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Educação financeira, um dever de casa que se aprende desde cedo

Na semana passada, falamos sobre consumismo infantil e suas consequências. O debate sobre o tema, no entanto, precisa evoluir para uma conversa sobre educação financeira para os nossos pequenos. Crianças que tiveram educação financeira na infância serão adultos que terão uma relação saudável com o dinheiro? Provavelmente, sim. Quem não quer ter filhos solventes na […]

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1 de 1 Father and daughter - Foto: istock

Na semana passada, falamos sobre consumismo infantil e suas consequências. O debate sobre o tema, no entanto, precisa evoluir para uma conversa sobre educação financeira para os nossos pequenos.

Crianças que tiveram educação financeira na infância serão adultos que terão uma relação saudável com o dinheiro? Provavelmente, sim.

Quem não quer ter filhos solventes na idade adulta, que gastam menos do que ganham? Quem não quer ter filhos que pensaram e agiram para ter uma aposentadoria confortável? Quem não quer criar filhos que não dependam de você aos 30 anos?

A jornalista e especialista em finanças Paula Andrade define: “Ensinar o seu filho a ter uma relação saudável com o dinheiro é permitir que ele possa escolher a profissão que mais gostar, independentemente do salário. É permitir que ele planeje e realize grandes sonhos. É permitir que ele se levante mais rápido caso passe por alguma restrição financeira. É mostrar que o dinheiro é apenas um instrumento a ser usado e não permitir que ele seja controlado pelo dinheiro”. Paula é autora do livro didático de finanças para crianças O Barato da Dona Baratinha.

Esses desejos parecem modestos, mas, no Brasil, a maior parte da população está endividada.
Precisamente, 55,6% das pessoas, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de janeiro de 2017.

O poder Executivo entendeu que falar sobre educação financeira é urgente e necessário desde 2010. Naquele ano, o governo federal instituiu como política pública a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). Ela é uma mobilização multissetorial em torno da promoção de ações de educação financeira no Brasil.

O objetivo da Enef, criada por meio do Decreto Federal 7.397/2010, é contribuir para o fortalecimento da cidadania ao fornecer e apoiar ações que ajudem a população a tomar decisões financeiras mais autônomas e conscientes. A estratégia surgiu de uma articulação entre sete órgãos, entidades governamentais e quatro organizações da sociedade civil, que juntos integram o Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef).

Educação financeira vai muito além das finanças e da matemática propriamente ditas, explica Paula Andrade. A questão tem mais a ver com comportamento, com a relação psicológica da criança com o dinheiro. A decisão de consumir, explica, passa por uma série de filtros e impulsos emocionais. “Uma criança de 2 ou 3 anos não entende nada sobre o valor financeiro de uma nota de R$ 10 ou de R$ 100. Mas ela já fala ‘eu quero’ ou ‘compra para mim’. Algumas até pedem para os pais pagarem no cartão”, diz a especialista. É nesse momento que acende a luz para o início da educação financeira.

Em vez de dar as tradicionais repostas “não vou comprar” ou “ok, qual você quer?”, os pais podem investigar um pouco mais a vontade da criança, num diálogo mais educativo. Por exemplo: “meu filho, por que você quer comprar isso?”. Essa pergunta retórica fará com que a criança pense no desejo de consumo dela, explica Paula. “Poderá abrir um universo de possibilidades de conversas sobre o dinheiro.”

A resposta sobre o porquê ajudará muito a corrigir visões distorcidas em relação ao dinheiro. Segundo Paula Andrade, algumas respostas comuns – “quero porque todo mundo tem”, “quero porque perdi o meu antigo”, “quero porque tem um lançamento mais novo e moderno” – podem ser trabalhadas para o jovem não se desenvolver achando que deve ter tudo que todo mundo tem, que sempre precisa do equipamento de última geração ou que pode dar tão pouco valor a um objeto a ponto de perdê-lo ou quebrá-lo com frequência. “Comportamentos assim podem levar a uma relação conturbada com o dinheiro na vida futura”, diz a especialista.

Dessa forma, a sugestão de Paula Andrade é que os pais incentivem os filhos adolescentes a buscar meios alternativos para ganhar o próprio dinheiro, para não dependerem de mesada. E que os pais participem dessa conquista do lado profissional em vez de apenas emprestar o cartão de crédito. Ajudem a planejar o orçamento do jovem, a pensar numa meta financeira e a projetar a realização de um sonho, como viajar para o exterior ou comprar um carro.

A pedido da coluna, Paula Andrade elaborou uma lista de dicas práticas de educação financeira para crianças e adolescentes:

  • Ajude a criança e o adolescente a pensar no “porquê” de ela querer algo. Ouça os motivos com seriedade e converse sobre eles;
  • Explique que, ao consumir, estamos produzindo mais lixo e gastando os recursos naturais;
  • Ajude a criar um plano com metas para juntar o dinheiro para comprar o objeto desejado;
  • Se entra algo novo em casa, ensine a se desapegar de um objeto similar velho;
  • Estimule o jovem a buscar formas alternativas de fontes de renda, principalmente nas férias, como ser baby-sitter, dar aulas de reforço, ser motorista de app de transporte, cuidar dos animais de estimação dos vizinhos, etc;
  • Se os pais optam por dar mesada, seja firme e não fique dando mais dinheiro no meio do mês. Nem presentes;
  • Estimule seu filho a vender os objetos que não usa mais;
  • Faça o planejamento anual das metas da família e deixe as crianças participarem dos debates. Definam o que vocês farão neste ano. Coloque a lista numa folha de papel, imprima e cole num local onde todos consigam ver todo dia (geladeira, por exemplo);
  • Ensine a criança e o jovem a planejarem o ano deles também;
  • Presentes não substituem a presença dos pais. Não ensine seu filho que afeto se compra; e
  • Seja coerente. Se você não quer que seus filhos consumam em demasia, não o faça também. O exemplo é a melhor lição.

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