Harry Styles: veja como o estilo do cantor desafia normas de gênero
Peças consideradas femininas não são um tabu para o artista britânico, que posou usando vestido para a Vogue americana
atualizado
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O cantor e compositor Harry Styles foi um dos assunto da última semana depois de aparecer na Vogue americana de dezembro usando vestido. Na verdade, ele foi o primeiro homem a posar sozinho para a capa da revista, em 127 anos de história. Personalidades masculinas, até então, só haviam aparecido em casais. Além disso, Styles foi o primeiro a posar na capa com um vestido, detalhe que chamou atenção e gerou elogios de uns e críticas de outros. Embora não seja um pioneiro da moda gender-neutral, o artista britânico tem sido um dos agentes que estão disseminando esse estilo. Com sua visibilidade, ele desafia as regras de gênero e mostra que o ato de se vestir deve ser uma escolha livre de tabus, especialmente para os homens.
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Editorial histórico para a Vogue
A combinação do vestido e blazer escuro Gucci na capa da Vogue foi só uma entre várias produções com as quais Harry flertou com uma estética agênero na revista, com styling de Camilla Nickerson. Em outras fotos do mesmo editorial, ele usou peças como uma saia Wales Bonner, um kilt da Comme des Garçons e uma crinolina com uma saia branca por cima, no estilo das que eram utilizadas sob os vestidos da Era Vitoriana.
O posicionamento do cantor sobre as normas impostas pela sociedade fica claro na própria frase destacada na capa: “Toda vez que você coloca barreiras na sua vida, está limitando a si mesmo”. Harry contou que gosta de brincar com peças de roupa e nunca pensa muito no significado disso, mas sabe que é “uma parte estendida da criação de algo”.
“Quando você tira [a ideia de] que ‘há roupas para homens e há roupas para mulheres’, uma vez que você remove quaisquer barreiras, obviamente você abre a arena na qual você pode jogar. Eu vou às lojas às vezes e me vejo olhando para as roupas das mulheres e pensando que são incríveis”, compartilhou em entrevista à revista.
Apesar do ensaio estar dando o que falar, não é de agora que Harry explora o estilo gender-neutral e traz elementos tradicionalmente considerados femininos para seu repertório fashion. Majoritariamente, a alfaiataria ousada e nada óbvia – nas cores, formas, estampas e bordados – é a regra no visual do artista, especialmente em figurinos de apresentações ao vivo e clipes. Motivos florais, calças boca de sino e cintura alta são alguns dos detalhes mais marcantes, fugindo da tradicionalidade do vestuário masculino.
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O universo genderless de Harry Styles
O artista sabe ousar com visuais andróginos. No Met Gala 2019, edição na qual ele foi anfitrião do evento, chamou atenção com uma blusa semitransparente da peito para cima, sapatos de salto, unhas pintadas e brinco de pérola. Para ensaio da revista Guardian Weekend, no fim de 2019, posou com um vestido preto Comme des Garçons. Em algumas fotos promocionais para sua última apresentação no Saturday Night Live, na mesma época, vestiu-se de bailarina. No clipe da música Falling, mesclou um vestido da Gucci com tecido transparente e uma calça de alfaiataria.
O designer norte-americano Harris Reed, que trabalha com moda sem gênero, é um colaborador frequente do artista. Na primeira turnê de Harry, foi Reed quem desenhou grande parte dos figurinos. Normalmente, ele traz referências da alfaiataria setentista, além de outros detalhes marcantes, como brilhos. Os anos 1970, vale lembrar, foram marcados pela androginia no universo do glam rock, a exemplo de David Bowie, uma das influências mais notáveis do jovem cantor britânico.
Além do trabalho de Harris Reed, outra etiqueta muito presente no guarda-roupa do artista é a Gucci, citada algumas vezes anteriormente. Harry é amigo do diretor criativo Alessandro Michele, posou para campanhas label e aparece na minissérie exibida do GucciFest, festival realizado pela grife na última semana. O styling do artista é de Harry Lambert.
Para arrematar ainda mais sua posição como criador de tendências, Styles foi considerado a celebridade com as escolhas de estilo mais influentes do ano. O ranking foi publicado no levantamento Year in Fashion 2020, da plataforma de pesquisas de moda Lyst. Detalhes no visual do artista foram os que mais geraram pesquisas on-line, vendas, cobertura da imprensa e menções nas redes sociais, de acordo com o relatório. Além disso, ele foi o primeiro homem a ocupar o primeiro lugar na lista.
