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Guru de relacionamentos, Esther Perel convida casais a repensarem a traição

Autora de best-sellers, Esther acredita que a infidelidade funciona como um alarme para colocar mais energia na regeneração de uma relação

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Amy E. Price/Getty Images for SXSW
Esther Perel
1 de 1 Esther Perel - Foto: Amy E. Price/Getty Images for SXSW

“O casamento atual precisa ter amor, sexualidade e desejo de felicidade. Quando alguém me procura e diz que enxerga o marido ou a mulher como irmão ou mãe, por exemplo, é porque o papel do outro deixou de ser sexual”, defendeu Esther Perel, terapeuta belga de renome mundial. A autoridade em relacionamento tem muito a ensinar aos casais que desejam viver um romance duradouro.

A especialista dispõe de uma agenda lotada. Ainda assim, costuma compartilhar ideias e reflexões na internet para ajudar quem almeja driblar a tensão da convivência. Diante da bagagem de conhecimento da terapeuta sexual, a coluna Claudia Meireles foi atrás dos conselhos valiosos de Esther examinando seus livros, entrevistas recentes e palestras dadas em diversos lugares. A expert de 62 anos tornou-se referência pela forma como aborda os relacionamentos modernos, assim como os tabus da sexualidade, monogamia e dos desejos.

Erotismo

Esther é autora dos best-sellers Mating in Captivity (Sexo no Cativeiro, em tradução do inglês), publicação sobre intimidade em relacionamentos estáveis; e The State os Affairs (no Brasil, Casos e Casos), obra que discute a vida a dois pelas lentes da infidelidade. Ainda não lançando em solo brasileiro, o exemplar Inteligência Erótica mostra como os casais devem superar obstáculos sexuais e emocionais.

O título da mais recente publicação, Inteligência Erótica, não foi escolhido por acaso pela expert. Em uma união longa, a paixão não dura para sempre. Pensou que, por conta disso, vale desistir do envolvimento amoroso? Acalme-se. De acordo com a terapeuta, o desejo precisa ser ressuscitado, sendo uma das táticas principais ampliar a inteligência erótica, ou seja, apimentar a relação.

Livro Esther Perel
A obra ainda não possui versão em português

O erotismo está associado ao sexo, principalmente no Ocidente. No entanto, a inteligência erótica não é obrigatoriamente uma habilidade sexual, conforme explicou a palestrante. Essa capacidade vincula-se ao impulso de manter-se vivo e à conexão com a força energética vital, por isso, vale cultivá-la na imaginação como forma de autoconhecimento e para surpreender o parceiro. “Tem a ver com descobrir como é possível manter a novidade, curiosidade e espírito explorador dentro de um relacionamento longevo”, reforça Esther.

Infidelidade

Residente em Nova York, a psicoterapeuta sexual atende inúmeros pacientes. Um detalhe chama atenção: eles só ficam frente a frente com Esther se tiverem passado por casos extraconjugais. É uma das regras da especialista. De acordo com a autora, nem toda infidelidade tende a ser um sintoma de problema no relacionamento. “Às vezes, isso tem a ver com outros anseios que são bem mais existenciais. A pessoa procura outras companhias não porque não está gostando do parceiro, ou não está gostando da pessoa que tornou-se”, ressalta.

A infidelidade funciona como um alarme para colocar mais energia na regeneração de uma relação. A abordagem de Esther transita entre a empatia e a provocação, conforme definiu em palestra sobre amor, sexo e poder. Pessoas que desfrutam de casos extraconjugais não necessariamente vivem um matrimônio ruim. Há quem busque a possibilidade de ser diferente e renovação pessoal. No ponto de vista da terapeuta, resgatar as aptidões é algo difícil em um casamento de décadas, mas não impossível.

livros de esther perel
Livros best-sellers de Esther Perel

No vídeo a seguir, ela fala sobre traição:

Investindo no relacionamento em tempos de pandemia

Esther Perel acredita no poder do humor como uma forma de salvar alguns relacionamentos. “Brincadeiras bem-humoradas nos ajudam a evitar o pingue-pongue da defensiva visto em tantos casais”, disse. Na avaliação da expert, essa é uma ferramenta poderosa, especialmente durante a pandemia, momento em que os casais delegam mais emoções um ao outro. “Um vai maximizar; o outro irá minimizar. Um vai explodir; o outro vai implodir”, explicou na palestra HSM Expo 2020.

