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Em carta, Jô Soares chama Bolsonaro de “rei dos animais”

Pela segunda vez, apresentador e escritor reclama da postura do presidente. Artista ironizou vídeo de leões publicado pelo político

atualizado

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1 de 1 jô soares - Foto: Divulgação/TV Globo

Em uma carta endereçada ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), o apresentador, escritor e humorista Jô Soares, 81 anos, chama o o chefe do Palácio do Planalto de “rei dos animais”, em referência ao polêmico vídeo publicado em uma rede social do político no mês passado.

“Realmente é um excesso de diversos predadores a atacar um leão solitário, tentando proteger-se e aos seus filhotes: são chacais supremos, racuns, capivaras e gambás, sem falar das folhas, cujo destino é inominável, e das eternas hienas globais”, inicia Jô, no texto publicado pelo jornal Folha de S.Paulo neste domingo (10/11/2019).

O vídeo a que Jô se referiu foi apagado da conta de Bolsonaro no Twitter. A postagem foi feita cerca de duas horas antes, na tarde do dia 28 de outubro. Entre as legendas para os animais que tentam intimidar o “rei da selva”, estão os logotipos do Supremo Tribunal Federal (STF) e do próprio partido ao qual o presidente é filiado, o PSL.

A primeira hiena a aparecer na gravação representa o PT. Também estão no grupo das hienas a Organização das Nações Unidas (ONU), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e veículos de comunicação, assim como sindicatos e outros movimentos políticos – do MST ao MBL.

Jô ironizou. “Voltando ao tema principal: cheguei a pensar, quando vi o vídeo (por sinal, parabéns pela montagem), que talvez a figura de Mogli, o Menino Lobo, criado na selva, enfrentando múltiplos perigos, fosse mais adequada a vossa excelência”, escreveu.

Perto do fim do vídeo, outro leão representando o “conservador patriota” chega para dar apoio ao animal da mesma espécie, que está cercado pelos animais menores. Uma legenda com os seguintes dizeres é incluída na produção: “Vamos apoiar o nosso presidente até o fim! E não atacá-lo! Já tem oposição para fazer isso”.

O apresentou e escritor finaliza o texto caçoando de Bolsonaro. “Meditei muito, passei a noite sem dormir, mas antes de apagar a luz estava começando um filme da Metro com aquele rugido característico: para mim, aquela mensagem foi decisiva. Pude finalmente dormir em paz: a sua definição é perfeita: vossa excelência é o leão. Vossa excelência é o rei dos animais”, encerrou.

Embora a conta pessoal seja de responsabilidade do próprio Bolsonaro, seu filho Carlos — vereador pelo PSC no Rio de Janeiro — admitiu, no dia 17 de outubro, ter feito uma publicação na rede social do pai sem autorização e se desculpou, também pelo Twitter. Na ocasião, a publicação confirmava uma posição a favor da prisão após condenação em segunda instância em dia de julgamento da questão no STF.

Essa é a segunda vez que Jô escreve uma carta endereçada ao presidente. Em julho, o escritor publicou uma mensagem em francês criticando a indicação do filho do chefe do Palácio do Planalto, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), para a embaixada do Brasil em Washington. Jô comparou Bolsonaro a ditadores.

Caso Marielle
Jô citou brevemente os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ) e do motorista Anderson Gomes. “A calúnia não para! Agora, querem lhe responsabilizar pelo fato de sua ilibada residência localizar-se na mesma região onde, por uma coincidência estúpida, habitava também um certo Ronnie, de alva notoriedade (mas em outro lar doce lar, é claro!). Sem nenhuma ligação, um valhacouto de papalvos”, publicou.

O apresentador explica os termos rebuscados. “Para os menos ilustrados: 1- Valhacouto: lugar seguro onde se encontra refúgio; abrigo, esconderijo; o que se usa para encobrir o aspecto de uma coisa, ou as intenções de alguém; disfarce, dissimulação; 2 – Papalvo: diz-se de indivíduo simplório, pateta ou tolo”, brincou.

Veja a íntegra da cartas de Jô Soares ao presidente Jair Bolsonaro: 

“Realmente é um excesso de diversos predadores a atacar um leão solitário, tentando proteger-se e aos seus filhotes: são chacais supremos, racuns, capivaras e gambás, sem falar das folhas, cujo destino é inominável, e das eternas hienas globais.

A calúnia não para! Agora, querem lhe responsabilizar pelo fato de sua ilibada residência localizar-se na mesma região onde, por uma coincidência estúpida, habitava também um certo Ronnie, de alva notoriedade (mas em outro lar doce lar, é claro!). Sem nenhuma ligação, um valhacouto de papalvos!

(Para os menos ilustrados: 1- Valhacouto: lugar seguro onde se encontra refúgio; abrigo, esconderijo; o que se usa para encobrir o aspecto de uma coisa, ou as intenções de alguém; disfarce, dissimulação; 2 – Papalvo: diz-se de indivíduo simplório, pateta ou tolo.)

Voltando ao tema principal: cheguei a pensar, quando vi o vídeo (por sinal, parabéns pela montagem), que talvez a figura de Mogli, o Menino Lobo, criado na selva, enfrentando múltiplos perigos, fosse mais adequado a vossa excelência.

Meditei muito, passei a noite sem dormir, mas antes de apagar a luz estava começando um filme da Metro com aquele rugido característico: para mim, aquela mensagem foi decisiva. Pude finalmente dormir em paz: a sua definição é perfeita: vossa excelência é o leão. Vossa excelência é o rei dos animais!”

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