Professora Lúcia Helena Galvão orienta usar a filosofia no pós-pandemia
“Entramos isolados, é necessário que saiamos mais unidos”, disse a filósofa. Lúcia Helena tem feito lives com famosos, como Juliana Paes
atualizado
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Independentemente de serem bons ou ruins, todos os momentos vivenciados são verdadeiros aprendizados. Pode não parecer, mas a pandemia do novo coronavírus integra o combo de lições de vida e tem muito a ensinar. Visto como uma crise, o atual período é um lugar de transformação e uma oportunidade de crescer como ser humano, conforme explica a professora Lúcia Helena Galvão, filósofa da Escola Nova Acrópole. Ela também tem um canal no YouTube com mais de 40 milhões de visualizações.
À frente de inúmeras lives sozinha e com famosos (como Juliana Paes, Mariana Ferrão e Izabella Camargo), Lúcia Helena abriu um tempo na agenda concorrida para conversar com a Coluna Claudia Meireles. Durante a entrevista, a professora, escritora e poetisa contou ter aumentado em três vezes a jornada de trabalho e a atuação em propagar os conhecimentos filosóficos.
“Quando tudo começou, pensei que as pessoas não estavam preparadas para enfrentar esta barra e iriam se desesperar. Arregacei as mangas, procurando estar com elas o máximo de tempo possível”, confessa. Embora pareça exaustivo, Lúcia Helena e os colaboradores da Nova Acrópole não se cansam de disseminar os princípios repletos de sabedoria.
Plantar uma semente do bem ou fazer a população “abrir os olhos” é a maior meta da filósofa. “Sobre a quarentena, no que depender de mim, vai dar certo”, ressaltou durante a live com a atriz Juliana Paes, realizada nessa segunda-feira (13/7). Com bagagem de valores extensa, a professora frisa o lema da escritora russa Helena Blavatsky: “Aquele que faz o seu melhor, faz tudo o que se pode esperar dele”.
“Saiamos mais unidos”
Na avaliação de Lúcia Helena, o que era considerado “normalidade” há tempos não podia ser chamado de normal. O motivo? O isolamento egoísta praticado pelo homem em relação ao próximo e ao próprio meio de convivência antes mesmo do surgimento da Covid-19. Para combater o individualismo e construir uma realidade de união, a professora incentiva as pessoas a trabalharem a empatia, fraternidade e o compromisso com a humanidade.
“São ferramentas fundamentais para uma nova normalidade. Entramos isolados, é necessário que saiamos mais unidos”, sustenta. Ela recomenda exercer a generosidade diariamente a fim de que o grupo de indivíduos cresça e se fortaleça. Segundo a filósofa, quem tira foco de si e concentra no outro enfrenta melhor as dificuldades, pois para de olhar as “pedras” que há no próprio caminho.
Ao longo da pandemia, Lúcia Helena Galvão foi requisitada por quem buscava conselhos para “sobreviver” à turbulência do presente: “Procurei, da melhor forma, aconselhar as pessoas a aproveitarem esse momento de saída da arena para a arquibancada”. De acordo com a professora, o momento é conveniente à análise dos sonhos, propósitos, buscas e refletir “se a antiga ‘normalidade’ tinha alguma conexão com os objetivos”.
Conforme enfatiza a filósofa, a consciência nasce do contraste, neste caso, gerado pelo isolamento. “Vimos duas formas de viver bem diferentes, e pudemos percebê-las e avaliar a qualidade de ambas”, garante. Tendo em vista que o homem veio ao mundo para ser fator de soma em relação ao aperfeiçoamento da própria consciência e do próximo, Lúcia Helena e os colaboradores da Nova Acrópole não economizaram esforços para auxiliar as pessoas.
Segundo a filósofa, a maior recompensa de uma missão é sentir a satisfatória sensação de dever cumprido. “Chegaremos ao final, eu e nosso pessoal, cansados, mas com um belo sono dos justos pela frente, a fim de recompor as energias. A generosidade e o altruísmo são energia de sobra para propulsionar uma usina nuclear. Pensar menos em si e mais no outro costuma ser uma estratégia muito boa sempre, e ainda mais nas crises”, destaca a professora.
