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Segundo delator, Ricardo Leal controlava quatro contas na Suíça

O ex-conselheiro do Banco de Brasília (BRB) é apontado como o articulador do esquema criminoso envolvendo a cúpula da instituição financeira

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Prédio do BRB no Setor de Bancário Sul – Brasília – DF 04/11/2015
1 de 1 Prédio do BRB no Setor de Bancário Sul – Brasília – DF 04/11/2015 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Apontado como o líder de um esquema criminoso de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, corrupção, tráfico de influência e pagamento de propina envolvendo o Banco de Brasília (BRB), Ricardo Leal mantinha, segundo um dos delatores das negociatas, Lúcio Bolonha Funaro, conta no Credit Suisse e se valia de pelo menos outras três ligadas a pessoas próximas a ele para movimentar as ações ilegais.

É praxe no banco suíço, assim como ocorre em outras instituições financeiras no exterior, que, além de numeradas, todas as contas sejam identificadas por nomes.

A de Ricardo Leal, conforme relatou Lúcio Funaro às autoridades, era Habanera. Uma referência à capital de Cuba. “Eu mesmo usei a conta no Credit Suisse, quando pagava propina para ele (Ricardo Leal)”, revelou o operador financeiro em depoimento gravado e anexado pelo Ministério Público Federal (MPF) na ação que autorizou buscas, apreensões e prisões no âmbito da Operação Circus Maximus.

Pivô de grandes escândalos, como o Mensalão, e operador confesso de negociatas e transações escusas, Funaro contou aos procuradores que foi apresentado a Ricardo Leal na metade da década de 1990 como alguém que poderia facilitar uma negociação de títulos para os quais ele (Funaro) buscava liquidez. “Desde o começo soube de uma possível comissão ‘por fora’. Era como eles atuavam”, afirmou o delator.

Até 2015, quando estourou a CPI dos Fundos de Pensão, que investigou rombo de R$ 46 milhões nessas modalidades financeiras, Ricardo Leal era um dos sócios da Sintonia DTVM. Dividia a propriedade dessa Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários com Adonis Assunção Júnior, que, até a deflagração da Circus Maximus, era diretor de Operações e Negócios do BRB Seguros. Adonis foi uma das 13 pessoas presas durante a ação policial do último dia 29.

Reportagem publicada pelo Metrópoles revelou também que a Sintonia DTVM teve em seu quadro societário Antônio Aureliano Sanches de Mendonça (um dos filhos do ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves). A conexão abriu portas para que Leal, na década de 1990 e nos anos 2000, indicasse diversos diretores para fundos de pensões estatais e federais, além de dirigentes de instituições públicas federais.

Foi assim que Ricardo Leal – hoje apontado chefe de um esquema que teria movimentado R$ 400 milhões em negócios escusos no BRB – teria começado a montar sua teia de influência na capital federal.

Conta “governador”
Aos procuradores, Funaro afirmou que alguns bens de Leal e até mesmo “o produto dos delitos em operações financeiras ilícitas podem estar em nome ou sob a guarda de Adonis”.

Funaro revelou que Adonis seria o titular de uma conta no Credit Suisse. O operador financeiro, que admitiu transações ilegais com a dupla, frisou que as movimentações financeiras estariam à disposição dos interesses de Leal. A conta teria sido batizada de “governador”. De acordo com o delator, Leal ainda utilizava outras duas contas no banco estrangeiro cujos nomes seriam Patton e Freeze.

Ricardo Leal, o arrecadador
Apelidado de Chuck, Criança ou Kid, pela precocidade com que iniciou suas peripécias financeiras, Ricardo Leal foi arrecadador das campanhas de Rodrigo Rollemberg (PSB) ao Senado (2010) e para o Governo do Distrito Federal em 2002 e 2014. Em 2015, Leal assumiu o comando do Conselho de Administração do BRB, indicando vários nomes de sua confiança para o corpo diretivo do banco.

Ainda em depoimento aos procuradores, Funaro relatou ter recebido uma ligação de Leal no início da gestão Rollemberg. “Ele contou que tinha nomeado todas as diretorias do BRB que interessavam a ele e que indicou o Adonis”, disse, numa referência ao fato de que se conheciam.

Sobre a relação de Leal com Rollemberg, Funaro disse ser uma “amizade fraternal”. “Almocei com os dois durante a campanha, quando Rollemberg disputava o posto de governador. Leal já tinha grande influência sobre ele”, afirmou o delator.

Na época em que era senador, Rollemberg articulou a nomeação da filha de Leal, Flávia Maria Cardoso Leal Zardi, para o gabinete da liderança do PSB, em 2014. Ela foi exonerada do cargo em agosto do ano passado. Flávia é casada com Gustavo Zardi, filho de Roberto Zardi, então lobista da construtora OAS em Brasília, uma das empresas que se tornaram alvo da Lava Jato.

Ricardo Leal só deixou a função de conselheiro do BRB no dia 11 de fevereiro de 2017. A saída dele foi logo após vir a público decisão de Lúcio Funaro em delatar o que sabia sobre figurões da República ligados ao MDB e também entregar o esquema do BRB.

