Entenda por que as mulheres têm deixado de comprar bolsas
Pesquisa feita pelo NPD Group revela que vendas do acessório caíram 20% nos primeiros oito meses deste ano. A tendência é piorar
atualizado
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Em um passado não muito distante, as bolsas ocupavam um lugar de destaque nos looks femininos. No entanto, o protagonismo das peças parece estar próximo do fim. Um estudo divulgado pelo NPD Group, empresa americana de pesquisas de mercado, observa que as vendas do acessório caíram mais de 20% em 2019, o que indica uma importante mudança no comportamento das consumidoras.
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Para a analista Beth Goldstein, da NPD, o relatório divulgado no dia 9 de outubro traz informações alarmantes para as marcas do segmento de acessórios. “Isso, claramente, não é uma variação corriqueira, mas uma grande mudança”, afirmou ao site Quartz, que ainda apontou um outro dado significativo.
Um dia antes de a análise chegar ao mercado, a empresa de investimentos Piper Jaffray divulgou uma pesquisa na qual as adolescentes aparecem menos dispostas a gastar com bolsas. Segundo as entrevistadas, a média de investimento com o produto fica em torno dos US$ 90, valor bem menor do que o registrado em 2006, quando ficava na casa de US$ 197.
De acordo com especialistas, os fatores que influenciam tal mudança são vários. Enquanto muitas mulheres deixaram de adquirir bolsas novas para investirem em outras roupas e produtos, outras migraram para o mercado second hand.
Empresas como Janet Mandell, Rebag e The Real Real florescem entre os compradores mais jovens por oferecem bolsas de grifes como Fendi e Chanel com descontos consideráveis, além de ter um caráter sustentável. As ações do The Real Real subiram mais de 70% apenas no mês passado.
“Os consumidores estão transferindo seus gastos para outras categorias porque suas prioridades mudaram”, disse Goldstein, apontando os setores de entretenimento e tecnologia como os grandes concorrentes do segmento de acessórios.
Para aquelas que ainda continuam investindo nas bolsas, o foco é funcionalidade, caraterística não desbravada nas últimas tendências do setor (vale lembrar as mini bags e bolsas duplas). De acordo com o estudo da NPD, a venda de mochilas cresceu 12% entre as mulheres, em comparação a 2016.
“O consumidor de hoje está procurando uma solução, não apenas uma bolsa. Ele espera funções, versatilidade e envolvimento com as questões sociais e ambientais. O mercado de luxo não está imune a essas pressões”, disse Beth Goldstein à emissora NBC.
A pesquisadora ainda analisa que as bolsas de mão são as que correm mais risco de sumirem das araras. Para ela, os compradores veem tais modelos como algo “agradável de ter”, mas não “indispensável”.
Se, entre as décadas de 1990 e 2000, todas as mulheres desejavam a bolsa do momento, hoje o que vale é a singularidade. Graças ao Instagram, as novas marcas conseguem encontrar público de maneira mais fácil, ao passo que um design diferenciado se tornou mais interessante do que uma it bag.
Com essa movimentação, etiquetas como a Cult Gaia, Mansur Gavriel, Telfar e Staud passaram a figurar no street style com peças que custam entre US$ 200 e US$ 300.
“Em seu auge, a indústria era dominada por alguns estilos, era muito específica. Agora, sinto que [o cenário] é muito mais fragmentado. Os consumidores têm mais conhecimento sobre estilo pessoal e entendem o que gostam e o que não gostam, em vez de serem liderados por um estilo singular”, disse Lisa Aiken, diretora de moda feminina do Moda Operandi ao WWD.
Antes símbolos de status, as bolsas agora dividem atenção com os tênis. “Vimos as bolsas enfraquecerem ao passo que o consumo de sneakers aumentou significativamente. Acreditamos que os sapatos se tornaram o grande símbolo do poder”, disse Murphy, da Piper Jaffray.
No livro A Soma das Pequenas Coisas: Uma Teoria da Classe Aspiracional, a socióloga Elizabeth Currid-Halkett comenta que a elite agora se define por meio do capital cultural.
“Eles ficaram mais discretos. Hoje, comer frango e tomates frescos ao ar livre, vestindo camisas de algodão orgânico e ouvindo podcasts, virou algo mais cool do que ostentar uma bolsa cara.”
socióloga Elizabeth Currid-Halkett
Essas mudanças, porém, não atingem todas as grifes. O grupo LVMH, que detém as labels Louis Vuitton, Celine e Chloé, acaba de relatar outro trimestre forte em outubro, graças aos artigos de couro. Em seu estudo, a Piper Jaffray observou que a LV e a Gucci estão entre as marcas favoritas das adolescentes, o que enfatiza o sucesso do marketing das grifes entre a Geração Z.
As marcas mais acessíveis, no entanto, amargam um desempenho ruim nos primeiros meses de 2019. A Kate Spade caiu para o 4º lugar na lista feita anualmente pela Piper Jaffray, com a Louis Vuitton subindo para o 2º lugar. O resultado fez a Tapestry, empresa que controla a marca, substituir seu CEO.
Embora lidere as vendas do segmento, a Michael Kors ainda deve sofrer com as recentes mudanças no consumo. A Capri Holdings, dona da etiqueta, reduziu suas perspectivas de vendas para o ano inteiro, devido a um mercado atacadista mais fraco na América do Norte. A previsão é que as ações da grife caiam 25% nos próximos meses.
“Não vejo o negócio de bolsas retornando à sua antiga glória, em que algumas marcas impulsionavam o mercado. As lojas de departamento enfrentam dificuldades devido à perda de tráfego e à falta de entusiasmo. Um logotipo não é mais suficiente, pois os consumidores estão tomando decisões mais calculadas do que no passado. Hoje, comprar bolsas é uma atitude mais próxima de comprar um carro do que roupas”, reflete Goldstein em seu estudo.
A grifes de luxo, contudo, não parecem concordar com Goldstein. Na temporada de primavera/verão 2020, algumas etiquetas – como Oscar de La Renta, Tod’s, Celine, Valentino, Dior, Burberry e Michael Kors – recriaram bolsas clássicas com grandes monogramas nos fechos das peças. Recentemente, a Jimmy Choo também apostou na tendência, apresentando sua nova e chamativa logo nos itens da coleção Varenne.
Colaborou Danillo Costa