“Eu diria que vai morrer”, diz Virgil Abloh sobre o streetwear
Em entrevista, o fundador da Off-White deu palpite sobre o que promete bombar na década de 2020
atualizado
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Virgil Abloh é um dos designers que elevaram o status do streetwear nesta década. Curiosamente, o “rei do street” acredita que essa febre está com os dias contados na próxima década. Em entrevista recente à revista Dazed, o fundador da Off-White defendeu: “Eu definitivamente diria que vai morrer”. Apesar de chocante, sua declaração tem tudo a ver com o novo olhar da moda, voltado à sustentabilidade.
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Quando questionado sobre o que acontecerá com a “ideia do streetwear” de 2020 em diante, o estilista disse que as protagonistas serão as peças vintage; aquelas que, de fato, são antigas. “Eu acho que a moda vai deixar de comprar uma caixa, algo novo”, apostou.
“Na minha opinião, quantas camisetas a mais podemos ter? Mais quantos moletons, quantos tênis? Penso que vamos chegar nesse estado realmente incrível de expressar o conhecimento e estilo pessoal com roupas vintage. Há tantas peças legais que estão nas lojas vintage, e é só usá-las”, opinou Abloh.
De qualquer forma, o fundador da Off-White está otimista com o que está por vir nos anos seguintes: “Estou animado para ver o que faremos neste próximo capítulo, porque os avanços dos últimos 10 anos são muito insanos.”
Por mais chocante que pareça a opinião de Virgil Abloh, tendo em vista que ele é um dos grandes nomes da moda urbana, há indícios que comprovam a popularidade do reaproveitamento de peças antigas. Aliás, o próprio streetwear poderá ser considerado vintage daqui a alguns anos, como aponta a The Cut.
O fast fashion, grande vilão do meio ambiente, vai perder espaço para o mercado de segunda mão até 2028, segundo relatório do site de revendas ThredUp em parceria com a empresa GlobalData.
Além do mais, a responsabilidade social é uma das prioridades de consumo da geração Z, o público em potencial para os próximos anos. Em entrevista publicada em agosto na coluna, a pesquisadora da Universidade de Brasília Georgia Castro explicou que esse é “um grupo que pretende se vestir com roupas usadas, doadas ou alugadas”.
Abloh foi diretor criativo de Kanye West e estabeleceu patamar de respeito para o streetwear com a marca Off-White.
Em junho de 2018, apresentou sua primeira coleção como diretor criativo de moda masculina na Louis Vuitton. Seus projetos não param por aí: ele é DJ e já criou itens como malas, tapetes e perfumes.
Nos últimos anos, até as grifes mais tradicionais da indústria começaram a flertar com a moda urbana. Ao mesmo tempo, etiquetas street, como a Off-White, se consolidaram dentro do segmento de luxo. Há seis trimestres, a label disputa o posto de marca mais popular com a Gucci e a Balenciaga, de acordo com o Lyst Index Q3 2019.
“Naquela época, a imprensa formal estava apenas categorizando esse tipo de design como streetwear. Como designer, você se depara com um termo da sua geração sobre o qual não tem controle”, disse à Dazed, sobre seu primeiro desfile, na Semana de Moda de Paris. “A partir dessa frustração, decidi se esse termo seria um sinal dos tempos que eu definiria, em vez de ser definido por ele.”
Ainda na entrevista, o designer fala que o streetwear se tornou um conceito global. “Designers europeus na veia do streetwear ajudaram as pessoas a entender o que seria essa nova onda”, ressaltou, citando os estilistas Demna Gvasalia (Balenciaga e ex-Vetements) e Gosha Rubchinskiy. Para Abloh, isso foi uma vantagem para ele e outros nomes, como Shayne Oliver.
“Uma peça de roupa é mais importante do que o tecido de que é feita – é representativa, significa alguma coisa. Diz algo sobre uma geração, uma marca”, argumentou. “Isso, para mim, é o que um designer de moda é hoje, não simplesmente a versão antiquada do que o termo significa.”
Recentemente, Virgil Abloh lançou uma coleção da Off-White em parceria com o Museu do Louvre, inspirada na obra de Leonardo da Vinci. Além disso, anunciou um compilado de peças street da Louis Vuitton em colaboração com Nigo, da marca A Bathing Ape, para 2020.
Será que o streetwear está mesmo com os dias contados?
Colaborou Hebert Madeira