Chanel não pretende abandonar o calendário tradicional de desfiles. Entenda
A maison apresentou a coleção de Cruise 2020/21 em formato digital, mas quer manter o ritmo habitual de coleções
atualizado
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A pandemia do novo coronavírus fez a indústria fashion buscar alternativas para se reinventar. A Saint Laurent e a Gucci, por exemplo, decidiram abandonar os calendários tradicionais de semanas de moda com o objetivo de estabelecer um ritmo próprio de produção. Por outro lado, apesar de ter apresentado a coleção Cruise 2020/21 em formato digital, a Chanel não pretende aderir a grandes mudanças definitivas.
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Contra a corrente
Nos últimos meses, as semanas de moda passaram por uma série de inovações e ajustes. Estilistas vêm se unindo a um movimento crescente para repensar processos criativos, prazos de entrega, formas de apresentação e até o número de coleções desenvolvidas por ano. Contudo, a Chanel não demonstra interesse em modificar o sistema.
Em entrevistas recentes, Bruno Pavlovsky, presidente de atividades de moda da Chanel, afirmou que ainda acredita na “maneira antiga”. O executivo informou que a maison planeja retomar o ritmo habitual, assim que as condições de saúde permitirem. Atualmente, as coleções da empresa francesa são: duas prêt-à-porter, duas de alta-costura, Cruise e Métiers D’Art.
“Preferimos ter seis ou mais coleções focadas a duas sem fim. Escolhemos esse ritmo e gostamos, e acreditamos que é o que nossos clientes querem ver em nossas lojas”, destacou ao WWD. “O desfile continua sendo a melhor maneira de expressar a criatividade e o know-how da marca”, completou Pavlovsky.
Ao Business of Fashion, Bruno Pavlovsky também afirmou que shows presenciais representam uma oportunidade abrangente de manter comunicação regular com os clientes. Além disso, acentuou o compromisso da Chanel de participação contínua no Paris Fashion Week.
“Cada coleção é bastante ágil e muito focada em um tópico”, enfatizou. “Outras marcas podem fazer o que quiserem, mas nós estamos trabalhando duro para tornar essa celebração criativa semestral de ready-to-wear para mulheres o mais influente possível”, ponderou o executivo.
Cruise 2020/21
Embora a Chanel tenha nítido desejo de se prender ao formato tradicional, a etiqueta precisou se adequar às mudanças temporárias, pelo menos enquanto a pandemia não acaba. O Cruise 2020/21, que aconteceria em maio, em Capri (Itália), precisou ser adiado e reformulado em nova proposta.
A coleção foi apresentada digitalmente nessa segunda-feira (08/06). Batizado de Balade en Méditerranée, o trabalho foi divulgado pelo site internacional e pelas mídias sociais da Chanel. A solução foi uma série de fotos e vídeos com looks variados.
O número de visuais precisou ser reduzido. O resultado foram roupas versáteis e funcionais. “Tivemos que nos adaptar: não apenas decidimos usar tecidos que nós já tínhamos, mas a coleção, de maneira geral, evoluiu para uma viagem pelo Mediterrâneo… As ilhas, o cheiro do eucalipto, os tons rosados das buganvílias”, ressaltou Virginie Viard, diretora criativa da label, em comunicado.
Virginie trabalhou com referências de atrizes do anos 1960 que passavam as férias em regiões costeiras da França e da Itália. Nas peças, tecidos rebuscados incrementam modelagens modernas. Itens feitos de seda e algodão sustentáveis chamam a atenção, sem falar no icônico tweed.
Proporções menores
Vale destacar que a Chanel ficou conhecida por realizar verdadeiros espetáculos sob o comando de Karl Lagerfeld. O alemão não economizava nas produções e transformava o Grand Palais – edifício parisiense que já virou tradição nos shows da grife – em cenários espetaculares, criativos e extremamente particulares. No entanto, o exagero parece ter ficado no passado.
Apesar da luta da Chanel pela permanência do formato tradicional das semanas de moda, os shows da maison devem ser cada vez menores e menos extravagantes. “Estamos entrando em um período um pouco diferente, provavelmente mais íntimo”, explicou Bruno Pavlovsky ao WWD. “O Grand Palais oferece muitas possibilidades. É um local espetacular por si só”, avaliou.
Virginie Viard já vem investindo em uma pegada diferente desde que assumiu o cargo, após a morte de Lagerfeld. Não só na estrutura dos desfiles, mas principalmente nas coleções. Há quem diga até que a designer não está conseguindo manter o famoso DNA da Chanel.
“Será necessariamente menor. Foi ótimo com Karl, e um período extraordinário, mas, agora, não faz mais sentido”, disse Virginie, ao WWD, sobre a fase mais simplista. “Quero voltar aos desfiles de moda. É tão divertido. No fim das contas, a moda é divertida: os modelos, os acessórios, tudo isso voltará assim que puderem viajar novamente”, acrescentou a estilista.
Colaborou Rebeca Ligabue