Estilistas africanos refugiados em Brasília ganham loja colaborativa
Grupo Mulheres do Brasil, Venâncio Shopping e Nágela Maria se mobilizaram para viabilizar melhores condições de vida aos designers
atualizado
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O Brasil é o 6º país com mais pedidos de asilo no mundo. Apenas em 2018, mais de 80 mil imigrantes solicitaram refúgio em território brasileiro, de acordo com o relatório Tendências Globais, divulgado pela Agência da ONU para os Refugiados (Acnur).
Boa parte desses pedidos provém de países africanos. Entre as centenas de refugiados vindos do continente mãe para a capital federal, existem estilistas habilidosos que partem em busca de melhores oportunidades e reconhecimento.
Ciente dessa realidade, o grupo Mulheres do Brasil resolveu auxiliar esses profissionais a venderem seus produtos na cidade, por meio de um projeto colaborativo organizado pela instituição.
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Criado em 2013 para conceber projetos sociais, o Grupo Mulheres do Brasil tem um setor voltado à inserção de imigrantes e refugiados na comunidade, coordenado pela empresária Mônica Alvares.
Ela atua em parceria com o Instituto Migrações e Direitos Humanos e conheceu alguns estilistas africanos assistidos pela ONG. Foi quando se deparou com belas criações, marcadas pela exuberância das estampas importadas de países como Guiné-Bissau, Togo, Costa do Marfim, Congo e Gana.
No entanto, por meio de sua expertise no campo empresarial, Mônica identificou carências comerciais que impediam o sucesso dos designers. “Tive contato com esses imigrantes e vi que eles apresentavam certa dificuldade em vender as roupas que produziam. Em muitas ocasiões, não tinham êxito devido ao excesso de cores e volumes. Era necessária uma adequação ao estilo brasileiro”, conta Alvares com exclusividade à coluna.
Determinada a mudar essa realidade, a empresária mostrou o trabalho dos africanos às demais colegas do Mulheres do Brasil e, em uma das reuniões do grupo, Alves encontrou uma importante aliada. Ana Rodrigues, gerente de marketing do Venâncio Shopping, se encantou com as peças e resolveu ceder um ponto físico aos designers.
“A Mônica mostrou alguns looks e, na hora em que vi, indaguei o porquê de não fazer disso um produto real para viabilizar a condição de sobrevivência desses profissionais. Eu estou à frente de diversas ações do shopping, então, tive a ideia de fazer um desfile e criar um quiosque para eles no Venâncio”, relembra.
Por acaso, o empreendimento no centro de Brasília ficou com uma loja vaga. No timing certo. Agora, o espaço exibe os looks produzidos por esse grupo de refugiados. “É uma ótima forma de acolher mais uma causa social. Esta é a nossa luta. Apoiamos as mulheres, a saúde e agora, também, os refugiados”, afirma Ana.
Daí em diante, Mônica escreveu um projeto e convidou a estilista Nágela Maria para auxiliar nessa adaptação. “Encontramos os estilistas, apresentamos nossa ideia, sempre respeitando a cultura deles, e demos início à criação da loja. Idealizei a marca Égalité, que significa igualdade em francês. Adriana Lima criou a logo, e começamos a desenvolver a coleção”, lembra.
Nágela e sua filha, Andréa Monteiro, se encarregaram de transmitir à Isabel e Saturnina da Costa, Akou Avogtnon, Dja Franck Lagbre, Lucie Atumesa Nsimba e Gladys Edem as mudanças necessárias para que seus produtos funcionassem por aqui. Em apenas dois meses, o grupo já havia desenvolvido mais de 30 looks, exibidos em um desfile no centro de compras, no dia 28 de junho.
“Desenvolvemos o design das peças, além de capacitar os estilistas. Ensinamos a bordar, a fazer acabamentos, a costurar e até a montar as roupas, pois apenas um deles sabia modelar”, explica Nágela.
Ela irá acompanhar os africanos pelos próximos meses. “O trabalho ainda não acabou. Fizemos tudo isso em apenas dois meses, então, ainda há muito o que passar adiante.”
Com a temática Diversidade, a proposta do desfile foi trabalhada a partir dos conceitos de igualdade entre os povos, aceitação e tolerância. Na passarela, cada estilista apresentou cinco looks que mesclaram as cores dos tecidos africanos com os shapes mais ajustados, característica comum no perfil fashion brasileiro.
“O desafio foi traduzir a beleza do estilo africano para um formato mais reconhecido pelo mercado local. Incluímos tecidos lisos, saias estreitas e, também, um ponto de encontro entre as duas culturas estéticas, caso dos modelos mais volumosos, mangas bufantes e croppeds”, revela Andréa.
A apresentação das roupas desenvolvidas em parceria com Nágela marcou, ainda, a inauguração da loja Égalité. Instalado no 1º piso do Venâncio, o espaço, totalmente colaborativo, comercializa as roupas e objetos de decoração produzidos pelo grupo. “Eles irão gerenciar o ponto e o dinheiro irá diretamente para os estilistas”, garante Mônica Alvares.
Natural da Costa do Marfim, Dja Franck Lagbre é um dos estilistas agraciados pela iniciativa. No Brasil há cerca de dois anos e meio, ele agora foca seu trabalho na clientela brasiliense. “Eu venho da moda africana e trabalho com tecidos de lá, mas, depois que cheguei aqui, me deparei com outra cultura e outra forma de vestir. Hoje, minhas inspirações são as roupas brasileiras, pois quero adaptar meu trabalho ao estilo local”, afirma.
Emocionado com o auxílio prestado pelo Mulheres do Brasil, o designer fez questão de pedir um espaço na coluna para louvar à iniciativa. “Elas nos ajudaram a conseguir essa loja no shopping. E de graça. Agora, podemos divulgar e vender nossos produtos. Sou grato”, finalizou.
Colaborou Danillo Costa