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Cris Guerra fala sobre importância da moda intuitiva na autoestima

Palestrante e escritora, a mineira ensina as pessoas a buscarem o senso fashion dentro de si. Vem comigo conferir a entrevista!

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Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
1 de 1 Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles - Foto: Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles

As grandes perdas na vida da escritora e colunista Cris Guerra a fizeram encontrar na moda uma forma de se reerguer. Foi assim que ela chegou à ideia de “moda intuitiva”. O tema deu origem a um livro e é pauta em suas palestras Brasil afora. Nesta semana, ela veio a Brasília a convite do Projeto Elevate e trouxe o conceito para um workshop com vendedores.

Nascida em Belo Horizonte, Cris trabalhou como redatora publicitária durante duas décadas.  Escrever sempre foi sua paixão. “Me considero hoje uma consultora de moda e comunicação, além de escritora e publicitária”, observa. Aos 47 anos, ela diz que a relação com a indústria é uma coisa “marginal”, tendo começado como uma tentativa consumista de minimizar a perda dos pais na juventude.

Hoje, o comportamento deu lugar a uma noção inspiradora sobre o universo, a qual ela compartilha nos textos. A autora de quatro livros ensina as pessoas a lidarem com tragédias como oportunidades de transformação.

Para ela, a moda veste de dentro para fora, é uma experiência sensorial. “Antes de ser uma impressão passada para o outro, é um estado de espírito que a roupa está imprimindo em você. É um poder muito grande” acrescenta.

Quer conhecer a trajetória da escritora? Vem comigo!

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Tudo começou com outra perda difícil. Era 2007, o momento de ascensão dos blogs. Cris estava animada com a espera de seu filho Francisco, depois de ter sofrido dois abortos espontâneos alguns anos antes. No sétimo mês de gestação, perdeu o marido de forma repentina – uma parada cardíaca. O menino nasceu e a vida se dividiu em sentimentos opostos. “Eu era a mãe mais feliz, mas a mulher mais triste, e estava convivendo com isso”, lamenta. A escrita, que já era sua profissão, se tornou um refúgio emocional.

“Minha vida pessoal e profissional foi muito afetada por esse acontecimento; não pelo fato em si, mas pela minha maneira de lidar. A forma de expressar o luto de forma saudável, de um jeito positivo, me ajudou bastante e me trouxe uma nova profissão.”

O nascimento da criança trouxe a esperança de um recomeço. Quatro meses depois, ela iniciou o blog Cartas para Francisco. Os textos contavam histórias emocionantes para o filho, sobre o pai, os avós e o sentimento de uma maternidade tão esperada. Os relatos pessoais começaram a rodar a internet, e ela foi notada no universo virtual. A partir dessa conexão consigo mesma, Cris Guerra achou uma forma de também expressar em palavras sua paixão pela moda, que ressurgiu no mesmo contexto.

Como isso aconteceu, você confere no bate-papo abaixo:

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Como iniciou sua trajetória como escritora?

Um mês depois do Cartas para Francisco, fiz experiências pós-parto de me reconhecer por meio da roupa e comecei a ir ao trabalho com trajes muito diferentes. Daí, resolvi tirar uma foto e iniciei um outro blog. Meus amigos achavam que eu estava louca. Passei a tirar uma por dia e chamei o blog de Hoje Vou Assim. Por um lado, me expressava com cartas, por outro, com o corpo, com roupas.

Os dois blogs ficaram muito famosos e as pessoas descobriram que eram da mesma autora. Fiquei muito conhecida na moda. Três anos depois, deixei as agências de publicidade e acabei virando autônoma. Comecei a ser chamada para palestras de moda e autoestima e decidi viver do blog. O Cartas Para Francisco virou livro, iniciei uma coluna em 2010, em uma rádio de Belo Horizonte. Surgiu outra carreira de comunicadora, não mais como publicitária.

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Então você criou o look do dia no Brasil por acaso?
Não existia isso no Brasil, nem sabia que havia o street style fora do país. Eu estava muito ligada no meu movimento, na minha vontade de me expressar. Foram seis anos com looks muito descontraídos, verdadeiros editoriais de moda da vida real, feitos na frente da agência. Alguns dias eu falava: “Hoje estou morta”, e tinha uma foto minha caída no chão.

