Cirque du Soleil: conhecemos o backstage do espetáculo Ovo
O Metrópoles foi convidado para assistir ao espetáculo mais brasileiro da companhia canadense em BH, antes da estreia em Brasília
atualizado
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O espetáculo Ovo, do Cirque du Soleil, chega a Brasília nesta sexta-feira (5/4). A produção da companhia canadense tem gostinho especial por aqui. Apesar de ser coreografada por uma brasileira – Deborah Colker –, esta é a primeira vez que o show é apresentado no Brasil.
Antes da estreia na capital, o Metrópoles foi convidado para assistir ao show em Belo Horizonte (MG), primeira cidade do circuito brasileiro. Pudemos conhecer o backstage da apresentação e ter uma ideia da real dimensão do espetáculo apresentado pela companhia.
O Cirque du Soleil já é reconhecido por sua grandiosidade, mas conhecer o trabalho da equipe que faz o show acontecer faz você ter outra percepção da companhia. Cada detalhe é pensado, estudado e realizado quantas vezes forem necessárias até que seja executado com perfeição.
Nossa imersão aconteceu em 13 de março. Chegamos ao Ginásio Mineirinho por volta das 15h, no início do ensaio geral, e fomos recebidos por Nicolas Chabot, publicitário responsável por orquestrar toda a equipe. Entre uma entrevista e outra, o simpático canadense estava atento ao cronograma dos ensaios que seguiam ao longo da tarde.
O show
Esqueça a estrutura dos shows dos circos tradicionais. Quando as luzes se apagam, o público é transportado para uma colorida colônia de insetos. Os artistas circenses se transformam em joaninhas, aranhas, vaga-lumes, borboletas, libélulas, grilos, besouros, pulgas, formigas e baratas que se contorcem, fazem malabarismos e acrobacias.
A trilha sonora de Ovo é um show à parte. Ela faz um passeio pela diversidade cultural e sonora do Brasil e não se restringe ao samba. Passeia pelo funk carioca, forró e, até, carimbó.
Aperfeiçoamento diário
Todos os dias, com exceção das segundas-feiras, os artistas e a equipe técnica participam dos ensaios. O condicionamento físico deles surpreende. Muitos são atletas olímpicos aposentados que encontraram no circo uma nova oportunidade para seguir na ginástica.
Quem os vê em palco, vestidos em seus figurinos, não imagina o preparo físico deles. O ginasta brasileiro Martin Alvez lembra que “estar em forma” inclui ter força muscular para desempenhar os números e caber perfeitamente no figurino. “Eu também tenho que me preocupar com a aparência. Meu corpo precisa estar perfeito”, relevou.
Enquanto um grupo passa o seu número no palco, os outros integrantes da companhia fazem aquecimento, aula de ioga, musculação e assistem às gravações de suas apresentações dos dias anteriores atrás do palco.
Ali também fica uma compacta e eficiente oficina de costura comandada pela espanhola Mar Gonzalez Fernandez. A designer e sua equipe são responsáveis pelo figurino desenhado por Liz Vandal, composto por mais de mil peças – roupas, chapéus, sapatos e outros acessórios. Todos os dias, os sapatos dos personagens são repintados para garantir que estejam esteticamente perfeitos e simétricos com a roupa.
Os artistas – incluindo palhaços, acrobatas e músicos – passam por um treinamento rigoroso no Canadá nos meses que antecedem a estreia do espetáculo. A rotina começa às 8h e só termina às 18h. Tudo é muito pontual e controlado. O treinamento inclui aquecimento, preparação de voz, expressão corporal e outras atividades.
“O treinamento para entrar no Cirque é difícil, mas ainda mais rígido quando você já está aqui, em atuação. Eles querem saber se estamos preparados para enfrentar uma rotina de oito a 10 shows por semana”, explica Neiva Nascimento, intérprete da joaninha Lady Bug.
Família multicultural
Com quatro folgas de duas semanas ao longo do ano, o elenco precisa aprender a conviver em equipe. Atrás do palco, as bandeiras de todas as nacionalidades marcam presença, erguidas como um conforto para quem está a quilômetros de casa.
Neiva conta que algumas famílias até conseguem viajar juntas – é o caso de Martin Alvez e Beth Williams, casal que se apresenta junto no número Voo das Borboletas –, mas muitas mães precisam deixar os filhos em casa, aos cuidados de seus companheiros, para seguir em turnê.