Operação Circus Maximus
No dia em que Leal foi preso, outras 12 pessoas foram detidas – uma não foi detida por morar nos Estados Unidos. Entre elas, integrantes da cúpula do BRB acusados de envolvimento em negociatas com empresários do Rio de Janeiro e de Brasília. São investigadas três operações da instituição financeira: o Edifício Praça Capital, no DF; o LSH Lifestyle Hotel, no Rio de Janeiro; e a reestruturação da dívida do jornal Correio Braziliense.

Além de favorecer empreendimentos privados, os delatores sustentam que o esquema teria sido utilizado para quitar dívidas de campanha de Rodrigo Rollemberg.

Dívida eleitoral
As investigações sobre negócios fraudulentos no BRB apontam suposto beneficiamento da candidatura de Rodrigo Rollemberg, em 2014, ao GDF. De acordo com delação do empresário Ricardo Siqueira Rodrigues, tesoureiro do socialista na disputa e ex-conselheiro do banco, Ricardo Leal teria recebido R$ 100 mil em dinheiro de propina para saldar dívidas de campanha do ex-governador.

Com base em depoimento de Rodrigues, o operador Henrique Domingues Neto, aliado de Ricardo Leal, o procurou em fevereiro de 2015 para tratar de um aporte de R$ 3 milhões do BRB ao instituto de Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) do município de Santos (SP). Segundo relatado aos promotores, o negociador teria dito que a operação seria possível mediante propina de R$ 250 mil em favor do conselheiro, “sendo R$ 100 mil em espécie para saldar dívidas da campanha para o Governo do DF”.

Rodrigues afirmou aos procuradores que o pagamento ilícito foi efetuado por ele em moeda corrente, em 25 de fevereiro daquele ano, no escritório particular de Ricardo Leal, com a presença de Henrique Neto. “O dinheiro foi transportado em voo comercial pelo colaborador”, detalha o Ministério Público.

O montante teria sido viabilizado mediante lavagem de dinheiro efetuada pela empresa Globomix Serviços de Concretagem LTDA. Para tanto, a fornecedora de cimento apresentou notas falsas com uma quantidade de material “completamente irreal”, segundo os investigadores, para obra do empreendimento LSH Hotels. O restante da propina, no valor de R$ 150 mil, teria sido repassado em encontro posterior promovido pelo grupo.

Amigos íntimos
Lúcio Funaro e Ricardo Leal tinham relação muito próxima até ser decretada a prisão preventiva do operador financeiro, em julho de 2016. A foto abaixo, na qual os dois trocam beijo e abraço, foi tirada no dia do casamento da filha de Ricardo Leal, em Brasília.

Imagem cedida ao Metrópoles

 

Antes de entregar Leal aos MPF, Funaro o considerava como um “amigo íntimo”, como afirmou em depoimento em vídeo. “Fui no casamento da filha dele, nos falávamos sempre por telefone”, contou o operador financeiro.

O delator descreveu Leal como uma pessoa discreta, mas, ao mesmo tempo, apreciador de luxos. “Ele leva uma vida muito boa, mas é extremamente low profile. Ele não ostenta grandes coisas, mas só viaja de primeira classe, só fica em bons hotéis. Não deixa transparecer o dinheiro que tem”, relatou Funaro.

O outro lado
O responsável pela defesa de Ricardo Leal é o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Hamilton Carvalhido. Para o advogado, as declarações de Lúcio Funaro não deveriam ser consideradas pela Justiça. “Ele não é técnica nem juridicamente delator. É um simples ‘caguete’ que está fazendo acusações levianas em busca de benefícios. Um velho X9 que tenta agradar a polícia falando de supostos crimes de outras pessoas sem nada revelar dos seus”, afirmou.

O advogado de defesa de Adonis Assunção Júnior, José Calvin Diniz Júnior, não atendeu aos telefonemas e não se posicionou sobre a operação até a última atualização deste texto.

O ex-secretário de Comunicação do governo Rollemberg Paulo Fona disse que não houve dívida na campanha eleitoral de 2014. “Todos os serviços contratados foram devidamente quitados antes mesmo da apresentação das contas, as quais foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) ainda no ano da eleição.”

Em nota, o partido do ex-governador alegou que, “na gestão socialista, no período 2015/2018, o BRB teve autonomia administrativa e financeira para agir, sempre com base em critérios éticos e de legalidade, sem qualquer interferência do governo nos negócios e aplicações do banco”.

Já o BRB afirmou, em nota, apoiar e cooperar “integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem a operação”. Pontuou, também, que a ação corre em segredo de Justiça e todas as informações serão repassadas exclusivamente às autoridades policiais. “O BRB adotará todas as medidas judiciais cabíveis visando preservar o banco e suas empresas controladas”, completou.

“As delações, nesse caso, são exemplos clássicos de desvio de finalidade do instituto, amparadas em mentiras e desprovidas de provas. Não há qualquer elemento concreto que indique a participação do Henrique na prática de crime, a não ser a vontade dos delatores de se verem livres de seus delitos”.
disseram Pedro Ivo Velloso e Ticiano Figueiredo, advogados de Henrique Domingues Neto e Henrique Domingues Leite.

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