A terapeuta recomenda que cada pessoa lembre ao parceiro sobre ambos estarem no mesmo time. “Reconheça que nenhum de vocês dispõem de todas as respostas”, sugeriu. Apesar dos segredos compartilhados, Perel avalia como “cansativo” o processo de conhecer ou conviver com alguém em tempos de isolamento. “Navegar no yin-yang de seus relacionamentos e nos mecanismos de enfrentamento para encontrar consenso em uma era de incerteza prolongada é um trabalho árduo”, ponderou.

Entretanto, para a especialista, vive-se em uma era na qual pode-se conhecer os entes queridos de uma maneira totalmente nova. “Às vezes, será opressor e difícil… Entretanto, isso tornará seus relacionamentos mais fortes, com os outros e com você mesmo”, defende.

Para a palestrante, a qualidade dos relacionamentos determina a qualidade de vida. Logo, a terapia recomendada por ela bate nas teclas dos tabus, que, segundo Esther Perel, são regras fundamentais impostas pela sociedade e pela religião. “Os tabus formam a ordem social e discuti-los tem o potencial de quebrar essa ordem”, frisou.

Esther Perel
Esther Perel

Responsável por assinar o podcast de sucesso Onde Devemos Começar, disponível em inglês no site oficial, a terapeuta viu na pandemia uma oportunidade para lançar a série de áudios Couples Under Lockdown (Casais em Confinamento, em português), com reflexões e conteúdos voltados à difícil missão de se relacionar em tempos de isolamento social. 

desenho de duas pessoas encostando as mãos
“A qualidade de nossos relacionamentos determina a qualidade de nossas vidas”, diz Esther Perel
Erotismo

Outro ponto levantado pela autora é o erotismo. “Os bons amantes não nascem, se tornam. Deve-se cultivar o erotismo. Você deve ter uma aproximação ativa para poder ver seu parceiro como uma pessoa erótica”, destacou.

“Quando os casais se queixam de que sua vida sexual é sem graça, sei que não estão atrás apenas de frequência, certamente querem mais qualidade. Por isso, prefiro falar antes sobre sua vida erótica do que sobre sua vida sexual. Os animais fazem sexo; o erotismo é exclusivamente humano. É sexualmente transformado pela imaginação”

Esther Perel
Esther Perel
Esther Perel é uma renomada palestrante
Egoísmo?

Outra ideia de Perel diz respeito à importância da individualidade de cada parceiro. Ela argumenta que o individualismo é vital para o desejo. “É necessário haver egoísmo, no melhor sentido da palavra: a habilidade de estar conectado consigo mesmo na presença do outro”, pondera.

“A privacidade e o tempo que passamos longe um do outro significam intimidade consigo mesmo, e isso está cada vez mais raro na sociedade ocidental, que vive a valorização da transparência.”

No divã com Esther Perel

Onde devemos começar? Assim como o nome de batismo no podcast de Esther Perel, os leitores da coluna Claudia Meireles querem saber como acender a chama e deixar o parceiro subindo pelas paredes. “Para o desejo surgir, não existe a necessidade obrigatória de uma nova pessoa. Bastam novos comportamentos e iniciativas. É um trabalho contínuo e que deve ser premeditado”, ensina.

1 – De acordo com a terapeuta, o erotismo é a poesia do sexo: “É transformado pela nossa imaginação, e isso está além da cama – tem a ver com quem eu sou, com a identidade de cada um”. Ela orienta realizar uma fantasia sexual apostando em jogos, filmes ou até gravar um vídeo;

2 – Quando há atração, impera a atmosfera de mistério e o outro fica com a vontade de descobrir um “algo a mais”. Saber que novas surpresas estão a caminho liga o lado erótico, ponto-chave na vida sexual plena de um casal, argumenta a especialista;

3 – Dizer que “as mulheres não querem sexo” é um grande equívoco, destacou Esther. Na maioria das vezes, elas podem estar esgotadas para sentir a própria sexualidade e, consequentemente, não se enxergam atraentes. Diante dessas situações, o parceiro ou parceira precisa dar uma dose de autoestima ao fazê-la ver o quão bela e excitante é;

4 – “Viva o momento”. A expert também compartilha a máxima com os pacientes. Nada de criar expectativas de como será o encontro sexual ou o modo de agir do parceiro. A ansiedade pode prejudicar a vida sexual plena. Esvazie a mente, concentre-se no agora e aproveite;

5 – Já pensou que, depois de ficar tanto tempo em casa com o parceiro durante a pandemia, uma maneira de reacender o entusiasmo e a paixão no relacionamento responde por férias?  E nem são necessários longos deslocamentos. A ideia é investir na criatividade para explorar um lugar desconhecido e envolvente na aventura do desejo sexual.

Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.

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