Em lives e conversas, Lúcia Helena respondeu sobre temas atuais (cancelamento na internet, polarização política e doenças psicológicas), mas as principais perguntas giraram em torno de como enfrentar a pandemia e o pós-pandemia. De acordo com a professora, por trás de todos os questionamentos existe um apelo silencioso:
“Dê-me uma boa razão pela qual posso me levantar da cama e continuar vivendo amanhã”, pontua. Se antes as pessoas estavam acostumadas a anestesiar-se com distrativos e fugas, o isolamento social fechou essas rotas e o vazio tornou-se insuportável. Lúcia Helena lembrou de o período ser propício a arrancar as máscaras da mecanicidade e do automatismo para colocar “mais vida dentro da própria vida”, sendo o pós-pandemia o momento de revelar esse novo “eu”.
A filosofia tem a contribuir com o processo de descoberta interior, pois o princípio de amor à sabedoria só se concretiza na formação em valores e ânimo de aprendiz diante da vida, conforme explica a professora. Ao tratar esse ponto, Lúcia Helena guia-se pelos ensinamentos do filósofo Immanuel Kant: “O homem não pode ser meio para se conquistar alguma coisa, mas sempre um fim em si”.
Preocupação
Algumas pessoas sentem receio de sair de suas casas e retornar às atividades rotineiras no pós-pandemia com medo da morte. A professora destaca que o coronavírus não é único risco de letalidade que ronda o ser humano a todo momento. “Basta pensar na violência, por exemplo: quantos ela atinge? Os discursos que pregam a desunião, em nossos dias, podem ser considerados como um novo e perigoso vírus”, aponta a filósofa.
“Seja lá por que razão veio a pandemia, podemos escolher como sair dela, isto é, podemos crescer, humanamente falando, e sairmos melhores do que entramos (ou, ao contrário, piores do que entramos, o que também, infelizmente, é possível”, conclui a professora. Já refletiu como pretende voltar ao novo normal? Se ainda não tirou alguns minutinhos para pensar, fica a dica de leitura imprescindível ao retorno no pós-pandemia.
Ela recomenda a obra Arte de Viver, de Epiteto, com versão de Sharon Lebell. “Um excelente livro, mas veja bem: leitura sem reflexão não gera nenhuma vantagem perceptível. Relembro a máxima filosófica que diz que o homem não vive do que come, mas do que assimila. O simples passar de páginas pode gerar apenas mais inanição”, pondera. O título pode ser encontrado por até R$ 28,90, na Amazon.
Nova Acrópole
Professora da Escola Nova Acrópole há 31 anos, Lúcia Helena Galvão não só respondeu a questionamentos durante a pandemia. Aprendizes da instituição de ensino aproveitaram para agradecer à filósofa os ensinamentos absorvidos nas aulas. Os princípios auxiliaram os alunos a enfrentarem o período com lucidez e foram fundamentais no apaziguamento dos ânimos nos ambientes familiares e sociais nos quais estão inseridos.
“Alegria de período de isolamento é, entre outras, ouvi-los dizer: ‘Minha família falou que não saberia o que fazer se não fosse eu’. Nada paga a satisfação de ouvir algo assim!”, considera. De acordo com Lúcia Helena, os feedbacks são resultados de cada aluno ter usado as coordenadas corretas e trabalhado o próprio interior, lema do curso de filosofia.
Com mais de 80 sedes por todo o Brasil, a Nova Acrópole trabalha com ideias, reflexões, ação voluntária beneficente e construção de uma cultura que ajude a elevar a consciência. Segundo a professora, os alunos se surpreendem quando passam a entender a filosofia com o método ensinado. “Trata-se de tomar o repertório de ideias daqueles que souberam viver humanamente bem e experimentar em nossas vidas”, esclarece.
Do ponto de vista sobre a instituição de ensino, a filósofa acrescenta: “Sócrates dizia: ‘Só é útil o conhecimento que nos torna melhores’. É esse tipo de conhecimento que a filosofia de Nova Acrópole se propõe a ensinar”. Lúcia Helena profere palestras e leciona nas unidades da escola em Brasília.
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