Jean-Paul Gaultier anuncia que irá se aposentar das passarelas
Desfile de alta-costura marcado para 22 de janeiro será o último do estilista. Mas, ele garante que suas marcas continuarão vivas
atualizado
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O desfile de Jean-Paul Gaultier na próxima Semana de Alta-Costura era aguardado pelos fashionistas com ansiedade, afinal, o estilista irá comemorar 50 anos de carreira na apresentação. Nessa sexta-feira (17/01/2020), contudo, o francês elevou ainda mais a importância do show, a acontecer na quarta-feira (22/01/2020), no teatro Châtelet. Em um post em seu perfil do Twitter, o “enfant terrible” da moda anunciou que este será seu último desfile.
Vem comigo saber mais!
O designer de 67 anos, que havia deixado o prêt-à-porter em 2014, não deu mais detalhes sobre a decisão de deixar as passarelas, mas garantiu que sua etiqueta de alta-costura e linha de perfumes continuarão vivas.
Gaultier divulgou a novidade, em francês, encenando um telefonema onde convida um conhecido para seu show comemorativo.
“Esse show que comemora 50 anos da minha carreira também será meu último. Vai ser uma festa com muitos amigos e vamos nos divertir até muito, muito tarde. Esteja lá. Você não pode perder isso. Mas tenha certeza de que a alta-costura continuará com um novo conceito. Eu falarei sobre isso mais tarde, quando contarei todos os detalhes”, disse o designer em tom divertido.
Uma porta-voz da marca disse ao Business Of Fashion que o estilista continuará trabalhando, mas, assim como Kenzō Takada fez ao se dedicar ao design de interiores, Jean-Paul irá mirar em outras áreas criativas, talvez no entretenimento.
Em 2018, durante a temporada de outono/inverno da Semana de Alta-Costura, o designer organizou um espetáculo que misturava desfile de moda e show burlesco. O Fashion Freak Show ficou em cartaz no Folie Bergère, em Paris, e depois foi para Londres, onde recebeu excelentes críticas. Existe um forte indicativo de que o estilista tenha encontrado neste formato sua nova vocação.
A relação do francês com o show business não é de hoje. Foi ele o responsável por criar os sutiãs em formato de cone eternizados por Madonna na turnê Blond Ambition, em 1990, e os figurinos dos filmes O Quinto Elemento, de Luc Besson, e Kika, de Pedro Almodóvar.
Entre 1993 e 2000, apresentou sete temporadas do programa de comédia Eurotrash e no Carnaval de 2019 assinou as fantasias de uma ala da Portela.
Sua marca homônima, lançada em 1976, foi berço dos maiores debates que vemos hoje no universo têxtil. Muito antes das discussões de gênero, Jean-Paul já brincava com o binarismo ao lançar saias masculinas na coleção E Deus Criou o Homem, de 1984. “Um homem não leva a masculinidade na roupa, sua virilidade está na mente”, afirmou à época.
A diversidade, uma demanda cada vez mais frequente nas passarelas, sempre fez parte de seu trabalho. Ainda na década de 1980, ele publicou um anúncio no jornal francês Libération, convocando mulheres fora dos padrões de beleza para sua grife. “Estilista inconformista busca modelos atípicas. Pessoas com o rosto disforme, favor não se abster”.
Foi Jean-Paul quem lançou a carreira de Farida Khelfa, primeira top model de origem norte-africana a fazer sucesso, e incluiu a cantora plus-size Beth Ditto em suas apresentações. Drag queens como a austríaca Conchita Wurst e a norte-americana Violet Chachki também figuraram em seus desfiles.
Se você tem uma camiseta estilo marinheiro no seu closet, você deve isso ao estilista. Inspirado pelas roupas que usava em sua infância, o francês transformou a peça em um elemento cativo do vestuário e até em frasco de perfume. Para a fragrância masculina Le Mâle, ele usou o suéter listrado como frasco.
Pupilo de Pierre Cardin, que o contratou como assistente em 1970, o prodígio entrou na programação da Semana de Alta-Costura em 1997. A liberdade criativa presente no evento foi o que manteve Gaultier nas passarelas.
Em 2014, sob argumentos de que a indústria havia se transformado em uma roda de hamster, ele abandonou o segmento Prêt-à-Porter, passando a se dedicar a produtos licenciados e roupas exclusivas.
Três anos antes, em 2011, o conglomerado espanhol Puig havia adquirido a participação majoritária que a Hermès tinha na Jean-Paul Gaultier. A casa francesa comprou parte da grife enquanto o estilista atuava como diretor criativo da marca, entre 2003 e 2010.
A aposentadoria do designer pega todos os fashionistas de surpresa, mas também nos deixa curiosos para saber mais sobre seus próximos passos. A coluna está de olho!
Colaborou Danillo Costa