Especialista ensina a conhecer o intestino e revela os vilões da digestão
Segundo Andrezza Botelho, é necessário parar e prestar atenção aos sintomas manifestados, como cólicas, estufamento e regurgitação
atualizado
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“Somos o que comemos”, diz uma famosa sentença. Tecnicamente, se você costuma devorar doces, frituras, enlatados e processados, possivelmente pode sofrer com problemas no intestino, além do peso na consciência. O órgão do sistema digestório é considerado um dos mais importantes do corpo – não à toa, recebeu o título de “segundo cérebro”. Para que a região funcione bem, o “seu dono” precisa atentar-se a alguns sinais e ter um estilo de vida saudável, conforme explicou a nutricionista Andrezza Botelho.
A especialista em saúde comanda a clínica Andrezza Botelho Nutrição Inteligente, em São Paulo. Em entrevista à coluna Claudia Meireles, a profissional comentou sobre como aconselha os pacientes e seguidores do Instagram a conhecerem o próprio intestino: “O nosso corpo conversa conosco o tempo todo”. De acordo com a expert, é necessário parar e prestar atenção aos sintomas manifestados – por exemplo, cólicas, estufamento e regurgitação (eliminação involuntária do alimento). O órgão também dá sinais por meio das fezes.
A nutricionista recomenda olhar as excreções após a evacuação. “Pedaços de alimentos, sangue, coloração e odor são demonstrações da saúde da microbiota”, endossa. Segundo Andrezza, não se deve encarar o mau funcionamento do intestino como algo natural. Quando a região não trabalha como deveria, surgem algumas condições: acnes, hemorroidas, estufamento, cólicas, distensão abdominal, acúmulo de toxinas, resistência à perda de peso, aumento do processo inflamatório, sem contar a alteração de humor.
“Quando o meu paciente chega para consultar, sempre faço algumas perguntas. Dependendo das respostas, a conduta nutricional e as suplementações são mais específicas para melhorar esses sintomas. Faz toda a diferença na orientação especializada”, garante Andrezza Botelho. Com duas décadas de formação profissional, ela percebe e avalia que as pessoas têm dúvidas quanto à saúde do órgão, responsável pela digestão dos alimentos e absorção dos nutrientes.
“Grande parte dos questionamentos estão relacionados às urgências evacuatórias (diarreia), constipação, consumo de fibras, hidratação ideal, formato das fezes e infestações parasitárias”, ressalta a nutricionista.
“Vilões”
Manter o “segundo cérebro” saudável resulta dos hábitos diários do indivíduo, esclarece Andrezza. Os “vilões” do corpo como um todo são bem conhecidos – contudo, continuam sendo adotados por homens e mulheres. Má alimentação, sedentarismo, fumo e álcool encabeçam a lista das ações danosas ao organismo. Focando mais na digestão, a nutricionista elenca: pular as refeições; beber pouca água; comer rapidamente; ingerir grande quantidade de carboidratos refinados; e evitar o consumo de frutas, vegetais e fibras.
Ingerir líquidos durante as refeições é mais um hábito prejudicial ao funcionamento da microbiota. O quadro de adversidades não para por aí. O órgão do sistema digestório sofre, ainda, as consequências do que é consumido. “Fazem mal à saúde da flora intestinal alimentos refinados, inflamatórios, ricos em gordura e farinha branca. Também incluímos os antibióticos, laxantes e álcool”, descreve a especialista.
“Mocinhos”
Depois de apresentar os “vilões”, a expert especificou o que é preciso fazer diariamente para melhorar a microbiota. De acordo com Andrezza, a alimentação tem o poder de influenciar e transformar a “qualidade” da flora intestinal. “Existem muitas bactérias em nosso corpo, a maioria presente no intestino. Por mais que não possamos vê-las, não podemos subestimar o importante papel que desempenham não apenas em nossa saúde digestiva, mas também no sistema imunológico”.
