Sem casamentos, fotógrafos da área se aventuram em novos projetos
Com o adiamento dos enlaces, os profissionais viram os trabalhos previstos para os próximos meses serem remarcados para depois de agosto
atualizado
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Por meio do olhar apurado, os fotógrafos eternizam momentos em cliques captados em uma fração de segundos. Sorrisos, lágrimas e outras emoções estampam as imagens, que carregam histórias a serem recordadas ao longo da vida. Assim é um pouco do trabalho dos profissionais especializados em cobrir casamentos.
Prévia dos noivos, sim no altar e recepção ao lado de familiares e amigos. Lá, estavam os fotógrafos atrás da câmeras, certamente, em busca do melhor ângulo para perpetuar a felicidade de um casal.
Com o adiamento de eventos, principalmente de enlaces, os profissionais viram os trabalhos marcados para os próximos meses ficarem em stand-by. Como a maioria das pessoas precisaram parar, reinventar-se ou adotar o home office, eles foram obrigados a deixar de registrar os casórios.
Mas, as cenas do dia a dia não passam despercebidas do enquadramento dos fotógrafos, que quando têm a oportunidade miram a lente à pessoa, item ou cena desejada. Bastou focar, apertar o botão, ouvir “clic” e mais uma fotografia da série quarentena foi feita.
A coluna Claudia Meireles conversou com três profissionais da área da fotografia de casamento. Eles dividiram o que tem feito durante o período sem registrar as cerimônias matrimoniais.
Plínio Ricardo
Diminuir o ritmo e fazer da quarentena um ócio criativo. As máximas regem a rotina do fotógrafo que, às vezes, acredita estar em uma história de livro de ficção científica. Plínio Ricardo não tem se cobrado quanto à produtividade e metas, antes seguidas à risca. Devido o atual cenário, ele busca aproveitar as oportunidades de pausa para deixar a mente relaxada e em contato com referências motivadoras.
Se antes falta tempo para ações simples, é a vez de conectar-se com a família, exercer a solidariedade, praticar hobbies domésticos e refletir no íntimo. Integrante do Instituto Brasiliense de Fornecedores Certificados em Eventos Sociais (Ibrafe), Plínio é o fundador do Projeto Entretanto, escola de criatividade em que realizam cursos e palestras com o objetivo de conectar pessoas e ideias.
Como um bom criativo, ele dedicou parte do dia a novos projetos. “Estou escrevendo um roteiro para uma série documental sobre a escritora norte-americana Susan Sontag e desenvolvendo um plano de negócios com um sócio”.
Embora desfrute como nunca do tempo livre, o artista visual está com saudades de pegar a câmera, colocar a lente mais apropriada e ser um bom contador de histórias: “Sinto falta de viver todo final de semana o dia mais especial da vida de alguém. Também de estar na rua, no sol quente, fotografando o frenesi da cidade”.
Com a maioria dos casamentos remarcados, apenas um adiado, o fotógrafo almeja voltar a viver com alegria ao fim da pandemia da Covid-19. Mesmo que falte confiança por parte das pessoas a presenciarem festas, segundo Plínio, tudo passa.
Rafael Noleto
Relembrar enlaces pelos quais passou. Rafael Noleto alimenta o feed do Instagram e a memória dos casais, familiares e amigos. A ação chega a manter os sonhos dos pombinhos que não veem a hora de subir ao altar e serem fotografados pelo profissional. Ansiosos para dizer sim, noivos alteraram a data da festa para sexta-feira.
“Alguns clientes perceberam que não faz diferença, pois a festa será um sucesso do mesmo jeito. Os convidados de outros estados não deixarão de marcar presença por ser na sexta-feira. Outra percepção é conseguir manter os profissionais escolhidos a dedo”, reforça Rafael, marido e sócio da fotógrafa Lorena Monjardim.
Apaixonados por câmeras e lentes, Rafael e Lorena eternizam “o começo de tudo” desde 2002. “Contamos histórias de casais que nos escolhem para registrar o dia mais importante de suas vidas”, explicam. Otimista quanto ao término do período de distanciamento social, o fotógrafo pensa positivo sobre os matrimônios marcados a partir de agosto acontecerem nas datas previstas.
Com a chegada do aniversário de 60 anos de Brasília, Rafael se viu na missão de registrar a capital, mas do alto. Na companhia das filhas, ele tem feito fotos aéreas da cidade com drone que, em seguida, formarão um projeto solidário. Congresso Nacional, Torre de TV, Catedral Metropolitana, Museu da República e tesourinhas protagonizaram belíssimos cliques do fotógrafo, alguns em preto e branco.
“Meu intuito é lançar uma campanha vendendo uma impressão das imagens em metacrilato. Irei reverter parte dos lucros em cestas básicas para ajudar famílias carentes durante a pandemia”, reforça Rafael.
Bruno Stuckert
“Todo artista precisa de momentos de reflexão e autoconhecimento para encontrar seu caminho individual e descobrir a sua mais pura identidade”. Com esse pensamento, o fotógrafo Bruno Stuckert vivencia a quarentena, que vê como um período de evolução da humanidade. Dar adeus ao egoísmo, abrindo brecha à empatia, respeito, autoconhecimento e cuidado com os mais vulneráveis.
Em conversas com clientes e outros profissionais, Bruno tem ouvido sobre as festas de casamento serem mais intimistas, com menos convidados. Ele acredita que prevê o contrário. Em seu ponto de vista, as pessoas irão valorizar, de forma profunda, o ritual de celebração do amor.
“A situação de distanciamento mostra como é importante dividir as conquistas e alegrias com quem ama. Festas depois da Covid-19 devem ter novos normais, mas acho que a grande mudança será no resgate da valorização desse sentimento precioso e transformador”, reforça o artista.
Alguns casórios fotografados por Bruno não iriam ocorrer em Brasília. Com o início da pandemia, grande parte dos enlaces de sua agenda foram transferidos para 2021, os noivos mais otimistas reservaram datas a partir de setembro. Enquanto a rotina com as câmeras, poses e edição não volta à tona, ele dedica-se ao projeto Fonografia, um jogo interativo realizado em seu perfil no Instagram.
Primeiramente, o fotógrafo cria um post nos Stories e faz um pedido especial aos seguidores na ferramenta: “Mê dê uma música. Eu te respondo com uma foto”. As respostas variam entre diversos cantores e estilos musicais. Ao ver o nome da canção, Bruno mergulha no acervo formado ao longo dos 20 anos de profissão.
“O resultado postado é um terceira obra. Nem só a foto, nem só a música. As misturas inusitadas criam novos sentidos e infinitas possibilidades de interpretações”, explica Bruno sobre a iniciativa. Quando o confinamento domiciliar terminar, o profissional deseja publicar o primeiro livro, Os Deuses nem Sempre Vestem Branco. Por enquanto, ele segue a reflexão: “Entrego, confio, aceito e agradeço.”
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