O que ensinamos aos nossos filhos quando abandonamos animais nas ruas?
Ter um pet é uma excelente oportunidade para as crianças desenvolverem maior senso de responsabilidade, solidariedade e afeto
atualizado
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Passeio diariamente com meus cachorros, às 6h30. Sou acostumada a cruzar com as mesmas pessoas e seus pets. Nos últimos dias, tenho visto um pai e uma garotinha de uns 13 anos passeando juntos com o novo animalzinho da família, o Floquinho. Um adorável Shih Tzu marrom. Floquinho foi dado pelo pai depois de muita insistência da filha. Muita mesmo, durante dois anos.
Esse pai estava supervisionando o passeio do novo integrante da casa, ensinando a filha a conduzir o bichinho, o que ter cuidado, como limpar as caquinhas do Floquinho. Em suma, ele estava ensinando e deixando claro que aquela obrigação era dela e não dele.
Ter um pet é uma excelente oportunidade para as crianças desenvolverem maior senso de responsabilidade, solidariedade e afeto. Os ganhos são imensos, mas com muitas obrigações não negociáveis. E são essas obrigações que devem ser discutidas antes da decisão de ter um pet.
Coloquem no papel absolutamente tudo: gastos com veterinário, alimentação, hotel e, acima de tudo, quem terá a responsabilidade de sair para passear com o novo mascote. Mesmo depois de ter tudo isso escrito e combinado, aguardem um pouco mais, repensem mais uma vez. Ter um pet é uma imensa responsabilidade.
Lamentável e tragicamente, a adoção de um pet sem uma boa reflexão leva algumas famílias a abandonar os animais na rua. Uma enorme barbaridade.
Vejo famílias comprarem e adotarem cachorros e gatos sem uma análise completa, perdendo uma excelente oportunidade de ensinar direitos e deveres aos filhos. E, mais grave que isso, considerando um eventual descarte do animal.
Não tratar esse tema com a devida atenção e respeito é banalizar um assunto muito sério: o abandono de animais e suas implicações na economia, na saúde pública e no direito. Sem falar da perversidade que é simplesmente abrir a porta do carro e chutar na rua um pet que não sabe se alimentar sozinho, que está acostumado com a família, que ama quem cuida dele
Independentemente de qual é sua conduta em relação aos animais, o fato é que eles são seres vivos que, ao serem abandonados, possivelmente morrem de fome, desnutrição, parasitas, doenças ou envenenamento.
E tem mais: o abandono de animais é uma forma de maus-tratos, crime que está tipificado, no Brasil, no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/98). O responsável está sujeito a uma pena de detenção de 3 meses a 1 ano, além de multa.
Outro dia, perguntei a uma amiga: “Soube que vocês compraram um cachorrinho para a Matilda [filha do casal, de 4 anos]. Qual o nome dele?” A resposta foi: “Era Gufi, mas devolvemos, ele era muito arteiro!”. Simplesmente devolveu. A “sorte” desse cachorro é que ele era de raça, e o vendedor o aceitou de volta. Se fosse um vira-latas, certamente a rua seria seu trágico destino.
Vale a pergunta: o que ensinamos aos nossos filhos quando descartamos os animais? Coisa boa não é. Se a questão dos maus-tratos não te toca, vamos considerar a política pública que envolve animais abandonados pelas cidades. Pessoas são contaminadas por micose, leptospirose, doença de Lyme, ancilostomose ou raiva.
Além disso, seu filho vai entender que animais são objetos descartáveis – e isso vai influenciar muita coisa na vida dele, não só em relação a outros seres vivos, mas também na forma de encarar os desafios e dificuldades da vida. Não se resolve uma dificuldade chutando-a pela rua.
No Brasil estima-se que existam mais de 30 milhões de animais abandonados, 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Desses, 10% estão abandonados. No interior, em cidades menores, a situação não é muito diferente.
Adotar um bichinho será espetacular para o seu filho. A vida com animais é mais feliz, mais saudável, mais responsável. O cachorro, o gato, o peixe, o passarinho e todos esses pets maravilhosos darão lições de amor ao seu filho a cada dia. Abandoná-los, além de um crime, é uma maldade que simplesmente não se faz.