Adidas se compromete a aumentar contratações de negros e latinos em 30%
Etiqueta alemã garante “mudança duradoura” nas operações norte-americanas após funcionários denunciarem falta de diversidade
atualizado
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A marca esportiva Adidas não pretende deixar as reações ao movimento #BlackLivesMatter restritas ao universo virtual. Depois de apoiar a mobilização em suas redes sociais e repostar um vídeo da Nike no Twitter, abdicando da rivalidade com a concorrente em nome da causa, a etiqueta alemã reforçou seu compromisso com a diversidade ao prometer um aumento de 30% nas contratações de negros e latinos nas operações norte-americanas.
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De acordo com a marca esportiva, que emprega 10 mil pessoas nos Estados Unidos, a medida também se estende à Reebok, adquirida pelo grupo Adidas em 2005. “Os eventos das duas últimas semanas nos fizeram refletir sobre o que podemos fazer para confrontar as forças culturais e sistêmicas que sustentam o racismo”, declarou Kasper Rorsted, CEO da label esportiva, em um comunicado.
No texto, a companhia ainda reconheceu “a imensa contribuição da comunidade negra para o sucesso da empresa” e se comprometeu a investir US$ 20 milhões em programas de apoio à população afro-americana, além de financiar 50 bolsas de estudo anuais para os funcionários pretos e latinos.
“Enquanto falamos sobre a importância da inclusão, precisamos fazer mais para criar um ambiente onde todos os nossos funcionários se sintam seguros, ouvidos e tenham oportunidades iguais para avançar em suas carreiras”, explicou Rorsted.
Homogenização interna
Os gestos da companhia surgem após 200 funcionários da filial de Portland, Oregon, protestarem contra a desigualdade racial existente na entidade, que tem 60 mil empregados espalhados pelo mundo.
Julia Bond, uma assistente de design, deu início às queixas. No texto divulgado pela profissional, ela relata que as medidas de inclusão da Adidas são mais relacionadas ao marketing do que a um real desejo de equidade. “Você vê imagens de si mesmo por toda parte, mas, olhando para dentro da empresa, quase todos são brancos”, afirmou.
Desde 2019, quando o The New York Times revelou que apenas 4,5% dos colaboradores da Adidas são negros, junto a relatos de funcionários falando sobre o racismo estrutural nas entranhas da etiqueta, a label tenta mudar sua imagem perante os consumidores.
“Vidas negras importam. Reconhecemos a imensa contribuição da comunidade negra para nosso sucesso e de outros. Prometemos melhorar nossa cultura corporativa para garantir equidade, diversidade e oportunidade. Entendemos que a luta contra o racismo deve ser contínua e ativa. Temos que fazer melhor, e faremos”, declarou a corporação após os protestos nos EUA.
A promessa por mais contratações, todavia, não parece ter surtido tanto efeito. Depois da divulgação da medida, um grupo de 83 funcionários solicitou ao conselho de vigilância da etiqueta uma investigação sobre a diretora de recursos humanos Karen Parkin, acusada de ter minimizado os problemas raciais do grupo de moda. Os colaboradores ainda sugeriram a criação de uma plataforma anônima para denúncias relacionadas à desigualdade, disse a Adidas à AFP.
Segundo o Wall Street Journal, a responsável pelo RH da companhia minimizou a discriminação velada presente nos setores internos da marca em uma reunião da Reebok, no ano passado. À época, a executiva afirmou que o racismo é apenas um “ruído” do mercado norte-americano e é tratado de forma isolada, sem afetar as demais etiquetas do grupo.
Retratação e recuperação
Na última sexta-feira (12/06), Parkin foi às redes sociais pedir desculpas, afirmando que “deveria ter usado palavras mais adequadas” no encontro. Em comunicado, a Adidas lembrou que já conta com um número de telefone dedicado às denúncias dos colaboradores. “Sempre estaremos contra a discriminação, em todas as suas formas”, declarou o conglomerado alemão.
Depois de registrar uma queda de 93% em seus lucros e recorrer a um empréstimo de 3 bilhões de euros para se reerguer após a pandemia, a Adidas informou, no início de junho, que dois terços das operações físicas já voltaram a funcionar, em horário integral ou reduzido.
Na China, as vendas de maio chegaram a superar as registradas no ano passado. “O déficit de movimento foi compensado pelo aumento nas taxas de conversão e pelo crescimento excepcional no comércio eletrônico”, afirmou a gigante esportiva. Do outro lado do Pacífico, na América, a recuperação promete ser mais lenta. A maioria dos endereços físicos permanece com as atividades comerciais suspensas e os EUA, um dos principais mercados da Adidas, deve ser o último país a reabrir as lojas da companhia, devido ao crescente número de casos da Covid-19 por lá.
Se a empresa alemã não se apressar em implementar soluções reais para racismo estrutural que a acompanha desde suas origens, a recuperação no território norte-americano pode ser ainda mais prejudicada pela imagem negativa deixada pelos depoimentos dos funcionários. É hora de se posicionar com ações palpáveis, pois o consumidor está cansado de medidas superficiais.
Colaborou Danillo Costa