metropoles.com

Saiba o que são as escalas que definem a identidade urbana de Brasília

Brasília tem as quatro escalas urbanas: a escala monumental, a residencial, a gregária e a bucólica. Nelas não se pode mexer

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Cristiano Gomes/Especial para o Metrópoles
Escalas de Brasilia
1 de 1 Escalas de Brasilia - Foto: Cristiano Gomes/Especial para o Metrópoles

É outra a medida das coisas e dos corpos nesta cidade que nos abriga. É uma medida cristalizada em volumes e vazios que não podem ser alterados, a menos que um maluco – e eles estão à solta – decida desobedecer às leis que protegem o tombamento do Plano Piloto.

Se o Rio tem o mar e as montanhas, Brasília tem as quatro escalas urbanas, os quatro modos de ocupar o espaço acima do chão e abaixo do céu. São elas: a escala monumental, a residencial, a gregária e a bucólica. Nelas não se pode mexer, caso se queira respeitar a lei e a condição de patrimônio da humanidade.

(Quando da conquista do título, a Unesco considerou Brasília um dos maiores feitos da história do urbanismo).

Para começar do começo e de um modo bem simplificado, em urbanismo/arquitetura escala é a proporção do corpo humano em relação ao espaço, seja ele construído ou não. É uma medida objetiva, mensurável, mas não apenas. Ela é influenciada pela cultura, pelo modo como o ser humano lida com a natureza, as divindades e as cidades de seu tempo.

Lucio Costa diz isso muito bem: “[…] a chamada escala humana é coisa relativa. Um italiano da Renascença, por exemplo, se sentiria diminuído se a porta de sua casa tivesse menos de cinco metros de altura”. A citação é do arquiteto Matheus Gorovitz em Brasília, uma questão de escala, página 53.

A palavra “escala”, tão presente no vocabulário brasiliense-apaixonado, não aparece no Memorial Descritivo do plano-piloto de Brasília, (plano-piloto em caixa baixa e com hífen, porque àquela altura não era nome de um bairro, era um substantivo comum).

É como se o criador só nomeasse as partes substantivas da criação depois de tê-las criado. Elas estavam lá, existiam como realidade, mas não haviam sido nomeadas. Então, eram a alma ainda não revelada de Brasília.

Até onde se sabe, Lucio Costa só deu nome à coisa em 1961, numa preciosa entrevista ao repórter Omar Abbud, do Jornal do Brasil, publicada em 8 de novembro.

Lá, ele diz: “É o jogo das três escalas que vai caracterizar e dar sentido a Brasília. A escala residencial ou cotidiana; a dita escala monumental, em que o homem adquire dimensão coletiva, a expressão urbanística desse novo conceito de nobreza. Finalmente, a escala gregária, onde as dimensões e o espaço são deliberadamente reduzidos e concentrados a fim de criar clima propício ao agrupamento. Poderemos ainda acrescentar mais uma quarta escala, a escala bucólica das áreas abertas destinadas a fins de semana lacustres ou campestres.”

Estava nomeada a alma da cidade: quatro escalas que compõem um só corpo.

4 imagens
Escala residencial
Escala gregária
Escala bucólica
1 de 4

Escala monumental

Cristiano Gomes/Especial para o Metrópoles
2 de 4

Escala residencial

Cristiano Gomes/Especial para o Metrópoles
3 de 4

Escala gregária

Cristiano Gomes/Especial para o Metrópoles
4 de 4

Escala bucólica

Cristiano Gomes/Especial para o Metrópoles

A escala monumental e a residencial são fáceis de identificar: a Esplanada dos Ministérios e as superquadras, respectivamente. As outras duas, a gregária e a bucólica, são as que nos juntam numa convivência coletiva (ou pelo menos deveriam fazê-lo).

A gregária: o setores Comercial, Bancário, de Autarquias, Hospitalar e a Rodoviária, mistura de arquitetura e urbanismo, de estrada e edifício, de comércio e rua. É ela, a Rodô do Plano, que faz a ponte Plano-Piloto/cidades-satélites.

A bucólica: os parques, as áreas verdes, o lago, os gramados, o espraiamento às vezes telúrico, não poucas vezes divino, e muitas vezes desumano. Extensos vazios que nos proíbem de ter contato mais próximo com gente de todo o tipo, a toda hora, em qualquer lugar.

Quando Lucio Costa nomeou e distinguiu as quatro escalas, deu a deixa que seria fundamental para que Brasília conquistasse o título de patrimônio da humanidade. Era a primeira cidade moderna a ser tombada – e como tombar uma cidade, que é um corpo essencialmente vívido, mutante, que vai se sedimentando no tempo? Era o mesmo que a transformar numa ruína sem destroços. Decidiu-se, então, tombar as escalas, ou seja, proteger o volume dos edifícios, a proporção entre eles, os espaços vazios, a alma da identidade urbana brasiliense.

A alma de Brasília está no corpo de Brasília.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?