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Filósofa feminista Angela Davis é capa de edição especial da Vanity Fair

Na publicação, a ativista usou visual da marca norte-americana Pyer Moss. Ela concedeu entrevista à cineasta Ava DuVernay

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Deana Lawson/Vanity Fair/Divulgação
Ativista e filósofa Angela Davis posa para a capa da Vanity Fair, de setembro de 2020
1 de 1 Ativista e filósofa Angela Davis posa para a capa da Vanity Fair, de setembro de 2020 - Foto: Deana Lawson/Vanity Fair/Divulgação

Mulher, negra e ativista, Angela Davis é uma referência do movimento feminista, como também do marxismo. Integrante do grupo Panteras Negras, na década de 1970, ela foi presa injustamente. Ao longo dos anos, publicou inúmeros livros como filósofa. Uma das maiores referências de militância no combate ao racismo e na defesa dos direitos das mulheres, a norte-americana está na capa de edição especial da Vanity Fair. Na publicação, há uma entrevista concedida à cineasta Ava DuVernay.

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Giphy/Reprodução

Angela Davis estampa a revista de september issue, que costuma ser a mais relevante do ano. Na foto principal, a ativista usa visual da Pyer Moss. No look, a sobreposição foi feita com peça branca de detalhes vermelhos. Também conhecido pelo engajamento no movimento negro, o fundador da grife, Kerby Jean-Raymond, comemorou a novidade.

“Não tenho certeza do que está acontecendo agora ou como expressar em palavras o que sinto… Mas Angela Davis está usando Pyer Moss na capa da Vanity Fair de setembro de 2020. Fotografada por Deana Lawson. Palavras de Ava Duvernay. Essas frases nem parecem verdadeiras, cara”, escreveu o estilista.

Ava DuVernay, que teve a oportunidade de entrevistar virtualmente Davis, é uma premiada diretora e roteirista. Ela é reconhecida por produções marcantes e com importante papel social. Nos filmes, documentários e séries, sempre discute temas como o racismo e a violência policial. Entre os trabalhos, estão Olhos que Condenam, A 13ª Emenda, Uma Dobra no Tempo, Queen Sugar, Selma, e Esta é a Vida.

A cineasta também fez questão de compartilhar, nas redes sociais, a felicidade pela experiência com a filósofa abolicionista. “Eu amo aprender com ela. Encontro o inesperado sempre que nos falamos. Tesouros inesperados. Angela Davis emana, sem esforço, mais conhecimento do que a maioria das pessoas já adquiriu”, opinou. “E sua risada é suave, musical e adorável”, completou DuVernay.

Angela Davis na capa da Vanity Fair
Edição especial da Vanity Fair com Angela Davis. Ela usou poncho branco da marca Pyer Moss. O styling é assinado por Nicole Martine Chapoteau e a foto é de Deana Lawson

 

Estilista Kerby Jean-Raymond na rua
O estilista Kerby Jean-Raymond celebrou a escolha do look de Davis

 

Ava DuVernay em evento
A cineasta Ava DuVernay fez uma entrevista virtual com Angela Davis para a revista

 

Na entrevista, Angela Davis falou sobre a onda de reivindicações recentes, culminadas pelo assassinato de George Floyd, em meio à pandemia. Segundo ela, trata-se de uma conjuntura entre a crise da Covid-19 e a crescente consciência da natureza estrutural do racismo.

“Os protestos ofereceram às pessoas uma oportunidade de se unir a essa demanda coletiva de trazer mudanças profundas, mudanças radicais. De abolir o policiamento como o conhecemos agora. Esses são os mesmos argumentos que defendemos há tanto tempo sobre o sistema prisional e todo o sistema de justiça criminal. Foi como se todas essas décadas de trabalho de tantas pessoas, que não receberam nenhum crédito, tivessem se concretizado”, afirmou.

Angela Davis em evento
Filósofa e professora, Angela Davis é feminista marxista

 

Angela Davis sorrindo em preto e branco
Ela nasceu em Birminghan, no estado do Alabama, nos EUA

 

Prisão de Angela Davis
Em 1970, a ativista – membro do Panteras Negra – foi presa, acusada de conspiração, sequestro e homicídio devido a um tiroteio que ocorreu no tribunal de San Raphael, na Califórnia. Angela Davis não estava no local, mas uma arma usada estava registrada no nome dela. Chegou a integrar lista de fugitivos procurados pelo FBI. Em 4 de junho de 1972, foi absolvida

 

Protesto a favor da liberdade de Angela Davis, na Índia, em
Vários protestos aconteceram pelo mundo em prol da liberdade de Davis. Esta foto foi tirada na Índia, em 1971

 

Em outro ponto do bate-papo, Ava DuVernay destacou que o posicionamento de Davis sempre incluiu classe, raça, gênero e sexualidade. “Parece que estamos em uma massa crítica em que a maioria das pessoas finalmente consegue ouvir e entender os conceitos dos quais você vem falando há décadas. Isso é satisfatório ou exaustivo depois de todo esse tempo?”, indagou a diretora.

Aos 76 anos, Davis vê a evolução como uma experiência coletiva. A norte-americana respondeu dizendo que o trabalho deve ser feito de forma contínua e apaixonada, mesmo que pareça momentaneamente que ninguém está ouvindo. Segundo ela, é preciso “criar as condições de possibilidade de mudança”.

A conversa também abordou o crescimento de pautas como diversidade e inclusão nas indústrias do entretenimento e da moda. Na visão de Davis, é necessário que haja modificações efetivas e precisamente radicais. “Eu sempre pergunto: ‘Bem, onde está a Justiça aqui?’. Você vai simplesmente pedir àqueles que foram marginalizados ou subjugados que entrem na instituição e participem do mesmo processo que levou precisamente à sua marginalização?”, analisou a entrevistada.

Angela Davis em protesto
A filósofa é abertamente comunista. Também se posiciona como abolicista. Ou seja, defende o fim do atual sistema penal e da violência policial

 

Angela Davis sentada em sofá com black power e vestido escuro
“Sempre reconheci meu próprio papel como ativista, ajudando a criar condições de possibilidade de mudança”, declarou Angela Davis na Vanity Fair

 

Angela Davis em documentário
Angela Davis também participou de A 13ª Emenda (2016), filme dirigido por Ava DuVernay. O documentário aborda o racismo nos Estados Unidos e analisa o complexo e problemático sistema carcerário do país

 

Para completar, a icônica militante comentou que enxerga a vida com otimismo. Ela lembrou que aprendeu essa perspectiva desde cedo, inserida em movimentos de luta. “Lembro que minha mãe nunca deixou de enfatizar que, por pior que fossem as coisas em nosso mundo segregado, a mudança era possível e o mundo mudaria. Aprendi a viver nessas circunstâncias e, ao mesmo tempo, habitar um mundo imaginário, reconhecendo que um dia as coisas seriam diferentes”, apontou.

“Temos que fazer o trabalho como se a mudança fosse possível e como se essa mudança acontecesse mais cedo ou mais tarde. Pode não ser; podemos não conseguir testemunhar isso. Mas se não fizermos o trabalho, ninguém jamais testemunhará”, concluiu Angela Davis.


Colaborou Rebeca Ligabue

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