Entrar no clima natalino e decorar a casa seguindo essa temática é algo prazeroso para muita gente. Guirlandas, arranjos, centros de mesa e árvores de Natal são algumas das possibilidades que a data nos traz para levar aconchego ao lar.

Os brasilienses são encantados com o Natal. Em vários pontos da capital, luzes e objetos decorativos tomam forma, seja nos centros comerciais, seja em áreas residenciais. Se as fachadas são tão aprimoradas, imagine como é o interior das casas?

O curioso disso tudo é que Brasília hospeda uma artesã muito conhecida por assinar lindos arranjos. Considerada a “fada do Natal”, Emilia Freitas, de 90 anos, foi precursora da decoração temática por aqui. A coluna Claudia Meireles bateu um papo com a especialista, que, juntamente com sua filha Mônica nos recebeu em uma conversa deliciosa e compartilhou toda a história por trás da ornamentação.

Talento desde a infância

Tudo começou na infância. A mãe de Emilia, Dulce, adorava o Natal. Como morava em uma fazenda cheia de pinheiros, ela aproveitava suas pinhas naturais para adornar os ambientes. Ao se casar, a jovem mudou-se para o Rio de Janeiro. Por lá, costumava fazer decorações e frequentar eventos sobre o assunto. “Todo ano tinha uma exposição linda no Copacabana Palace”, comentou.

A artesã entrou para o Clube dos Decoradores, associação onde aprendeu a montar arranjos. “Na primeira aula, eu já sabia tudo”, brinca a sul-paranaense, enaltecendo a facilidade em aprender dentro da área na qual hoje atua.

Na década de 1950, Emilia desfrutou de um bom momento profissional no Rio de Janeiro, pois também produziu vitrines atraentes, inclusive de lojas requintadas.

Ao chegar a Brasília, o sucesso continuou. A decoradora era muito elogiada pelas amigas e pelas filhas. Sua árvore de Natal e seus arranjos sempre tinham um diferencial, assim como os enfeites variados que ela escolhia. “Sempre gostei desse trabalho”, contou, com sorriso no rosto.

Durante os anos 1980, em paralelo à conquista de um grupo substancial de clientes fiéis, a sul-paranaense abriu as portas de sua residência, no Lago Sul, para trocar toda a ambientação por um recinto natalino. Seu imóvel, portanto, virou a “Casa do Natal”, projeto que a fez ficar ainda mais conhecida e estampar jornais e revistas na época. Por 15 anos, Emilia convidou outras pessoas para visitar o espaço, que era altamente movimentado.

Algo curioso lembrado por ela é que a decoração natalina, atualmente, é muito mais acessível e criativa que a de antigamente. “Na época, não existia isso tudo. Apenas árvores de Natal comuns. Nem guirlanda havia”, recorda.

Mônica, que morava nos Estados Unidos, costumava ligar para a matriarca contando sobre as ornamentações que avistava no país. Emilia, então, passou a viajar mais para o exterior a fim de trazer as novidades ao Brasil. Segundo a artesã, ela desembarcava com inúmeras malas recheadas de novidades.

Além de chegar à capital repleta de produtos novos, a decoradora voltava inspirada para desenvolver novos adereços. “Tudo que eu via nos Estados Unidos me dava ideia para criar”, disse a especialista, que chegou a visitar feiras de São Paulo e Nova York.

Exigente com os trabalhos manuais e extremamente detalhista, Emilia era convocada para embelezar casas inteiras de Brasília. Seus clientes sabiam de seu estilo clássico e acreditavam no bom gosto e na qualidade da sul-paranaense. Suas peças eram únicas e nem um pouco comerciais. Não dava para encontrar algo semelhante nas lojas. As bolas de Natal, por exemplo, eram todas feitas à mão.

 

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Algumas minuciosidades entregavam a assinatura de Emilia. Além de incluir fotografias nos enfeites de árvores de Natal, ela aproveita muitos objetos desvalorizados pelas pessoas, como embalagens de perfume. Tudo virava um novo adorno. “Adoro fazer coisas difíceis”, brincou.

Laços conceituados também são a paixão de Emilia. “Gosto de misturar fitas vermelhas com xadrez, por exemplo”, explicou. Ela costuma usar os adereços em suas guirlandas, outro ornamento que ama desenvolver. Para a decoradora, o Natal é uma data tradicional e segue, anualmente, a mesma linha.

Por curiosidade, Emilia vende tudo o que produz. Inclusive, não sobra nada em casa. E quando fica algum arranjo, sempre tem alguém que pede emprestado. “Não é raro que eu ajude essas pessoas”, disse. A profissional, inclusive, já capacitou diversos indivíduos que fizeram da arte de encantar com o décor uma forma de renda. Sua instrução gerou muitos empregos.

Apesar de estar com 90 anos, Emilia Freitas diz ter a cabeça de 50 anos. Moderna e cheia de conselhos sábios, é mãe de três filhas e um filho. E tem netos e bisnetos. Além de estar presente no interior das casas, a artesã já foi convocada para criar a ambientação de shoppings e hotéis de Brasília.

Filha de peixe, peixinho é

Filha de Emilia, Mônica Freitas puxou a mãe. Quando o assunto é criatividade e bom gosto, ela domina como poucas na cidade. Ex-chefe de cerimonial do Senado, hoje comanda o perfil @amotudoisto no Instagram. A conta dá prosseguimento ao seu antigo blog, que tinha o mesmo título.

Moda, gastronomia, viagens e arte são os temas principais abordados pela influenciadora na rede social. Por lá, ela costumava publicar muitos trabalhos de dona Emilia, mas, com o tempo, percebeu que deveria abrir outro perfil só para a mãe. “Falei para minha mãe que ela precisa entrar na era digital. Abri a conta e, agora, muitas pessoas acompanham”, revela Mônica.

A influenciadora divide o tempo entre os dois perfis, e se alegra com a função. “Na pandemia, eu compartilhei mais sobre o meu dia a dia em casa e comecei a criar conteúdos. As pessoas seguem muito o que eu indico’’, celebrou.

Dona Emilia elogia a filha e confessa que foi muito incentivada por ela a criar os enfeites. As duas vivem uma relação muito amigável e cordial.

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