Liocel: tudo sobre o tecido sustentável que substituirá a viscose
Fibra vegetal criada a partir da celulose usa pouca água em sua produção e, por não absorver odores com facilidade, exige menos lavagens
atualizado
Compartilhar notícia
Produzido comercialmente há 30 anos, o liocel é o tecido da vez. Seu aspecto sustentável, atrelado à maciez e ao brilho de sua superfície, tem conquistado cada vez mais marcas, incluindo as gigantes do fast fashion, como Zara e H&M. Entre os estilistas, o material é considerado uma solução milagrosa para os problemas relacionados à produção de algodão, mas seria o pano algo realmente positivo para o meio ambiente?
Vem comigo saber a resposta!
Ele está em todos os lugares, das grifes de luxo às produções voltadas ao street style. Seu visual cintilante, toque suave e caimento leve tem feito sucesso entre as fashionistas internacionais.
No Brasil, sua presença é cada vez mais comum nas araras de lojas como Renner, Riachuelo e Hering. Mas, ao se deparar com o termo liocel na composição de um produto, você sabe do que se trata?
Tudo começa com a madeira que origina a matéria-prima. Embora árvores como carvalho e bétula possam ser usadas para produzir o liocel, é o eucalipto que costuma ser a principal fonte do tecido.
Depois de colhidas, as aparas são cortadas em pedaços do tamanho de uma moeda, para depois serem moídas e dissolvidas em óxido de amina. O que resta do processo químico é celulose crua, uma espécie de líquido viscoso e pegajoso.
Após este processo, a substância é transformada em fibras brancas e brilhantes, que, depois de lavadas e secas, são tramadas em formato de pano. O resultado final pode ter muitas texturas diferentes, mas o aspecto tátil do tecido sempre será macio, sedoso e leve.
A esta altura, com tais características, você já foi seduzida pelo liocel. Os benefícios do material, no entanto, vão muito além disso. Ele é hipoalergênico e absorve 50% mais suor que o algodão comum, sendo uma ótima base para roupas voltadas às atividades físicas e profissionais.
“Suavidade, maciez e gerenciamento de umidade são as três principais vantagens que o liocel oferece em comparação com outras fibras naturais”, diz Robert van de Kerkhof, diretor comercial da maior produtora de liocel do mundo, ao The Guardian.
Por ser proveniente do eucalipto, a matéria-prima também se destaca no quesito sustentável. A árvore da família Myrtaceae cresce rapidamente, sem irrigação e sem necessidade de pesticidas, em terras que não são mais adequadas para alimentação.
A produção do tecido não usa produtos tóxicos e 99,5% do agente dissolvente pode ser usado repetidamente.
O material usa apenas 50% da água necessária para produzir algodão e, por respirar melhor, pega odores com menos facilidade, demandando menos lavagens. No entanto, é importante observar que tipo de energia foi usada para fabricar o pano.
A professora Susanne Sweet, gerente de pesquisa do programa Mistra Future Fashion, da Suécia, afirma que nem tudo sobre o liocel é ambientalmente correto. “Um dos principais impactos na produção de liocel é o uso de energia. Se no processo de produção forem usados combustíveis fósseis, como o carvão, não adiantará muita coisa. É importante entender o sistema e não apenas o material “, adverte a docente à publicação britânica.
Assim como qualquer material, o liocel tem diferenças de nomenclatura, que variam de acordo com o fabricante do produto. O Tencel, por exemplo, é nome dado ao tecido fabricado pela Lenzing AG. Contudo, para não errar, a dica é ficar atento à terminação cel, que indica que o tecido é feito de celulose.
Tendo a durabilidade como uma de suas principais características, o material vem sendo amplamente utilizado pelas marcas de slow fashion. Amy Powney, dona da etiqueta britânica Mother of Pearl, gosta de usá-lo em vestidos casuais e camisas, pois, segundo ela, o pano resiste a qualquer mala. “É só enrolar e jogar”, garante.
Stephan Hohmann, CEO da Hanro, vê o liocel como a nova viscose. Para ele, não vai demorar até que o tecido sintético feito com árvores resinosas seja substituído por sua versão sustentável. O algodão, no entanto, ainda não é ameaçado pela “solução milagrosa”, pois seu conforto ainda é superior.
“O foco agora é misturar o liocel a outras fibras, porque ele lida bem com algodão, poliéster e até seda, adicionando ainda mais brilho a estes materiais. O algodão é maravilhoso, mas tem um enorme impacto ambiental. Então, seria interessante ter uma opção para substituí-lo” diz Sweet.
É importante frisar que o eucalipto é um ponto de discórdia entre ambientalistas. Por ser uma árvore que reduz a biodiversidade ao seu redor, funcionando como um competidor interespecífico, ele disputa recursos com outras espécies de plantas, levando-as à morte.
O ideal é que o eucalipto seja produzido em um sistema de monocultura, ou seja, grandes terrenos cultivados apenas com árvores da mesma espécie.
Colaborou Danillo Costa