A moda sempre foi um sonho e, depois, comecei a descobrir a necessidade da realidade. Mas as próprias blogueiras voltaram a forçar a fantasia. Você vê influencers que parecem não ter um verdinho no dente, completamente irreais, a favor do padrão de beleza. Isso era um diferencial no meu site. Mulheres começaram a escrever para mim dizendo que estavam se achando mais bonitas.

Antes de ser um blog de moda, era um espaço de empoderamento feminino. Estávamos falando ali de autoestima. A moda foi importante para o começo da minha identidade. Quando perdi o pai do meu filho, não me descuidei de forma alguma.

Filipe Cardoso/Especial para o MetrópolesVocê acha que sua relação com o consumismo mudou?
O Hoje Fui Assim foi a minha cura. Não sou mais uma consumidora compulsiva. Por meio dessa atividade diária, vi que o grande barato não é comprar uma roupa nova, é usar as peças de um jeito diferente. Foi quando fiz meu único livro sobre moda, em 2013. Ele é completamente didático, encorajando as mulheres a aprenderem consigo mesmas sobre o ato de vestir.

O que é moda intuitiva?
É uma “desmatematização” da moda. A comunicação trata o assunto de forma muito matematizada: pode ou não pode, o que usa com o quê, o que deve guardar ou comprar. Quando você fecha os olhos para isso e se conecta consigo mesma, é algo tão forte que você não vê a tendência, simplesmente descobre as preferências do seu corpo. Tive essa experiência e tento passar adiante.

Como os acontecimentos pessoais impactaram o seu estilo?
Sempre tive um estilo mais eclético, criativo. Posso estar mais esportiva, básica, dramática, sensual. Gosto de misturar muitas coisas. O mais legal na moda é se permitir passear por esses looks. É uma forma de trocar de pele, rejuvenescer. Isso é a moda intuitiva para mim: não uma imposição, mas um leque de possibilidades.

Por que ser o mesmo personagem todos os dias? O mais legal é dar vazão para todas as facetas que temos. Hoje em dia, meu jeito de vestir é mais preguiçoso, não tenho mais vontade de investir em tantas opções.

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles


O que você observa no mercado de moda brasileiro neste momento?

A moda está cada vez mais livre, mas ainda estamos presos a muitos padrões de beleza. Não me ligo muito em tendências, faço questão de não me informar sobre elas. O mercado está visivelmente cansado, não sabe mais como inovar.

Há uma grande quantidade de produção com roupas, de todos os lados. Não dá mais para jogar fora o guarda-roupa de verão e adquirir um novo de inverno. Percebo uma moda se questionando, se desafiando e respirando por aparelhos, porque está insano para quem produz e para quem vende.

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Quais personalidades você acha que se vestem de forma intuitiva?
Iris Apfel é uma decoradora nova-iorquina de 97 anos e virou uma it girl. Ela se veste de um jeito muito dela, é feliz com suas escolhas e traz muita juventude. Kate Moss tem personalidade para se vestir e a Chiara Gadaleta apresenta uma pegada ecológica que acaba sendo um pouco étnica.

Você tem indicações de marcas para ficarmos de olho?
Sou entusiasta da moda mineira, marcas que eu vejo o trabalho e abençoo. Não por ser de lá, mas se você der uma passeada, vai descobrir muitas riquezas [no estado]. O Brasil olha a produção de Minas de forma muito reducionista, como se fosse tudo feito à mão. A Apartamento 03 eu conheço desde as primeiras coleções. Além dela, Jardin, Lucas Magalhães, Printing também são muito legais.

Pode adiantar alguma novidade para os seus leitores?
Em setembro, lanço meu primeiro livro de crônicas. Se chama Procurava o Amor em Jardins de Cactos. Gosto tanto de escrita e moda que acho palavras até para vestir. A obra é um sonho antigo  colocado em prática, uma coletânea de crônicas relacionadas ao afeto de maneira geral, desde 2010 até as mais recentes. O que achei de melhor na seara do amor.

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Colaborou Hebert Madeira

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