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Azzedine Alaïa, o estilista que trouxe à tona a mulher sexy e poderosa

Estilista faleceu no sábado (18/11), deixando um legado inesquecível para o mundo da moda. Vem comigo!

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Eu sempre fui fã de Azzedine Alaïa. Ele foi uma dessas pessoas que, simplesmente, nasceram para quebrar as regras. Tinha suas próprias convicções, era caprichoso e não seguia o calendário da moda. Só apresentava a coleção quando sentia estar tudo pronto e praticamente perfeito. Foi um dos precursores do estilo slow fashion — tendência do momento. Além disso, por causa de seu talento, vestiu as cantoras Lady Gaga e Madonna, celebridades de alto escalão como Kim Kardashian e, até mesmo, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama.

O corte de suas peças, embora clássicas, tinha um edge vanguardista. A moda de Alaïa era como uma nova forma de vestir o tradicional. Suas roupas eram atemporais, não carregavam estampas e nenhum tipo de desconstrução ou assimetria.

Alaïa era um escultor do corpo. Tinha a capacidade de fazer um vestido que modelava e, ao mesmo tempo, sustentava a silhueta de toda e qualquer mulher. Suas peças mais marcantes tinham uma famosa estética que ressaltava o busto e afinava a cintura.

Considerado um talento à frente de seu tempo, Alaïa era único e adorado pela indústria da moda. Tímido e reservado, o estilista foi um verdadeiro artista. Era conhecido por estar sempre usando um pijama chinês na cor preta e, apesar do rosto carismático, segundo relatos, ele podia ser rancoroso e nada pontual. Isso sem falar na idade, ainda algo incerto. Enquanto muitos afirmam que ele morreu aos 77, veículos da imprensa internacional garantem que, na verdade, ele se foi aos 82 anos.

Fã de animais, tinha três cachorros e oito gatos.

Para ele, a roupa era uma forma de conversar sobre o poder feminino, além de promover uma conversa cultural.

Vem comigo!

Infância
Filho de fazendeiros, Alaïa nasceu em Tunis, na Tunísia. Tinha um irmão mais novo e uma irmã gêmea — a qual considerava uma grande influência em sua vida. Porém, foi Madame Pinot (uma parteira da cidade e amiga da família) a primeira pessoa a incentivar o lado artístico do designer, dando-lhe livros para colorir e um exemplar com obras de Picasso. Foi ela, também, a responsável por inscrevê-lo na Escola de Belas Artes da Tunísia — contra a vontade do pai –, onde Alaïa estudou para ser um escultor.

Mais tarde, trabalhou em uma loja de vestidos fazendo o acabamento das peças. Foi a primeira experiência com o comércio, em um estabelecimento que produzia imitações de estilistas famosos, como Balmain. Em 1957, com a ajuda de amigos da família, desembarcou em Paris para trabalhar com Christian Dior. Contudo, ele teria ficado por lá apenas cinco dias, por não ter conseguido documentos necessários para continuar na capital francesa. Isso não o impediu de seguir em frente. Conquistou espaço ao lado de renomados estilistas franceses, como Guy La Roche e Thierry Mugler, antes de conquistar a própria clientela.

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Com a ajuda de pessoas influentes da época, como Greta Garbo e a socialite francesa Marie-Helene de Rothschild, o talento acabou se espalhando via boca a boca. Foi então que, em 1979, abriu o seu espaço homônimo na Rue de Moussy arrondesmant 4, no Marais — bairro histórico e descolado de Paris. Era ali que ele vestia, com exclusividade, a clientela da high society francesa e celebridades, como a escritora Louise de Vilmorin.

A casa do estilista — especificamente, a cozinha —  ficou marcada por ser o recanto das novas modelos daquela geração que mais tarde viriam a se tornar as célebres top models. Entre elas, estavam Linda Evangelista e Naomi Campbell. A última tinha uma relação muito próxima com o estilista, chegando a chamá-lo de “Papa”. Naomi já confessou, em uma entrevista, ter peças do designer de 21 anos atrás que veste até hoje. “Poucos estilistas conseguem fazer isso”, enfatizou a top model.

Sucesso
Em 1980, lançou a primeira coleção prêt-à-porter e, ao longo da carreira, investiu em diferentes materiais, desde malha e stretch até crepe e peças em pele. Não se pode negar que, em meio a ombreiras, peças oversized e muito brilho, ele introduziu vestidos que abraçavam e sustentavam a silhueta.

A sua roupa reflete a melhor versão possível das formas femininas. Sexy sem ser vulgar. O processo da modelagem era feito de dentro pra fora e, em 1988, ele já era um estilista renomado, admirado e bastante requisitado.

A silhueta de suas peças era tão precisa porque a modelagem vinha de manequins extremamente curvilíneos. Ele trouxe poder, sensualidade e glamour para o guarda-roupa das mulheres. Além de muita sofisticação e pouco adorno. A década esbanjou feminilidade.

Seu principal diferencial, além do incrível acabamento das peças, era lançar coleções no seu tempo, ao invés de seguir a agenda do mercado. Era o mundo da moda que vinha até Alaïa, e não o contrário.

