“Eu nunca tive interesse em ser bailarina”, diz Norma Lillia Biavaty
Em novo momento, a primeira bailarina de Brasília contou sua trajetória em palestra na capital
atualizado
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Junto ao título de primeira bailarina de Brasília, Norma Lillia Biavaty, 74 anos, carrega consigo histórias marcantes na trajetória do balé brasileiro. Veterana nos palcos, ela passa por um novo momento profissional, voltado para workshops de dança pelos quatro cantos do país.
Na última quarta-feira (22/05/2019), a coreógrafa veio a Brasília para a palestra O que Vi da Vida na Dança, parte do projeto Capezio Apresenta, idealizado pela empresária Raquel Jones. A sala de palestras do recém-aberto Eixo-Coworking foi tomada por bailarinas, muitas delas ex-alunas de Norma, que cresceram se espelhando em seus passos.
“Uma das missões da Capezio é promover a dança clássica e valorizar os profissionais. A Norma é patrimônio de Brasília”, ressaltou Raquel. Norma se orgulha dos títulos que carrega: comendadora da Ordem do Mérito, cidadã honorária de Brasília, cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural e diretora do Ballet Norma Lillia.
A empresária, que também é bailarina e jornalista, contou com exclusividade para o Metrópoles que está escrevendo um livro biográfico sobre Norma Lillia. A publicação está em fase de pesquisas e ainda não tem data de lançamento.
A relação de amizade entre Norma Lillia e Raquel nasceu em sala de aula, quando a mineira mudou-se de Belo Horizonte para Brasília. “Eu estudei balé clássico a minha vida toda. Em Brasília, procurei uma profissional que fosse à altura do ensinamento que tive em Belo Horizonte com Nora Vaz de Mello. Nós [Raquel e Norma] nunca perdemos o contato e agora estamos ainda mais próximas.”
A minha mãe disse que eu já nasci dançando
Norma Lillia Biavaty
Na palestra, a bailarina goiana, que cresceu entre Brasília e o Rio de Janeiro, falou sobre os 70 anos de sua vida dedicados à dança, desde quando foi descoberta – com apenas 4 anos – pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand, até a atualidade, se dedicando a workshops pontuais e, agora, às palestras.
Norma teve uma educação muito rigorosa. Mesmo com um talento que saltava aos olhos de todos ao seu redor, sua família recusou inúmeros convites vindos de fora de Goiânia, como a oportunidade para integrar a primeira turma de balé da Escola do Teatro Bolshoi, no Rio de Janeiro. “Na primeira vez que o Bolshoi veio ao Brasil, eles já me conheciam e a minha mãe disse ‘não, é muito cedo'”, recordou.
Sempre à frente do seu tempo, Norma foi a bailarina mais nova a ter aulas na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Por tradição, o instituto – primeiro de balé clássico no Brasil – aceitava apenas alunas com 8 anos ou mais, mas, assim que completou 7 anos, foi aberta uma exceção para ela.
A bailarina lembra que a escola tinha duas regras importantes: mesmo entrando aos 7 anos, ela teria de repetir o primeiro ano para seguir com uma turma da mesma idade e os alunos com nota superior a 9 no exame final pulavam um ano. Exemplar, Norma tirava sempre 10 e garantiu a sua formatura com apenas 14 anos, enquanto as colegas de classe já tinham entre 19 e 24.
O contato precoce com a dança lhe rendeu bônus e ônus também. Norma acredita que teve o crescimento prejudicado pela rotina de ensaios e movimentos que exigiam muito de uma criança.
“Sou a mais baixinha da minha família. Os meus pais eram altos, meus filhos também são, só eu não cresci”, afirma.
Ainda criança, ela tinha vontade de coreografar e ficou conhecida na cidade por isso. “Era uma menina de 4 anos que coreografava seis balés totalmente diferentes, nada tinha a ver com nada”, lembra.
Em Brasília desde fevereiro de 1962, Norma recorda os tempos de terra vermelha em uma cidade com pouquíssimas construções. Na capital, ela estudou pedagogia da dança e fundou o Ballet Norma Lillia. Mais de 100 mil pessoas passaram pela academia de dança clássica criada por ela, que viu passar por lá três gerações de famílias de Brasília.
“Eu nunca tive interesse em ser bailarina”, afirmou. “Não pense que só dançando você vai conseguir ser professora, porque não vai. Bailarina é uma coisa e professora é outra”, ponderou.
Ela desenvolveu inúmeros projetos que passavam não só pelos estilos de dança clássica e contemporânea mas também teatro e expressão. Dessa mistura, nasceu a Trupe 108 Cia de Dança, com trabalhos completamente diferentes viajando por todo o Brasil.
Os principais espetáculos dela surgiram a partir de músicas. Foi o caso de Medéia, obra com repertório do pernambucano Alceu Valença. “Quando bate a música na cabeça e vem para o coração, aí a coisa aparece.”
Confira os cliques da palestra:
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