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Surras para punir uma reprovação. Esse é o caminho?

Agir com violência em situações delicadas da vida dos nossos filhos apenas os farão ter dificuldades em expressar seus problemas

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A 40 dias do fim do ano letivo, o drama familiar começa a ficar claro: algumas crianças e adolescentes reprovarão. E, muitos deles, levarão uma “bela surra”. Será que bater em nossos filhos resolverá o problema da reprovação?

Antes de falarmos sobre surras, é preciso refletir sobre a reprovação. Nenhum aluno reprova no fim do ano. Trata-se de um processo que dá seus primeiros sinais nas primeiras provas, nas anotações constantes na agenda dos professores, nas faltas na escola, na omissão em reagir diante das notas que permanecem caindo.

Reprovar é o resultado de um conjunto de ações realizadas pelo aluno e pelos seus pais ao longo do ano. Sim, os pais fazem parte do processo: a maioria dos alunos que reprovam têm pais que não estão acompanhando de pertinho o dia a dia da escola e o desempenho dos filhos.

Agir com violência em situações delicadas da vida dos nossos filhos apenas os farão ter dificuldades em expressar seus problemas e a lidar com eles – entre outros traumas.

Em minha trajetória como educadora, há mais de uma década, percebo o quanto a disciplina positiva é mais efetiva. Trataremos dela profundamente em outras colunas.

Falar sobre como reagir diante da reprovação dos nossos filhos nos fará refletir sobre nossas condutas, em como fomos criados e quais comportamentos foram alimentados ao longo da nossa criação que nos fazem agir com violência em situações tão importantes da nossa vida familiar. A reprovação deveria ser um momento de reflexão, acolhimento, jamais um momento recheado de violência. Essa violência apenas revela o desequilíbrio emocional dos pais e a inabilidade de lidar com momentos-chave da vida dos filhos.

Suzana Gonçalves, psicóloga da linha terapia Cognitivo-Comportamental ensina: “O efeito da violência em nossos filhos pode destacar alterações emocionais, como sentimento de tristeza e desamparo, mudanças bruscas de estado de ânimo, irritabilidade, rebeldia, tremores diversos, culpa e ansiedade. Cognitivamente apresentam baixa no rendimento escolar, dificuldade de atenção e sustentação, desmotivação geral e em tarefas escolares. E também podem manifestar condutas agressivas, rejeição à figura adulta, hostilidade, marginalização, temor ao agressor”.

Eu sua conta Mais Conexão – Disciplina Positiva, a especialista Cristina Nunes nos ensina sobre o tema: “A psicóloga alemã Alice Miller defende a ideia de que as crianças não conseguem lidar com o fato de serem agredidas por quem deveria cuidar delas, por isso entram em um ciclo de negação do sofrimento e da humilhação, o que provoca mais tarde uma verdadeira cegueira emocional. Essa cegueira produz bloqueios de pensamento, que, por sua vez, inibem a capacidade dos adultos de aprenderem a partir de novas informações, de elaborá-las e “apagar programas velhos e ultrapassados” da mente. Ao mesmo tempo, o corpo guarda a memória da violência, e tudo isso leva o adulto a repassar às gerações seguintes, inconscientemente, as experiências traumáticas vividas”.

A psicóloga Susana Gonçalves completa o pensamento: “Trata-se de um processo de aprendizagem por meio de estímulos negativos, aversivos e violentos. Se ao longo do desenvolvimento a criança não for amparada por modelos adaptativos que atendam às necessidades afetivas básicas, como vínculo seguro, autonomia/competência, limites reais, liberdade de expressão, espontaneidade e lazer, estará vulnerável a desenvolver psicopatologias e a reproduzir tais condutas repressoras”.

É o que acontece com a maioria de nós. Não queremos gritar, não queremos perder o controle e reagir violentamente com os nossos filhos. Mas a raiva muitas vezes emerge e nos domina.

Para a educadora Cristina Nunes é possível quebrar esse ciclo vicioso. “Exige dedicação e um esforço consciente. É preciso olhar para nossas feridas da infância, para nossa criança interior, acolhê-la em sua dor, chorar, chorar mais um pouco…”

Para educar com amor e com equilíbrio é preciso, antes de tudo, se conhecer, se cuidar. Para alguns, a terapia é a saída, para outros, a meditação. A constelação pode ajudar também. Busque o meio que te fará se conhecer.

É preciso estudar sobre como fazer diferente, tentar, errar, tentar de novo, seguindo neste esforço de criar filhos com mais respeito, acolhimento e empatia sem castigo, palmadas, gritos ou humilhações, finaliza a educadora Cristina Nunes.

Se seu filho reprovou, encare o episódio como um desafio de crescimento para vocês – família e aluno – e avaliem o que não funcionou, encontrem saídas pra que esses erros não sejam repetidos no ano que vem. Mas, esteja presente, acolha seu filho e seja firme com a quebra de combinados entre vocês.

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