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Estilo consciente: inspire-se em celebridades que repetem roupas

O hábito importante e necessário de personalidades como Kate Middleton e Michelle Obama pode ajudar a incentivar escolhas mais sustentáveis

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1 de 1 celebridades - Foto: Montagem com fotos Getty Images

Você sabe um detalhe interessante que celebridades como Kate Middleton, Meghan Markle, Cate Blanchett e Michele Obama têm em comum? Todas elas já repetiram looks em mais de uma ocasião importante. Além de ser um hábito completamente aceitável e necessário, usar a mesma roupa mais de uma vez é o novo cool, uma vez que a sustentabilidade virou um pilar fundamental na moda.

Vem comigo saber o porquê, e aproveite para se inspirar!

“Eu disse a todos vocês que ia usar este vestido novamente”

 

Que repetir roupas importantes foi um tabu durante muito tempo, todos sabem. Mas, afinal, quando isso começou? A consultora de imagem Silvia Scigliano explica que começou com as damas da corte, no século 18. Na época, para aumentar o consumo de tecidos e incentivar a economia, elas não podiam repetir os vestidos. Depois, esse movimento também se torna evidente nos anos 1940.

“Após a Segunda Guerra Mundial, para acelerar a indústria têxtil, criou-se esse costume. Ele só aumentou com as coleções e os desfiles de moda, principalmente nos últimos 20 anos, com as fast fashions e a internet, quando o hábito de postar fotos de looks se propagou”, avalia.

Entre as celebridades, é quase uma regra usar vestidos deslumbrantes e terninhos uma única vez nos tapetes vermelhos e grandes eventos. Muitas vezes, são peças exclusivas. Felizmente, esse pensamento de uso único está ficando no passado. A atriz e comediante Tiffany Haddish, por exemplo, apareceu com um vestido específico em pelo menos cinco ocasiões.

Durante um monólogo no programa humorístico Saturday Night Live, em 2017, chegou a brincar com a situação: “Eu não dou a mínima para nenhum tabu. Gastei muito dinheiro com este vestido. Ele custa muito mais do que a minha hipoteca. É Alexander McQueen, está bem?”, brincou. O modelo é um longo branco, com fenda na perna esquerda e detalhes metálicos na gola.

No último SAG Awards, em janeiro, a atriz Jennifer Aniston ressuscitou um vestido-camisola da Dior do próprio acervo de garimpos vintage. A peça foi apresentada durante a direção criativa de John Galliano, em 1999. “Este é um vestido vintage que eu meio que me dei de presente”, contou a musa de Friends ao Entertainment Tonight.

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Atriz e comediante, Tiffany Haddish usou este Alexander McQueen em pelo menos cinco ocasiões diferentes

 

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Jennifer Aniston, que curte vestidos vintage, usou este Dior de 1999 no SAG Awards 2020

 

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Algumas celebridades repetiram roupas no Oscar 2020. Jane Fonda foi uma delas, com um longo Elie Saab de alta-costura

 

camilla morandi/Corbis via Getty Images
Anteriormente, a peça foi usada por ela no Festival de Cannes de 2014

 

A jornalista Iara Vidal vê o fato de celebridades repetirem roupas como uma atitude crítica e necessária, além de ser uma resposta ao consumismo desenfreado. “Os famosos podem ser atores importantes desse processo de mudança de paradigma em relação à obsolescência imaginada de roupas”, afirma a representante do movimento global Fashion Revolution em Brasília.

“Estamos em um ponto da humanidade no qual precisamos multiplicar exemplos de consumo consciente. Repetir roupas é um bom exemplo. Afinal, podemos ressignificar os trajes e cobri-los de afetos e de propósito”, acrescenta a comunicadora, que também assina o blog Consumo Consciente.

Silvia Scigliano, consultora de tendências e negócios de moda, concorda que as celebs têm o poder de influenciar comportamentos ecologicamente positivos. “Isso vai ao encontro de uma das principais preocupações da nova geração, que vêm buscando soluções e cobrando novas alternativas, como tecidos reciclados, compras em brechós e aluguel de roupas”, observa.

Além de Tiffany Haddish, outra personalidade que também elegeu um Alexander McQueen branco para diversas ocasiões é Kate Middleton. Uma delas foi o próprio casamento do cunhado Harry com a atriz Meghan Markle, quarta vez em que a peça foi usada em público.

Andrew Matthews - WPA Pool/Getty Images
Kate Middleton e a filha Charlotte no casamento do príncipe Harry com Meghan Markle, em maio de 2018. A ocasião foi a quarta vez em que ela usou este vestido Alexander McQueen

 

Andrew Matthews - Pool/Getty Images
No passado, a duquesa de Cambridge elegeu o mesmo modelo para outras ocasiões importantes

 

Essa também não foi a única ocasião em que Kate resgatou um look do guarda-roupa. O mesmo acontece com Meghan Markle. Vez ou outra, ela faz aparições públicas com peças usadas anteriormente. A premiada atriz australiana Cate Blanchett, em 2018, repetiu um vestido Armani Privé para o Festival de Cannes. Quatro anos antes, ela havia usado o item rendado no tapete vermelho do Globo de Ouro.