Críticas ao visual do artista: “Traga de volta homens viris”
O mix de peças femininas e masculinas de Harry Styles na Vogue causou opiniões divergentes. O lado mais conservador do público não gostou de ver um homem de vestido na capa de uma revista com tanto alcance, principalmente personalidades direitistas dos Estados Unidos. Dentre as críticas, a que mais chamou atenção foi a da ativista política e comentarista Candace Owens, considerada uma “potência da mídia de direita” nos EUA.
“Não há sociedade que possa sobreviver sem homens fortes. O Oriente sabe disso. No Ocidente, a feminização constante de nossos homens, ao mesmo tempo em que o marxismo está sendo ensinado aos nossos filhos, não é uma coincidência. É um ataque direto”, escreveu ela, retuitando o post da Vogue US com a capa da revista. “Traga de volta homens viris”, completou.
Em concordância com Owens, o escritor conservador Ben Shapiro fez uma série de tuítes criticando a escolha de styling da publicação. “O ponto de Styles fazer esta sessão de fotos é feminilizar a masculinidade. Caso contrário, por que seria digno de manchete para Styles vestir um vestido?”, escreveu. “Se feminilidade e masculinidade existem, elas têm indicadores. O vestido sempre foi um indicador desse tipo”, diz um trecho da extensa série de posts.
Por outro lado, não faltaram pessoas apoiando o cantor, incluindo celebridades. Uma delas foi a atriz Jameela Jamil, da série The Good Place, que publicou: “Harry Styles é bastante viril, porque viril é o que você quiser que seja, não o que alguns idiotas inseguros, tóxicos e homofóbicos decidiram que era há centenas de anos”.
O ator Elijah Wood também saiu em defesa de Harry, e disse a Owens: “Acho que você perdeu a definição do que é um homem. Masculinidade sozinha não faz um homem”. Já a diretora Olivia Wilde, à frente de um filme estrelado pelo cantor, foi curta em suas palavras ao responder a ativista: “Você é patética”.
Contraponto
As críticas conservadoras não foram as únicas a respeito da capa da Vogue. Alguns internautas questionaram o protagonismo dado a um homem cisgênero branco, já que foram pessoas da comunidade LGBTQIA+, especialmente não brancas, que abriram o caminho da moda gender-neutral. Uma das publicações de maior impacto nesse sentido foi feita por Alok Vaid-Menon, performer não-binário e autor do livro Beyond the Gender Binary.
“Estou feliz em ver Harry ser celebrado por desprezar abertamente as normas da moda de gênero? Sim. As mulheres trans negras recebem elogios por fazerem a mesma coisa todos os dias? Não. Eu acho que isso é um sinal de progresso da evolução da sociedade para longe do gênero binário? Sim. Eu acho que os homens brancos devem ser considerados a face da moda neutra em termos de gênero? Não”, escreveu, em legenda no Instagram.
Ele acrescenta ainda que a culpa disso não é do cantor britânico, mas do sistema de transmisoginia e racismo. “Não se engane: mulheres negras trans de cor começaram isso e continuam a enfrentar a reação. Nossa estética chega ao mainstream, mas não nossos corpos. Ainda somos rejeitadas como ‘demais’ e ‘muito esquisitos’ porque não somos palatáveis o suficiente para a brancura e a heteronormatividade”, continuou.
Apesar das observações, Alok explicou que deseja um mundo onde qualquer pessoa, independentemente do sexo, possa vestir o que quiser. “Ele [Harry Styles] está exercitando isso e dando permissão para outras pessoas fazerem o mesmo. Fico muito feliz! Posso tanto comemorar isso quanto ser cauteloso quanto à política de representação”, acrescentou.
“Não espalho ambiguidade sexual para ser interessante”
Ainda em 2019, Harry Styles disse ao Guardian Weekend que “não espalha ambiguidade sexual para ser interessante”. Ele afirmou: “Quero que as coisas tenham uma determinada aparência. Não porque isso me faz parecer gay, ou me faz parecer hétero, ou me faz parecer bissexual, mas porque eu acho que parece legal”. Por mais que ele não seja o protagonista do universo da moda com gênero neutro, certamente é um exemplo para que outras pessoas se sintam menos presas a padrões.
Colaborou Hebert Madeira