Modelos pedem atitude da Victoria’s Secret contra casos de assédio
Um dos acusados, Jeffrey Epstein estava preso e foi encontrado morto nesse sábado (10/08/2019)
atualizado
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O momento não é dos melhores para a Victoria’s Secret. Depois de enfrentar uma crise econômica e diversas críticas sobre falta de diversidade, no último capítulo da polêmica, mais de 100 modelos assinaram uma carta aberta direcionada ao CEO da marca, John Mehas. O texto pede posicionamento e proteção às profissionais, conhecidas como angels, contra casos de assédio e abuso sexual.
Além disso, neste sábado (10/08/2019), um dos acusados, o empresário Jeffrey Epstein, foi encontrado morto na cela em que estava preso, em Manhattan, nos Estados Unidos. Apesar de não trabalhar para a Victoria’s Secret, ele era suspeito de aliciar garotas, alegando ser um recrutador da grife. Também tinha uma relação próxima com os dirigentes do grupo L Brands, controlador da etiqueta de lingerie.
A carta aberta foi escrita pela Model Alliance, organização sem fins lucrativos que atua em prol de melhorias na indústria da moda. Também assinado pelo movimento Time’s Up, o documento exige que a Victoria’s Secret se posicione contra casos recentes de “assédio sexual, estupro e tráfico de modelos” envolvendo empresários, fotógrafos e produtores.
Entre as modelos que participaram da manifestação, estão Edie Campbell, Christy Turlington, Doutzen Kroes e Iskra Lawrence.
“É profundamente perturbador que esses homens parecem ter alavancado suas relações de trabalho com a Victoria’s Secret para atrair e abusar de garotas vulneráveis”, pondera a petição on-line. “Nós estamos ao lado das mulheres corajosas que se apresentaram e compartilharam suas histórias apesar do medo de retaliação ou dano às suas carreiras”, completa o texto.
O comunicado cobra que a Victoria’s Secret faça parte do programa RESPECT, da Model Alliance. As empresas da iniciativa precisam seguir um rigoroso código de conduta, que inclui ações e treinamento contra assédio sexual. Elas também se comprometem a criar um ambiente acolhedor e aberto a qualquer tipo de denúncia.
Uma das reivindicações é a de que a grife use a credibilidade e a fama que conquistou para combater problemas graves no mercado. “A Victoria’s Secret tem a oportunidade de ser uma líder, de usar seu poder e influência para trazer mudanças urgentes e necessárias ao nosso setor”, conclui.
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A carta lembra que há denúncias recorrentes de assédio e má conduta ligadas a homens contratados ou não pela Victoria’s Secret. Entre os nomes destacados, estão Timur Emek, David Bellemere e Greg Kadel.
Também citado, o empresário Jeffrey Epstein era acusado de tráfico sexual de menores e de conspiração criminosa. À espera do julgamento, ele estava preso nos Estados Unidos. Porém, foi encontrado morto na cela da prisão.
Entenda toda a polêmica
Desde 1995, quando a Victoria’s Secret começou a realizar o famoso fashion show anual, tornar-se uma angel era o sonho de milhares de jovens pelo mundo. Transmitido na televisão, o evento reunia performances musicais e um casting seleto para apresentar a nova coleção. Fazer parte do time de top models da marca era considerado status.
A grife consagrou modelos renomadas, como Gisele Bündchen, Karlie Kloss, Elsa Hosk, Adriana Lima e Alessandra Ambrosio. Atualmente, a única brasileira que faz parte do elenco é Lais Ribeiro.
As passarelas da Victoria’s Secret sempre foram formadas por profissionais extremamente magras e dentro dos padrões de beleza. No entanto, desde o auge da grife até os dias de hoje, o mundo da moda passou por mudanças significativas.
Em geral, as labels entenderam a necessidade de mais diversidade. Relutante, durante todos esses anos a VS ignorou os pedidos do público por mais representatividade e consciência. Como consequência, acabou ficando obsoleta.
Não bastasse a falta de inclusão, o então diretor de marketing da empresa, Ed Razek, não media palavras e fazia comentários considerados preconceituosos. No ano passado, ao ser questionado sobre a possibilidade de selecionar modelos plus size e transgêneros, ele não pensou duas vezes. “Não acho que teremos esse tipo de modelo, porque esse show é uma fantasia. São 42 minutos de entretenimento”, afirmou em entrevista à Vogue.
Com a repercussão negativa da fala nas redes sociais, o executivo tentou se retratar. Contudo, é inegável que, durante anos, Ed Razek foi um dos responsáveis pela insistência da label em não selecionar um elenco mais variado. Ele era a favor da continuidade de uma imagem sexualizada e estereotipada das angels.
Neste mês, a primeira modelo transexual foi contratada pela Victoria’s Secret: a brasileira Valentina Sampaio. Não demorou para que houvesse uma reação: Razek se desligou da empresa. Meses antes, Jan Singer, o então executivo-chefe da companhia, tinha pedido demissão.
Ainda em maio, o presidente executivo da L Brands anunciou que o Victoria’s Secret Fashion Show não iria ao ar na televisão. Após alguns meses, a modelo Shanina Shaik confirmou que a atração havia sido cancelada.
Tudo isso depois de passar por uma queda considerável de vendas em 2018 e fechar dezenas de lojas, além de perder 1,7 milhão de espectadores na última transmissão do desfile anual.
Agora, o destino da grife é incerto. Com tantas polêmicas, não resta dúvidas de que a label precisa de uma reestruturação urgente, ou estará fadada definitivamente ao fracasso.
Colaborou Rebeca Ligabue