O “couro vegano” do momento é feito de cactos! Conheça o Desserto
Ecológico e durável, o material desenvolvido no México por dois empresários promete ser uma alternativa para a indústria da moda
atualizado
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A indústria do couro animal é conhecida por ser uma grande poluente. As alternativas sintéticas, geralmente feitas de material plástico, liberam microplásticos quando desgastam. Por isso, opções feitas à base de plantas têm dado novas possibilidades ao mercado. Uma delas é o Desserto, imitação de couro feita a partir de cactos e produzida no México. Desenvolvida pelos jovens empresários Adrián López e Marte Cázarez, a novidade é parcialmente biodegradável, respirável e dura ao menos 10 anos.
Vem comigo conferir!
Batizado de Desserto, o projeto utiliza como matéria-prima o nopal, uma espécie de cacto achatado, de formato ovalado e bem conhecido no México, onde existe em abundância. A planta não precisa ser irrigada nem exige cuidados durante o crescimento. Até chegar ao produto atual, os empresários, ambos de 27 anos, passaram dois anos realizando testes com o vegetal. Tecnologias de outros países, como as imitações de couro à base de casca de maçã e folhas de abacaxi, serviram de referência.
A dupla trabalhou para manter a qualidade técnica e ainda assim oferecer uma alternativa cruelty-free, sem produtos químicos tóxicos ou PVC. “Nosso couro vegano de cacto é projetado e desenvolvido com intuito de atender aos padrões mais rigorosos da aeronáutica e até da indústria da moda”, define o site oficial do projeto. Pelo fato de ser “respirável”, devido à composição orgânica, assemelha-se ao produto de origem animal.
O resultado final é produzido à base de nopal e algodão, com diferentes opções de espessura. Cada metro custa cerca de US$ 25. No início de outubro, os empreendedores levaram a novidade a uma exposição de couros e acessórios de Milão, a Feira Internacional do Couro Lineapelle.
Duas experiências e um desejo em comum fizeram Adrián e Marte unirem forças neste projeto. Um atuava na indústria de móveis e depois na automotiva, enquanto outro trabalhava com moda, mas ambos se preocupavam com a poluição do meio ambiente. “Estávamos genuinamente interessados em reduzir o impacto ambiental, por isso decidimos deixar nossos empregos e iniciar a Adriano Di Marti, uma empresa focada no desenvolvimento do Desserto”, disse Adrián ao Fashion United.
Na entrevista, ele revelou também que a empresa cultiva dois hectares de nopals, com potencial de expansão para mais 40. A capacidade de produção é de 500 mil metros lineares mensais. O cultivo, por sua vez, gera trabalho e renda para os agricultores locais. Na indústria da beleza, o nopal é utilizado para produzir xampus e cremes.
Entre todos os produtos apresentados na Lineapelle, um especialista da feira destacou o Desserto como a opção mais adequada para o mercado de luxo, graças a detalhes como suavidade, elasticidade e cor. A propósito, o material fez sucesso entre designers e representantes da indústria. Contudo, Adrián informa que a pesquisa e o desenvolvimento ainda não foram finalizados, apesar de já terem projetos encaminhados em diferentes setores. Será que veremos, em breve, alguma it bag feita com “couro de cacto”?
Se o material for incorporado às principais linhas de produção das marcas, o executivo prevê uma economia de 20% de água, além da diminuição de 32% a 42% no desperdício de plástico. Segundo ele, a quantidade de água utilizada atualmente pela indústria fashion encheria quase 32 milhões de piscinas olímpicas.
“É o momento certo para oferecer essa alternativa, porque não apenas as indústrias de consumo estão interessadas em novos materiais como esses mas também cada vez mais consumidores finais estão exigindo materiais ecológicos”, completou Adrián ao Fashion United.
Com a experiência da feira, a dupla concluiu que o mercado europeu já está pronto para incorporar a alternativa sustentável a seus produtos. No entanto, o acesso de pequenos e médios produtores ainda é uma barreira, já que as compras de quantidades mínimas podem ser uma dificuldade. Felizmente, a empresa tem trabalhado com fornecedores para facilitar o acesso ao material.
Para Adrián, a indústria da moda tem uma carta na manga quando o assunto é trazer mudanças nas formas de consumo: a criatividade. “Com o apoio de tecnologias e inovações, a moda tem talento, redes, financiamento e todos os recursos necessários para a transformação”, acrescentou. Vale lembrar que, no Brasil, é proibido por lei comercializar produtos com a palavra “couro” se estes não forem obtidos exclusivamente da pele animal.
Alternativas sustentáveis já são uma demanda do consumidor final. Em estudo divulgado recentemente, a plataforma Lyst revelou que as procuras de palavras-chave relacionadas ao tema aumentaram 75% neste ano; sem falar nas buscas por materiais específicos, como econyl e algodão orgânico.
Colaborou Hebert Madeira