É natural que sejam formados grupos de cada nacionalidade, mas Neiva garante que eles conseguem manter um bom convívio social dentro e fora do palco.
“Desentendimentos acontecem, como em toda família, mas o circo consegue sanar isso da melhor maneira. Aqui, nós prezamos pelo respeito à cultura, às diferentes religiões, orientações sexuais e etnias. Por isso, nós conseguimos manter uma harmonia legal”, revela.
Ao final da apresentação, acrobatas, costureiras e equipe técnica voltam juntos ao hotel em que estão hospedados, mas antes fazem uma pausa no bar mais próximo para comemorar o sucesso de mais uma noite. O clima de família tão falado no backstage se revela. É visível o cuidado que uns têm pelos outros.
De volta ao Brasil
A estreia de Ovo no Brasil era aguardada não só pelo público, mas, principalmente, pelos artistas brasileiros que compõem o espetáculo. Foram 10 anos até a estreia nacional.
“Houve muita especulação e rumor de que a peça poderia vir ao Brasil, mas isso só foi confirmado em meados de 2018. Quando a produção nos comunicou foi uma festa só! Assim que soubemos, ligamos para as nossas famílias”, lembrou.
Foi uma vitória para os brasileiros. Conseguimos trazer o Ovo para o nosso país.
Neiva Nascimento
Neiva Nascimento (joaninha Lady Bug)
A brasileira Neiva Nascimento, 43 anos, é uma das protagonistas de Ovo. A carioca integra o time de palhaços, grupo que conta a narrativa de Ovo, e brilha ao interpretar a joaninha Lady Bug.
Filha de artistas circenses, Neiva tem suas primeiras lembranças da infância em tendas de circo. Aos 5 anos começou a ser treinada pelos pais e passou pelo contorcionismo e malabarismo ao lado dos irmãos. Sua formação inclui, ainda, a Escola Nacional do Circo, no Rio de Janeiro, trabalhos temporários em circos que passavam pela cidade e aulas em projetos sociais.
A relação dela com o Cirque vem de longa data. Sua primeira audição foi há 15 anos, no período em que fazia parte do projeto Circo Crescer e Viver. “A minha relação com o Cirque começou em 2004, quando eu fiz a minha primeira audição e fui aprovada”, lembrou.
Depois da aprovação, os nomes dos artistas passam a integrar o casting da companhia. Eles ficam à espera de um papel compatível com seu perfil – dança, teatro, música, circo e acrobacia, por exemplo. No caso de Neiva, a oportunidade surgiu 10 anos depois, em Ovo.
A intérprete de Lady Bug revela que o idioma e a saudade da família foram as maiores barreiras dentro da companhia canadense. Mesmo com uma tradutora que a ajudava nos ensaios, ela se sentia um peixinho fora d’água. O apoio e a união dos colegas de elenco foram fundamentais para que ganhasse confiança aos poucos.
Neiva já passou por mais de 14 países com a joaninha Lady Bug. Entre eles, o Canadá, onde teve o treinamento, Estados Unidos e países da Europa, mas, segundo ela, a emoção de se apresentar no Brasil é incomparável.
A carioca sugere que, em Ovo, ela e os colegas têm uma responsabilidade a mais, para mostrar ao público a nossa cultura e a energia dos artistas brasileiros. “Às vezes, os nossos colegas de outros países nos perguntam, admirados, de onde vem tanta energia. Essa força é nossa.”
“Você sente a responsabilidade ainda maior de fazer bonito quando está em casa, para que todos possam ver como o show é lindo. Estar no Brasil é indescritível. Os outros países foram maravilhosos, mas aqui tem um toque especial”, compartilhou, emocionada.
Espetáculo Ovo – Cirque du Soleil
De 5 a 13 de abril, no Ginásio Nilson Nelson (Eixo Monumental, Brasília)
De 19 de abril a 12 de maio, no Ginásio do Ibirapuera (São Paulo)
Ingresso: de R$ 130 a R$ 275 (meia-entrada). Valores sujeitos à alteração. Livre para todos os públicos
A repórter viajou pelo Belo Horizonte (Minas Gerais) a convite da IMM.