Jean Paul Gaultier se despede das passarelas com show histórico
Ao lado de grandes ícones da moda, estilista fechou a Semana de Alta-costura com espetáculo homérico que relembrou seus 50 anos de carreira
atualizado
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Ao anunciar que se aposentaria das passarelas após seu desfile na Semana de Alta-Costura de primavera/verão 2020, Jean Paul Gaultier pegou todos de surpresa. A apresentação, aguardada por marcar os 50 anos de carreira do francês, passou a ser encarada como uma ocasião histórica, mas, ainda assim, ninguém estava preparado para o espetáculo de grandes proporções exibido nessa quarta-feira (22/01/2020), no Teatro Châtelet, em Paris.
Vem comigo conferir o desfile do ano!
A despedida de Gaultier começou com um pequeno vídeo que retratava um velório. O curta, exibido em um telão ao fundo da passarela, foi transferido para o palco, onde o caixão visto nas imagens surgiu carregado por seis dançarinos, entre dezenas de viúvas.
Em meio à cenografia, um refletor revelou o cantor Boy George, que entoou a música Back to Black, de Amy Winehouse. Ao fim da canção, a urna, protagonista do primeiro ato da apresentação, abriu e mostrando o primeiro das centenas de looks vistos ao longo dos 70 minutos de show.
Ao som de Madonna, uma das musas inspiradoras de Jean Paul Gaultier, uma série de visuais all-white tomou a passarela, iniciando a retrospectiva da icônica carreira do designer francês. Os tons pálidos logo deram lugar à alfaiataria, aqui exibida fora dos corpos dos modelos.
Enquanto silhuetas construídas com gravatas davam novas possibilidades ao acessório masculino, a cantora B. Demi-Mondaine, ex-participante do The Voice França, adentrou o palco para interpretar o clássico This Is a Man’s World, de James Brown.
O início do segundo ato marcou a chegada de uma das criações mais relevantes de Gaultier: o sutiã em formato de cone. A pegada fetichista da peça foi reforçada por fivelas e cintas-ligas que formavam vestidos, tops e até saias.
A desconstrução, iniciada no início deste bloco, logo originou jaquetas repletas de recortes e reinterpretações. Na sequência, a bandeira da França, em forma de vestido, introduziu as camisetas de marinheiro, outro item eternizado pelas mãos do estilista francês.
A diversidade, outro tema sempre presente no trabalho de Jean Paul, foi contemplada em modelos de todas as idades, biotipos e gêneros, enquanto o jeans foi reinterpretado de forma estruturada e inovadora, com diversos acessórios metalizados.
Junto à androginia, marca do trabalho do estilista, a desconstrução voltou a surgir em cena, agora em ternos assimétricos com design diferenciado. A alfaiataria com pegada renascentista ganhou acessórios metalizados que sugeriram guerreiras urbanas prontas para fechar negócio.
O clima de batalha foi enfatizado nas estampas militares que deram continuidade ao show. Porém, o mood camuflado, aqui trabalhado em modelagens elegantes e modernas, não perdurou por muito tempo.
Como se a guerra travada no desfile tivesse feito várias vítimas, o luto voltou à passarela para guiar as viúvas sombrias que sucederam o espetáculo. No entanto, marcando mais uma das várias dualidades do show, uma Karlie Kloss volumosa apareceu para introduzir o segmento de noivas.
Em clima de pompa, os vestidos brancos deram lugar à conhecida alta-costura do designer francês, repleta de volumes, texturas e muito brilho. As criações exclusivas continuaram pautando o show, em uma evolução de cores que foi dos pigmentos mais claros para os terrosos e vívidos.
Por falar em cor, o britânico Boy George voltou em todo seu esplendor para finalizar a apresentação, em uma festa que tomou o palco do Teatro Châtelet e reuniu todas a estrelas presentes no desfile.
Além das top models vistas acima, nomes como Dita Von Teese, Karen Elson, Coco Rocha, Yasmin Le Bon, Erin O’Connor, Mylene Farmer, Beatrice Dalle, Estelle Lefebure, Rossy de Palma, Farida Khelfa, Paris Jackson e até a boneca inflável Pandemonia fizeram questão de marcar presença no último desfile do estilista. A modelo brasileira Valentina Sampaio, primeira transexual a participar de uma campanha da Victoria’s Secret, também estava no casting.
Confira:
Se objetivo de Jean Paul era emocionar o mundo da moda, a missão foi executada com louvor. Ovacionado pela indústria, ele mira, agora, em seus próximos passos, longe das semanas de moda. Enquanto alguns cogitam uma maior participação do estilista no show business, nós torcemos para que ele presenteie o público com mais espetáculos como este.
Colaborou Danillo Costa