Uma curiosidade: em meados de 1980, a designer de interiores Andrée Putman estava caminhando em Nova York, pela Madison Avenue, vestindo um casaco de couro de Alaïa. Um comprador da loja de departamento da Bergdorf Goodman a viu e ficou fascinado pela peça. Ele perguntou quem era o responsável. O desfecho foi o melhor possível: as peças do estilista passaram a ser vendidas em Nova York e Los Angeles.

Em 1984, o designer levou para casa dois troféus do Oscar de La Mode, oferecido pelo Ministério da Cultura da França. Além de ser condecorado com a melhor coleção da temporada, Alaïa foi eleito o melhor designer do ano. O evento foi memorável e contou com a presença da cantora jamaicana Grace Jones. Alaïa não era muito alto e isso possibilitou que a cantora o carregasse em seus braços durante a performance.

Reprodução/Instagram

Vestido feito por Alaïa para Grace Jones

 

Na época, duas grandes editoras de moda — Melka Tréanton, da Depeche Mode, e Nicole Crassat, da Elle Francesa, passaram a ajudá-lo com editoriais em suas revistas. Nos anos 1990, com o falecimento de sua irmã, ele se afastou dos flashes, mas continuou atendendo algumas clientes em casa. Ao mesmo tempo, o minimalismo desconstruído da década tirou um pouco o foco de sua estética.

Como a sua moda é atemporal e possui incrível corte e acabamento, essa situação não durou muito. Sobretudo porque ele não cedia a tendências e mantinha sua autenticidade. Em 1993, Madonna prestigiou o artista quando usou um de seus looks no vídeo Bad Girl. Em 1995, foi ele quem desenhou o vestido de casamento da supermodel Stephanie Seymor e, finalmente, em 1996, participou da Bienal de Moda, em Florença, exibindo uma incrível peça feita especialmente para a ocasião.

Em 2000, assinou uma parceria com o grupo Prada – marca italiana de luxo—, por, aproximadamente, sete anos. Em seguida, foi o grupo Swiss Luxury Group Compaigne Finaniere, dono da Chloè, Cartier e Van Cleef & Arpels, que investiu na grife. A Maison passou a criar acessórios. O estilista, no entanto, preferia mesmo se concentrar em roupas a it bags ou it shoes.

A paixão de Alaïa era o luxo discreto. Victoria Beckham chegou a dizer que Alaïa era o seu designer favorito. Ela vestiu uma de suas peças para duas festas do Oscar, em 2007.

O estilista voltou fortemente à ativa em 2011, quando lançou uma coleção surpresa de couture, que contou com Naomi Campell na passarela. O desfile foi realizado em sua boutique no Marais, na Rue de Moussy 4. Mais uma vez, ele mostrou porque tantas mulheres são apaixonadas pelas suas roupas – o acabamento é impecável e a feminilidade irresistível. O evento foi assistido por Donatella Versace e Sofia Coppola, entre outras celebridades.

Em 2015, lançou o perfume Alaïa Paris, criado por Marie Salamagne. A essa altura, já tinha mais de 300 lojas espalhadas pelo mundo. Criou também looks para o Balé e para a Ópera, além de fazer exposições de arte no próprio showroom. Para o futuro, tinha planos de abrir uma livraria.

Quando Yves St. Laurent se aposentou, grande parte da equipe foi trabalhar com Alaïa. Ainda assim, era ele quem fazia praticamente tudo, inclusive inspecionar cada detalhe. Isso era nítido.

Marion Cotillard, em 2005, vestiu um Alaïa para sessão de fotos com a Elle Francesa e, em 2009, usou novamente uma peça do estilista quando posou para a revista francesa Madame Figaro. Ela voltou a prestigiar o profissional em 2010, em um photoshoot para a Jalouse magazine, e em 2012, ao usar um vestido preto e branco para um evento de estreia do filme “Rust and Bone”, em Nova York.

Michelle Obama era outra cliente assídua de Alaïa. Ela usou o famoso vestido preto com babados e sem mangas para um jantar da NATO, em Strasbourg, França, em 2009. No mesmo ano, Michelle homenageou o artista na noite de estreia do American Ballet Theatre, em Nova York. Até então, primeiras-damas dos Estados Unidos só haviam vestido estilistas americanos.

Carla Bruni, ex-primeira dama da França, também valorizou o estilista quando vestiu uma jaqueta Alaïa em uma visita à Espanha. Lady Gaga é mais uma de suas clientes. Assim como Rihanna, Alicia Keys, Cindy Crawford, Kaya Gerber, Raquel Welch, Janet Jackson, Brigitte Nielsen, Tatiana Sorokko, Shakira, Franca Sozzani, Isabelle Aubin, Carine Roitfeld, Carla Sozzaniy, Beyoncé, Nicki Minaj, Gwyneth Paltrow, Solange Knowles, Naomi Campbell e Behati Prinsloo, entre outras.

Getty Images Getty Images

Altamente reverenciado pelas roupas que abraçam o corpo, Alaïa era um designer independente. Rejeitava as regras do fashion system, pois, segundo ele, isso atrapalhava o processo criativo do artista. Acreditava que a moda era um processo de construção e arquitetura.

Faleceu no dia 18 de novembro de 2017, em decorrência de um ataque cardíaco, deixando seu companheiro Christoph Van Wey e, com certeza, o mundo com saudades.

Confira outras obras-primas de Azzedine Alaïa. Até a próxima!

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