A quem estiver preocupado com o funcionamento do “segundo cérebro”, a nutricionista recomenda os prebióticos, alimentos que ajudam na flora intestinal. Se destacam por facilitar a digestão: feijão, aspargos, brócolis, couve, linhaça, banana, iogurte, kefir e couve-flor. A aveia contém um tipo único de fibra capaz de nutrir e restaurar as bactérias intestinais saudáveis. Já a alcachofra é rica em cinarina, substância com potencial de estimular a produção da bile (fluido responsável por dissolver a gordura).
Vale adicionar ao cardápio o alho e a cebola. Ambos são fontes de fruto-oligossacarídeos, açúcar mais complexo não digerido pelo organismo que serve de alimento para as bactérias boas, ressalta Andrezza Botelho.
“Segundo cérebro”
A profissional em saúde explicou a analogia do intestino ser considerado o “segundo cérebro”. Responsável pela digestão, o órgão abriga um sistema nervoso próprio. Intitulado de sistema nervoso entérico (SNE), a região tem o poder de agir independente dos comandos cerebrais. Dentre outras funções significativas, Andrezza destacou que 80% da imunidade deriva da atuação da microbiota. Na flora intestinal, há a produção de hormônios que, em seguida, são liberados no organismo. Por exemplo, a serotonina (regulador da sensação de bem-estar).
Como o organismo é uma engrenagem, cérebro e intestino estão interligados por um nervo, chamado de vago.
Inflamação
“A doença que te gera dores pode ter decorrido de uma inflamação intestinal”, enfatiza a nutricionista. No órgão, existe uma barreira conhecida como GALT (gut-associated lymphoid tissue, ou tecido linfoide associado ao intestino). “Funciona como uma espécie de proteção para que substâncias nocivas ao organismo não invadam o meio interno. Qualquer alteração intestinal que resulte em uma pequena inflamação tende a irritar essa parede, deixando-a vulnerável”, frisa Andrezza. Segundo a expert, um dos fatores que irrita a GALT é a alimentação não saudável.
Embora ocorra de maneira lenta e progressiva, a inflamação ocasiona alergias, doenças autoimunes e dores articulares e musculares. Para mudar o quadro negativo, deve-se fazer uma anamnese (exame subjetivo), conforme argumenta Andrezza: “Por meio da entrevista, conseguimos saber se existe inflamação originada nos intestinos. Assim, é possível fazer uma terapia manual e reeducação alimentar. O paciente terá de mudar hábitos como forma de diminuir a inflamação”.
Exames
Ao perceber que o intestino não funciona como deveria, o indivíduo deve procurar atendimento especializado, reforça Andrezza. Na consulta, o profissional pedirá exames clínicos a fim de ter um diagnóstico exato do que atrapalha o órgão do sistema digestório. “Envio ao meu paciente um questionário de rastreamento metabólico pré-consulta. Ele assinala sinais e sintomas de seis meses até os dias atuais. A partir disso, consigo ter uma noção da saúde intestinal”, esclarece.
Com o avanço da tecnologia, os exames atuais revelam com maior precisão o que afeta a microbiota. É o caso do microbioma intestinal, teste genético capaz de extrair, sequenciar e mapear o DNA das células bacterianas presentes no órgão. Ao identificar o motivo do desequilíbrio (disbiose), o médico ou nutricionista prescreve o tratamento mais adequado com antibióticos e quimioterápicos. O método auxilia, ainda, no embasamento do uso de pré e probióticos.
Sobre a especialista
Andrezza Botelho começou a graduação na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e terminou na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Em 2003, a profissional fez sua primeira pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional pelo Centro Valéria Paschoal. Anos depois, colocou mais duas especializações no currículo, sendo essas, em estética avançada e cosmetologia e em fitoterapia integrativa em nutrição. Pelo Departamento de Psiquiatria da Unifesp, tornou-se especialista em transtornos alimentares.
Em 2015, Andrezza atuou como professora da pós-graduação da Unip, no Rio Grande do Norte. Ela adicionou mais uma especialização no extenso currículo, no caso, de pós-graduada em nutrição materno infantil com visão ortomolecular. Membro do Instituto de Nutrição Clínica Funcional, a expert comanda atualmente a clínica Andrezza Botelho Nutrição Inteligente, em SP, além de ministrar aulas na universidade onde finalizou o curso de nutrição.
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