto o primeiro trabalho da dupla não chega às passarelas, confira o último desfile da Prada assinado apenas por Miuccia, na Semana de Moda de Milão:
Colaborou Danillo Costa