Gratidão: provada por estudos de Harvard que faz bem para o cérebro
Tome nota de atividades recomendadas em palestras da TED e exercite a gratidão com o intuito de adicionar mais graça à vida
atualizado
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Gratidão, termo derivado do latim gratia. No dicionário, significa sentimento de graça experimentado por uma pessoa em relação a alguém que lhe concedeu algum favor, um auxílio ou benefício qualquer. Em outras palavras, uma forma de reconhecimento. Embora as pessoas sejam capazes de apreciar com otimismo momentos, realizações e indivíduos, nem todas praticam a vivência com frequência. Às vezes, chegam a precisar de um lembrete ou um empurrão para exercê-lo.
Mais do que estreitar laços, o hábito é benéfico por gerar felicidade ao receptor e também a quem prestou o gesto. “A gratidão recompensa a generosidade e mantém o ciclo de comportamento social saudável”, assegura Antonia Damasia, diretora do Instituto de Neuroimagem Dornsife, na Califórnia. Ao praticar a boa ação, o indivíduo tende a ficar tranquilo, sensação explorada com empenho por especialistas.
Saúde
De acordo com pesquisadores da Harvard Medical School, em Boston, a gratidão é um poderoso remédio para o cérebro. Ao experimentar o sentimento, duas partes do órgão são ativadas: pré-frontal medial ventral e o córtex na porção dorsal. As áreas estão envolvidas em percepções de recompensa, moralidade, interações sociais positivas e capacidade de entender o que o outro pensa.
Isso não é tudo. Pesquisas comprovaram que agradecer fortalece o vínculo interpessoal, auxilia no bem-estar, aumenta a resiliência, reduz o estresse e ajuda a prevenir a depressão. Em um estudo realizado com 300 adultos, o grupo que fez um exercício de agradecimento apresentou melhora na saúde mental em comparação aos participantes sem atividade.
Ainda segundo o centro científico, a saúde dos adeptos do hábito é “quase de ferro”. Eles têm sistemas imunológicos mais fortes, apresentam pressão arterial baixa e dormem bem. Reconhecer uma atitude deixa as pessoas em alerta para, quando possível, exercê-la novamente. Quem agradece com regularidade mantém maiores níveis de alegria e emoções positivas.
Ser grato envolve reverenciar a bondade do mundo. Para alguns indivíduos, o hábito pode soar como vendar os olhos ao enfrentar situações complicadas ou turbulências passageiras. Nada disso. A gratidão funciona como um sustento. Diante de experiências carregadas de sentimentos negativos, a ideia é não perder de vista o lado bom, endossa Sharon Parker, professora no Centre Transformative Work Design, na Austrália.
Pandemia
A pandemia do novo coronavírus pegou todos de surpresa. Precisar ficar em casa, de modo obrigatório, suscitou a reflexão sobre o que é verdadeiramente valioso na vida. Um abraço? Almoço em família? Na avaliação de Sharon, o isolamento social fez abrir os olhos a reclamações desnecessárias e acontecimentos feitos no automático.
“Se eu lhe perguntar pelo que você é grato agora, tenho certeza, muitas conclusões virão à sua mente, como família, amigos, sua saúde e a de outras pessoas ao seu redor, e muito mais. Podem ser grandes ou pequenos motivos. Mas, pensar sobre eles ajuda, porque nas crises nos lembramos do que é realmente importante”, ressalta a especialista em psicologia.
De acordo com Sharon, a gratidão serve como um apoio aos indivíduos na hora de restabelecer o significado da vida após um período conturbado. Em alguns países, a rotina não voltou ao normal, enquanto em outros, o retorno ocorre de forma gradual. Independentemente do cenário do local onde esteja, a professora e outros especialistas aconselham exercícios de agradecimento a serem colocados em prática (confira ao fim da reportagem).
Segundo um artigo da Harvard Health School, cultivar o hábito ajuda as pessoas a se concentrarem no que têm e no que na falta: “A gratidão é uma maneira de apreciar o ter, em vez de sempre buscar algo novo na esperança de tornar-se mais feliz ou pensar que não pode sentir-se satisfeito até alcançar todas as necessidades físicas e materiais”.
À princípio, as atividades podem parecer ineficazes, afirmação presente no artigo da Harvard. Contudo, os hábitos se fortalecem com o uso e a prática. Tendo como foco a gratidão, o cérebro está em constante trabalho com novidades e viés positivo. Vale frisar que deve-se agradecer por episódios diferentes.
Exercícios
Tome nota de atividades recomendadas em palestras da TED e exercite a gratidão com intuito de adicionar mais graça à vida.