A consultora de imagem e estilo Gabriela Delanhesi considera positivo ver celebridades repetindo roupas, e leva a reflexão para o dia a dia: “Se uma peça se repete em diferentes situações, é sinal que a compra foi bem feita e consegue imprimir personalidade. O que não acontece quando se compra por impulso”, opina.

Contudo, não é sempre que ela vê o ato como um exemplo de consciência ecológica. Para ganhar o título de “sustentável”, Gabriela acha que é preciso avançar muito mais. “Existem celebridades da área de moda que tratam do assunto sustentabilidade, mas nunca repetem uma roupa em um programa de televisão, por exemplo”, compara.

Mark Cuthbert/UK Press via Getty Images
Repare neste vestido roxo de Meghan Markle. A foto é de janeiro de 2019

 

Karwai Tang/WireImage via Getty Images
Em outubro do mesmo ano, ela voltou a usá-lo

 

Samir Hussein/WireImage via Getty Images
O mesmo ocorreu com esta chemise azul. Esta foto é de uma turnê pela África, em setembro de 2019

 

Pool/Samir Hussein/WireImage via Getty Images
No ano anterior, a peça foi usada durante turnê pela Oceania

 

Pascal Le Segretain/Getty Images
Cate Blanchett no Festival de Cannes, em 2018, com vestido Armani Privé

 

Jeff Vespa/WireImage via Getty Images
O longo também foi usado por ela no Globo de Ouro de 2014

 

Vestido de noiva? Pode repetir também!

Por falar em Globo de Ouro, neste ano, a atriz Troian Bellisario compareceu a uma festa pós-evento com nada menos que o próprio vestido de noiva, usado três anos atrás. Ou melhor, metade do vestido. O longo da marca Cortana Bridal foi reconstruído com um novo corpete, na cor rosa pastel, mas manteve a saia branca.

Outro detalhe curioso é que, na legenda do clique que compartilhou no Instagram em 2016, ela havia dito que usaria aquele modelito todos os dias. A ideia de Troian é uma opção criativa para quem quer renovar e revisitar peças importantes.  Ideia que, aliás, já chegou até ao mercado do segmento bridal.

Em outubro de 2019, a marca Atelier Jardim Secreto lançou uma coleção de moda noiva com 10 modelos prêt-à-porter (prontos para vestir) e uma opção bem interessante. Dentro do período de um ano após a cerimônia, a noiva teria a opção de levar a peça até o ateliê para transformá-lo em uma nova peça para o dia a dia.

A ideia, segundo a estilista Patricia Granha, foi fazer mais com menos. “Comecei inserindo hábitos sustentáveis dentro de casa e quis transpor isso para o meu ambiente de trabalho. Usar um vestido de noiva apenas uma vez é um grande desperdício”, disse à Vogue Brasil.

Keira Knightley usou um de seus vestidos de casamento, um cocktail de tule da Chanel, em várias ocasiões. A primeira delas, inclusive, nem foi para trocar alianças com James Righton, em 2013. Foi em 2008, para uma festa pré-BAFTA Awards da Finch & Partners. Em uma das aparições, o modelo de alta-costura foi atualizado com mangas transparentes.

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Patrick J. Adams e Troian Bellisario em uma festa pós-Globo de Ouro 2020. O longo é uma reformulação do vestido de noiva da atriz

 

@sleepinthegardn/Instagram
Clique do vestido de noiva de Troian, publicado em dezembro de 2016

 

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Nesta foto de 2008, em uma festa pré-BAFTA Awards, Keira Knightley usa um vestido de alta-costura da Chanel, que também foi um dos vestidos de seu casamento com James Righton, em 2013

 

Reforme e ressignifique

Reformar peças guardadas pode dar um novo ar ao visual e contribuir para o meio ambiente, mesmo que não sejam vestidos de casamento. No Oscar de 2018, a atriz Rita Moreno usou uma versão modificada do mesmo longo escolhido para a premiação da Academia em 1962, quando nem havia tapete vermelho.

Michelle Obama é outra celebridade amigável com a repetição de roupas. Ela apareceu algumas vezes com o mesmo vestido da grife Prabal Gurung. Já a atriz Winona Ryder, em 1991, usou uma camiseta com estampa de Tom Waits na premiere do filme The Commitments – Loucos pela Fama. Em 2016, ressuscitou a peça e voltou a combiná-la com uma jaqueta de couro preta, cheia de atitude rocker.

No caso de vestidos longos e luxuosos, eles podem precisar de ajustes para ganharem um novo visual. Entretanto, peças práticas, como camisas, calças, vestidos curtos e outros itens permitem diferentes formas de usar e variar o estilo. Acessórios como cinto, por exemplo, podem fazer toda diferença.

