Grifes de luxo sinalizam retorno à simplicidade em novas campanhas
Como em outros momentos de crise, etiquetas tradicionais, como Gucci e Dior, miram em imagens descomplicadas para evitar mais prejuízos
atualizado
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A exemplo do que aconteceu após a Grande Depressão, Segunda Guerra Mundial e crise imobiliária de 2008, a moda deve mirar em uma estética mais tradicional e descomplicada na tentativa de se adequar ao consumidor pós-coronavírus e evitar mais prejuízos. O comportamento já pode ser sentido entre as grandes sobreviventes da indústria têxtil moderna. Tanto a Gucci, criada em 1921, quanto a Dior, com seus 74 anos, têm investido em campanhas despretensiosas que destacam os traços clássicos de cada label e as aproximam dos clientes.
Vem comigo conferir!
Casa (de luxo) na árvore
Apostando, mais um vez, no mood retrô atualizado, a Gucci lançou, nessa terça-feira (16/06), a coleção Off the Grid, que marca a chegada da nova linha sustentável da grife ao mercado. O compilado oferece peças criadas a partir de uma produção circular, com materiais reciclados, orgânicos ou de base biológica.
Para divulgar a novidade, a casa italiana investiu em uma campanha que tem como objetivo transportar os consumidores de volta à infância. “Imaginei que poderíamos construir uma casa na árvore no centro da cidade, todos juntos, como crianças brincando no parque”, explicou Alessandro Michele, diretor criativo da label, ao WWD.
No entanto, para dar vida ao conceito, o estilista convocou um time de gente grande. Nomes que têm feito barulho ao provocar os hábitos e padrões da indústria têxtil protagonizam o trabalho, a começar pela atriz, produtora e ativista Jane Fonda.
Em alta na mídia por ser presa em diversos protestos em prol do meio-ambiente e apoiar o uso de roupas usadas, a veterana de 82 anos fortalece o caráter sustentável da linha de roupas, ao lado do ambientalista e explorador David Mayer de Rothschild, do rapper Lil Nas X, do músico e ator japonês Miyavi e da cantora King Princess.
Clicadas pela fotógrafa Harmony Korine, as personalidades foram retratadas em uma enorme casa na árvore que recebeu edifícios da cidade de Los Angeles como pano de fundo.
“A inacabada estrutura de madeira e sua vegetação, entre os arranha-céus, cria um belo contraste. Nossos exploradores metropolitanos transmitem a ideia de futuro da humanidade, mas com modéstia. Esse lifestyle se tornou uma metáfora poderosa para o desejo de escapar da vida convencional e aproveitar a experiência de viver fora das grades”, explicou a empresa nesta semana, observando que o ensaio foi feito antes da nova onda de protestos do movimento #BlackLivesMatter.
O novo New Look
Depois que a Segunda Guerra Mundial deixou o militarismo como herança para a indústria têxtil, a maison Dior conseguiu se globalizar ao reinterpretar as silhuetas do estilo. O New Look, lançado na década de 1950, ressuscitou as formas amplas, porém, com um toque de modernidade, à época alcançado pelos blazers de peplum.
Agora, sete décadas depois, a etiqueta de luxo fez uso de seu já conhecido toque de midas novamente, para escapar de mais uma grande crise no universo fashion. Os contrastes de luz e sombra, vestidos de alfaiataria e saias volumosas estão de volta, no entanto, as texturas são o plot twist da vez.
Mantendo tudo em família, a empresa recorreu a sua principal embaixadora, a atriz Jennifer Lawrence, para personificar os aspectos minimalistas da coleção de outono/inverno 2020. Clicada em dezembro passado, em Nova York, a mais recente campanha feminina da label foi desenvolvida antes da pandemia do novo coronavírus. Todavia, o trabalho cai como uma luva nas demandas por simplicidade geradas pelo distanciamento social.
As silhuetas nítidas e monocromáticas do ensaio refletem um guarda-roupa atemporal, composto por itens essenciais e a clássica abordagem arquitetônica de Christian Dior, o fundador da casa.
“As marcas precisam pensar mais sobre a imagem que desejam apresentar. Eu sempre fui fascinado pelo artesanato e beleza de alguns produtos. Talvez essa possa ser uma oportunidade de diminuir o ruído e retornar a esses valores. Na minha opinião, a desaceleração e a valorização da qualidade, em vez de quantidade, só podem trazer coisas boas”, defendeu Brigitte Niedermair, que fotografou o shooting.
Uma Chanel menos extravagante
A Chanel, conhecida por realizar verdadeiros espetáculos sob o comando de Karl Lagerfeld, deixou a megalomania para trás em seu último desfile, dedicado ao cruise 2020 da grife. Apesar da persistência em seguir o calendário tradicional das semanas de moda, a maison também aponta para uma imagem menos extravagante. “Estamos entrando em um período um pouco diferente, provavelmente mais íntimo”, explicou Bruno Pavlovsky, presidente da etiqueta de luxo, ao WWD.
Com inspiração nas atrizes dos anos 1960, que passavam as férias em regiões costeiras da França e da Itália, Virginie Viard, diretora criativa da companhia, investiu em tecidos naturais, shapes modernos e composições urbanas para dar vida a visuais funcionais e versáteis. “Tivemos que nos adaptar, não apenas por decidirmos usar tecidos que nós já tínhamos, mas por redirecionar a coleção para o Mediterrâneo”, explicou a pupila de Lagerfeld ao WWD.
Há três meses, o desejo dos fashionistas girava em torno do fetichismo, trabalhado na temporada de outono/inverno 2020 por meio de itens de látex, sobretudos de couro e meias-calças. No entanto, hoje, tudo o que os amantes da moda querem são produções confortáveis e sem esforço.
É possível que a tendência se mostre rentável após o isolamento, com alguma ajuda das estrelas do entretenimento, porém, isso só será viável se as marcas atrelarem uma estética minimalista aos produtos, como fez a Dior.
Afinal, como revelou o portal Highsnobiety, as novas gerações adquiriram uma percepção diferente a respeito de suas necessidades de estilo, o que exigirá muito mais que campanhas, presença nas mídias e bons produtos das etiquetas.
Colaborou Danillo Costa