Black is back? Elle alemã se desculpa após conteúdo racista
Na edição de novembro, a revista confundiu duas modelos negras e foi criticada por dizer que “O preto está de volta”
atualizado
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Um conteúdo da edição de novembro da revista Elle alemã deu o que falar nas redes sociais nessa terça-feira (29/10/2019). Na página, com a chamada “Black is back” (O preto está de volta, em tradução livre), a intenção era destacar “mulheres negras que trabalham como modelos”. Porém, para o perfil Diet Prada e vários internautas, a publicação errou ao usar a expressão de conotação racista ao abordar o assunto. Para piorar, uma das manequins teve o nome confundido com o de outra colega. Depois da polêmica, a revista se desculpou pelo ocorrido.
Intitulado “Super, Girls!” (Super, Garotas), o texto apresenta seis modelos negras: Anok Yai, Adut Akech, Mayowa Nicholas, Aliet Sarah, Joan Smalls e “Janaye Furman”. A foto de cada uma acompanha uma pequena descrição e informações como idade e o username do Instagram.
“Modelos de cor nunca foram uma demanda como são agora, mas estas grandes mulheres também nos inspiram fora das passarelas”, diz um trecho da página polêmica.
Na imagem escolhida para Janaye Furman, no entanto, quem aparece é a modelo Naomi Chin Wing. Outro detalhe controverso é a inclusão da veterana Joan Smalls entre as “recém-chegadas”.
Conhecido pelas críticas ácidas a estilistas, marcas e publicações de moda, o perfil Diet Prada elencou vários problemas a respeito do conteúdo. Um deles é a própria capa da edição da revista, com a frase “Back to black” estampada com uma modelo branca.
Por mais que a edição seja voltada principalmente para a cor preta em peças de roupa – como pontuou o Fashionista –, também é polêmico que seres humanos sejam incluídos nessa “tendência”.
“Para a edição de novembro de 2019, uma publicação presumivelmente liderada por brancos declara que ‘o preto está de volta’. Irônico que eles, junto com grande parte da indústria da moda, foram cúmplices em negar visibilidade a modelos até recentemente”, escreveu a dupla por trás do Diet Prada, com 1,6 milhão de seguidores.
Em outro post, o perfil ironiza a situação com um trecho do filme Corra! (2017, Jordan Peele), no qual um casal diz: “Preto está na moda”.
Quem não gostou nada da abordagem da revista foi a supermodelo Naomi Campbell. Ela, inclusive, se ofereceu para ajudar caso a empresa não esteja esclarecida sobre “as linhas de diversidade”. Para a top, o erro da Elle é “altamente insultuoso em todos os sentidos”.
“Vocês vão além ao dizer que ‘O preto está de volta’. Eu já disse inúmeras vezes que não somos uma tendência, nós estamos aqui para ficar. Não há problema em celebrar modelos de cor, mas faça-o de maneira elegante e respeitosa”, escreveu no Instagram.
Naomi também disse que, ao longo da carreira, viu outras modelos negras serem chamadas por seu nome, só por causa da cor da pele. Segundo ela, isso é o que vem acontecendo com Adut Akech. “É muito importante que uma publicação seja culturalmente sensível e dê o crédito onde é devido.”
A diretora de moda da revista Garage, Gabriella Karefa-Johnson, que é negra, se manifestou no Instagram Stories. Nas declarações mencionadas pela Teen Vogue, ela chamou a atenção para o quão problemático é o erro no nome da modelo, uma vez que a produção de publicações impressas envolve várias pessoas.
“Isso significa que nada menos que quatro pessoas leram, e ninguém viu o erro… Ou os editores responsáveis não se importam o suficiente para dar a mesma atenção que dariam a qualquer outro conteúdo da revista, ou não podem dizer a diferença entre dois modelos negros”, comentou.
Nos comentários do Diet Prada, vários internautas se manifestaram. Um deles foi a própria modelo Adut Akech, que aparece entre as seis listadas na página polêmica. “Tão repugnante! Estou farta disso, honestamente”, reclamou.
Depois da polêmica, a publicação divulgou um comunicado sobre o caso nesta quarta-feira (30/10/2019). No texto, assinado pela editora-chefe Sabine Nedelchev, a revista alemã reconhece que cometeu “vários erros” e se desculpou pelas pessoas que se ofenderam com a situação.
A edição, segundo ela, tinha como intenção abordar a cor preta em “diferentes ângulos” – isso inclui modelos negras dentro da indústria fashion.
“Foi um erro usar a chamada ‘O preto está de volta’, que pode ser entendida como se os negros fossem uma espécie de tendência da moda. Obviamente, essa não foi nossa intenção, e foi nosso erro não sermos mais sensíveis a isso”, lamentou a Elle.
Sobre confundir os nomes das modelos, a nota diz que a empresa está “ciente do quão problemático isso é”. “Definitivamente, essa foi uma experiência de aprendizado para nós e pedimos desculpa”, finaliza.
Nas últimas semanas, a revista australiana WHO Magazine passou por uma situação parecida. Ao publicar uma entrevista com Adut Akech, a foto que ilustrava a matéria era de outra profissional negra, Flavia Lazarus. “Isso me chateou, me deixou com raiva, me fez sentir muito desrespeitada e, para mim, é inaceitável e indesculpável sob quaisquer circunstâncias”, desabafou Adut.
Problemas como esse chamam atenção para a falta de diversidade nos ambientes corporativos e cargos de chefia. Infelizmente, situações como essa se repetirão enquanto isso não for uma unanimidade.
A Gucci, por exemplo, contratou uma chefe de diversidade e criou um programa global de inclusão após ser acusada de blackface por causa de um moletom da coleção FW18. Será que a Elle vai seguir o exemplo?
Colaborou Hebert Madeira