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A atriz Rita Moreno usou este vestido com detalhes dourados no Oscar de 1962

 

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Para ir à premiação da Academia em 2018, resgatou a peça, mas usou de um jeito diferente

 

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Michelle Obama com vestido Prabal Gurung, em março de 2010. Ela usou a peça em outras ocasiões, como maio de 2012 e março de 2013

 

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Foto de Michelle em março de 2013, com as filhas, o marido e…. o vestido da Prabal Gurung!

 

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Outro Prabal Gurung que a ex-primeira dama norte-americana gosta de repetir. Uma das ocasiões foi neste encontro com o príncipe Harry, em 2013

 

Ron Galella, Ltd./Ron Galella Collection via Getty Images
Repare nesta camiseta de Winona Ryder, em 1991

 

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A mesma camiseta, 15 anos depois!

 

Consumo consciente x Realidade da indústria

Iara Vidal acredita que investir em peças vintage, trocar com amigos e familiares, além de comprar brechós, são formas de investir no consumo consciente. Entretanto, quando se trata de boicotes, chama atenção para outro lado: a realidade da mão de obra da moda no Brasil.

“Precisamos ter ciência de que a cadeia produtiva da moda emprega, sobretudo, mulheres. É, também, a principal geradora de primeiro emprego. Vivenciamos uma realidade com 13 milhões de desempregados e outros tantos milhões de desalentados e na informalidade. Não é tão simples promover boicotes ao consumo em uma realidade assim”, pondera.

Dentro desse contexto, politizar o debate sobre moda é fundamental. “É muito importante o engajamento de influenciadores, sejam celebridades, jornalistas ou políticos, para que possamos repensar nossos padrões de consumo”, acrescenta a comunicadora.

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Comprar ou alugar peças vintage é uma boa forma de investir no consumo consciente. Inclusive, para ocasiões importantes

 

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Lojas de revenda e brechós também ajudam a manter as peças de roupa circulando

 

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Para Iara Vidal, representante do movimento Fashion Revolution em Brasília, a realidade da cadeia produtiva da moda no Brasil faz com que os boicotes não sejam algo tão simples. Por isso, é importante politizar o debate sobre moda

 

Quer aproveitar melhor as roupas? Atenção às dicas!

O aluguel de roupas é um movimento crescente, como explica Silvia Scigliano. Para quem quer estar sempre com um look diferente, sem abrir mão de escolhas conscientes, pode ser uma ótima opção. Já na hora de comprar, é interessante investir em marcas locais e etiquetas que se preocupem com a sustentabilidade de forma genuína, em aspectos como matéria-prima, confecção e durabilidade.

Consultora da Arranjos Express, empresa que faz reparos e customização de roupas, Gabriela Delanhesi tem algumas dicas para fazer as peças durarem mais. A primeira é investir em opções de qualidade: “Esse fato já vai fazer você ter um carinho maior com a peça e uma preocupação em preservá-la”.

No caso das tentadoras promoções, controlar os impulsos é um bom caminho para evitar compras erradas; aquelas que não têm nada a ver com a sua personalidade, estilo de vida ou trabalho. “Nunca foque apenas no valor da peça. Saiba analisar se aquilo encaixa no seu armário e em quantas situações diferentes ela poderá servir. É esse pensamento que fará você descobrir se a peça é cara, ou se o barato vai sair caro”, indica.

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Uma das dicas é investir em marcas locais e etiquetas que se preocupem com a sustentabilidade de forma genuína

 

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No caso de peças com maior qualidade, a preocupação costuma ser ainda maior

 

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“Existe um movimento que consiste em lavar menos e, principalmente, passar menos as roupas”, acrescenta Silvia Scigliano

 

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“Pelo gasto de energia e de água, pelo trabalho e pelo tempo, mas, principalmente, para a conservação do tecido”, completa a consultora de tendências e negócios de moda

 

A especialista em imagem e estilo também recomenda focar 90% em peças atemporais e apenas 10% em tendências. “No fim das contas, são as atemporais que vão permanecer por anos em seu armário”. Na avaliação de Silvia, a inovação na hora de usar usar estampas clássicas como xadrez, poá e listras, está na forma de combinar e compor o look.

Atenção também aos cuidados para conservar as peças. “Existe um movimento que consiste em lavar menos e, principalmente, passar menos as roupas. Pelo gasto de energia e de água, pelo trabalho e pelo tempo, mas, principalmente, para a conservação do tecido, pois o ferro muitas vezes estraga a fibra”, acrescenta Silvia. “Uma alternativa bacana é usar mais o vaporizador.”

Depois de tudo isso, se você acabar enjoando de algum item, dê uma nova cara. Transforme camisa em vestido, ou um vestido em saia. Afinal, até as celebridades fazem isso.

 

Colaborou Hebert Madeira

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