1 – Tire uma foto todos os dias de algo pelo qual você é grato
Em uma palestra TEDxQUT, a diretora, fotógrafa e escritora Hailey Bartholomew relembrou quando passou por uma depressão profunda em 2008. Em uma sessão com o psicólogo, foi dado o exercício de dedicar 10 minutos para refletir por quais momentos era grata e anotá-los. A atividade deveria ser realizada ao longo de 10 dias, mas ela quis continuar ao seu estilo.
“Como sou fotógrafa, decidi que iria tirar uma foto por dia durante um ano inteiro”, recordou Hailey. Em sua avaliação, o exercício a fez perceber de instantes que passaram despercebidos. Quais lembranças boas da vida veria agora se tivesse tempo de procurar? Esse desafio, em particular, agrega uma vantagem: ao precisar de um lembrete do que realmente importa, terá as fotos para recordar.
2 – Ao ter contato com atendentes, baristas e caixas de supermercados, reserve um tempo para olhá-los nos olhos e realmente agradecer
“Gratidão não é uma emoção que vem naturalmente para mim”, escreveu o jornalista A. J. Jacobs no livro Thanks A Thousand. Morador de Nova York, o autor partiu em uma missão para agradecer a quem estava por trás de algo que não vive sem: o café. Ele fez uma jornada em que reconheceu a dedicação desde os agricultores até aos caminhoneiros transportadores do grão.
Quando resolveu dar início à peregrinação, Jacobs fez uma visitinha ao barista Chung. Ele servia café todos os dias ao jornalista: “Chung disse ser a parte mais difícil quando as pessoas não o tratam como ser humano, sim como uma máquina de venda automática. Eles entregam o cartão de crédito sem sequer levantar os olhos do telefone”.
Enquanto ouvia o barista falar, Jacobs recordou quantas vezes havia gerado o cenário descrito. Ao receber a lição de vida de Chung, o jornalista prometeu lidar com as pessoas e criar um contato visual por mais de 2 segundos, conforme revelou em uma conferência da TED. “Esse pequeno momento de conexão é tão importante para a humanidade e felicidade dos indivíduos”, frisou o autor. Não esqueça também de sorrir e tirar os fones de ouvido.
3 – Coloque gratidão em “sinais de parada” em sua vida
O monge David Steindl-Rast fez o seguinte questionamento em um TED: “Conhecemos pessoas que têm tudo e elas não são felizes porque querem outra conquista ou mais do mesmo. Também conhecemos quem não tem nada, vive em situação desoladora, mas são profundamente felizes. Por quê?”. Segundo o conselheiro espiritual, a resposta está na gratidão.
De acordo com Steindl-Rast, agradecer consiste em três passos: pare, veja e vá. O problema é que não há o tempo reservado de parar, explicou o monge: “Temos de ficar quietos. Você pode encontrar o que funciona melhor para você, mas precisa de sinais de parada em sua vida”. Ele sugere escolher um ponto no trajeto diário, parar e tomar nota de algo que aprecia.
4 – Escreva um elogio para um ente querido, enquanto ele ainda estiver vivo, e entregue
Relações públicas, Keka DasGupta perdeu o pai aos 17 anos após um trágico acidente. Arrependida de não poder dizer ao patriarca o que gostaria, ela decidiu escrever um bilhete à mãe. “Um dia, sentei-me e escrevi um elogio vivo para ela. Nele, derramei meu coração sobre o que admirava nela, como impactou minha vida. Então, entreguei o elogio”, afirmou no TED Talks.
Keka não recebeu uma resposta da matriarca de imediato, mas com uma razão: a emoção. “Queria te ligar, mas fiquei tão comovida de alegria. Queria sair correndo pela porta da frente, gritar ao mundo e dizer: vejam o que minha filha escreveu para mim”. Já pensou em fazer alguém feliz hoje? Comece já a escreveu um elogio!
5 – Honestidade com os agradecimentos que gostaria de ouvir das pessoas em sua vida
Terapeuta norte-americana, Laura Trice refletiu sobre si mesma e percebeu ter problemas em pedir exatamente o que queria ao longo da vida, principalmente com os agradecimentos e elogios recebidos. Ela lembrou que somente aceitava, em vez de declarar as necessidades. Em uma conversa com o marido, resolveu dar um basta.
“Te forneci dados críticos sobre mim. Disse os motivos de me sentir insegura. Como essas informações, você pode me negligenciar, abusar ou atender a minha necessidade”, revelou Trice em uma apresentação da TED. Depois de discutirem a relação, ela e o marido reservaram um momento para uma sessão de agradecimento mútuo. Fica a dica da terapeuta de exercitar o hábito com familiares e amigos.
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