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Culpados ou inocentes? Dez anos depois, a população precisa saber o desfecho da Pandora

Até hoje, dezenas de processos gerados a partir da operação que desvendou o maior escândalo de corrupção da história do DF seguem pendentes

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KACIO PACHECO/METRÓPOLES
arte caixa de pandora
1 de 1 arte caixa de pandora - Foto: KACIO PACHECO/METRÓPOLES

Vinte e sete de novembro de 2009. Um dia que entraria para a história do Distrito Federal e ressignificaria para muitos personagens da política candanga aquele gosto simpático de uma sexta-feita, véspera do ócio. Durante muito tempo depois dessa data, quem deve temeu receber em véspera do fim de semana a visita da polícia. Até hoje, não entendi muito bem a lógica, mas muitas operações foram, por um bom tempo, realizadas preferencialmente nas madrugadas despretensiosas das sextas-feiras. Com o bueiro aberto pela Lava Jato, dias úteis tornaram-se insuficientes. E as operações passaram a se multiplicar, inclusive, aos fins de semana, feriados e dias santos.

Mas naquela sexta de quase uma década atrás, antes que a capital federal despertasse para o trabalho, a escola, a ginástica, o passeio com o doguinho, um terremoto estava em formação na cena política do DF.

Apoiados pela Polícia Federal, promotores do então Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC), hoje Gaeco, faziam, naquela data, o primeiro movimento público da operação que, batizada Caixa de Pandora, revelou-se o mais abrangente esquema de corrupção ao qual se teve notícia no DF.

Outras importantes operações, como a Aquarela (que puxou pelo rabo o desvio da bezerra de ouro) ou, mais recentemente, a Drácon, pontuaram na escala Richter de abalos sísmicos da política brasiliense. Mas nada, até hoje, se compara ao que se sucedeu naquele 27 de novembro de 2009.

Os promotores de Justiça apontavam em detalhes a dinâmica que fazia girar a engrenagem entre governo, Câmara Legislativa e iniciativa privada. O combustível era propina in natura: maços de dinheiro. Centenas de milhares.

Se contada, uma história dessas já teria altíssimo poder de combustão. Mas o que se viu quando se destampou a Caixa de Pandora foi muito além do que o relato de terceiros poderia alcançar. Dali, emergiu a chamada videoteca de Durval Barbosa, pioneiro no instituto da delação premiada.

Os cidadãos candangos ficaram petrificados a cada vídeo que surgia estrelado por figuras públicas recebendo, das mãos de quem confessou toda a roubalheira, dinheiro de origem ilícita para bancar acordos criminosos.

Quem não se lembra das cenas da deputada enfiando dinheiro na bolsa? Ou escondendo maços nas meias e paletós? O próprio governador na época, José Roberto Arruda, protagonizou um dos filmes, quando recebeu pacote de dinheiro das mãos de Durval.

Sem dúvidas, os vídeos anabolizaram o potencial devastador das denúncias feitas pelo delator. Mas as filmagens e áudios reunidos em diligências não foram as únicas provas colhidas ao longo da instrução das dezenas de denúncias geradas a partir da Pandora.

Muitas outras fontes alimentaram os promotores para que formassem convicção em torno da existência de um esquema segundo o qual integrantes do primeiro escalão do governo, unidos em organização criminosa, cobravam propina de empresários interessados em manter negócios com o GDF. O dinheiro sujo pagava, também, mesada aos deputados distritais que só se alinhavam ao governo estimulados pelo pixuleco.

Independentemente dos vídeos, a materialidade colhida pelo Ministério Público do DF incriminou 45 pessoas, que se tornaram rés em decorrência da Pandora.

Entre as quais, o então vice-governador e empresário Paulo Octávio, que, ao completar 70 anos em fevereiro, pode se livrar de pelo menos um dos crimes que lhe são imputados, o da formação de quadrilha. Isso ocorrerá por que ele foi considerado culpado e pagou a pena? Não. Por que ele foi inocentado e nada deve à sociedade? Também, não.

Simplesmente, por que passados 10 anos da Operação Caixa de Pandora, cinco desde a denúncia, o empresário ainda não foi julgado. Não será o primeiro a se beneficiar das circunstâncias, como revela reportagem assinada por Manoela Alcântara. Outros três réus também conseguiram empurrar seus processos até o precipício da prescrição.

Mas e a sociedade? Qual resposta merece toda a população que naquela manhã de novembro começava a assistir boquiaberta às cenas explícitas de corrupção, muitas das quais seriam compreendidas sem legenda e até no cinema mudo?

O alarde que se fez sobre possível edição de vídeo não pode justificar um atraso de 10 anos no desfecho de tão retumbante escândalo. Quem vasculhou a caixa de Pandora sabe que há, ali, muito mais do que os flagrantes em vídeo de políticos com a mão naquilo e aquilo na mão.

Por tudo o que se viu, se ouviu e se apurou é uma vergonha constatar que a Pandora vai fazer 10 anos e só quem tem a comemorar são réus mal-intencionados, para quem a prescrição, o esquecimento e a dúvida são a melhor saída. Os que, eventualmente, forem considerados inocentes merecem nossa empatia, consideração e desculpas, afinal terão vivido 10 anos de suas vidas sob desconfiança.

A demora em um desfecho do que foi o maior escândalo de corrupção sediado na capital da República produz injustiça, pune inocentes e protege os culpados.

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