Vingança, traição e pé na bunda: é o que revelam as cartas de Madonna
Cartas que entrariam em um leilão revelam um lado ainda mais polêmico de uma das artistas mais consagradas do mundo
atualizado
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Foi anunciado recentemente que vários itens pessoais de Madonna estariam disponíveis em um leilão. A coleção conta com roupas, objetos e fotos autografadas, mas são as cartas que rainha do pop enviou e recebeu que estão gerando mais polêmica. Embora a cantora já tenha acionado seus advogados para a retirada dos itens à venda, o conteúdo publicado oferece um vislumbre do que era a vida pessoal de uma das maiores artistas desde a década de 1990.
Todos os materiais pertencem (supostamente) a uma ex-assistente chamada Darlene Lutz. Além de trabalhar diretamente com Madonna, Darlene era responsável por negociar a compra de quadros de arte valiosos para a cantora — que investia seus milhões de dólares em obras de artistas renomados, como Frida Kahlo. De acordo com o site New York Social Diary, Madonna e Darlene pararam de se falar quando a estrela pop se tornou devota dos ensinamentos da Cabala e, a partir daí, três cartas, cada uma com uma controvérsia diferente, foram colocadas à venda.
A primeira era do rapper Tupac Shakur, que ele escreveu da prisão enquanto cumpria pena por abuso sexual decorrente de um incidente em novembro de 1993. Na carta, Tupac termina o relacionamento que tinha com Madonna por ela ser branca.
“Para você, ser vista com um homem negro, não coloca em risco a sua carreira, no máximo faz com que você pareça mais aberta e aventureira”, escreve o músico. “Para mim, no entanto, acredito que estaria decepcionando metade das pessoas que me fizeram o que sou. Jamais quero te machucar. Você consegue entender?”, questiona o cantor, que também adverte Madonna sobre confiar em algumas pessoas. “Tenha cuidado. Nem todos são tão honrados quanto parecem. Há aqueles cujos corações sangram com inveja e maldade. Eles não hesitarão em te prejudicar!”.
Depois disso, uma carta da própria Madonna terminando um affair com o ator John Enos causou polêmica. Nela, a estrela pop critica Whitney Houston e Sharon Stone por nunca terem desafiado as hipocrisias da sociedade, as chama de “horrivelmente medíocres” e compara seu sentimento com “o que os negros sentiram quando Elvis Presley ficou popular”.
“Eu irritei tantas pessoas que estou sendo punida e, basicamente, obrigada a ficar quieta e sentada num canto, enquanto outras pessoas menos interessantes e excitantes estão colhendo os benefícios de caminhos que eu pavimentei. É muito frustrante ler que Whitney Houston tem a carreira musical que eu gostaria de ter e Sharon Stone tem a carreira de cinema que eu nunca vou ter. Não porque eu queira ser essas mulheres, porque eu preferia morrer, elas são horrivelmente medíocres, e sempre são colocadas como modelo ideal de virtude e parâmetro de medida para me humilhar. Eu não acho que consigo jogar o jogo para ser aceita. Eu sou muito inteligente, tenho muito orgulho. Eu sinto como se não tivesse carreira, nem família, nada permanente ou tangível.”
Até o momento, no entanto, nenhuma delas tinha gerado tanta teoria da conspiração quanto última, enviada pela cantora a um ex-promoter de festas de Nova York chamado Peter Shue. A carta foi escrita em um papel timbrado e enviada junto com uma calcinha branca, flores, água-benta, foto de seu cachorro e seu novo álbum na época “Bedtime Stories“.
“Olá querido, eu estou te enviando um pacote de Amor e Sorte. Os girassóis trazem boa sorte e você deve sempre ter em sua casa. Tem também minha calcinha, como você pediu, água-benta, por motivos óbvios e o meu novo álbum. Por favor, escute quando estiver sozinho, preferencialmente com velas ao redor e sem interrupções.
Eu sinto muito a sua falta mesmo que nos conheçamos a menos de uma semana, mas eu sinto que te conheço por centenas de anos. Tome cuidado e, por favor, me dê o seu passaporte, assim nós poderemos fugir juntos. Com amor, M.”
Até aí tudo bem. Era só mais um caso. Só que Peter ficou 21 anos preso por tráfico de drogas e, para ele, a culpa disso tudo é de ninguém mais ninguém menos que Madonna. A história é complexa, mas faz algum sentido.
Madonna engatou um breve relacionamento com Peter no verão de 1994 após conhecê-lo em uma boate de Manhattan. No mesmo ano ela também mantinha contato com Arlyne Brickman, judia que passou quase 40 anos saindo com mafiosos e incentivando seus negócios e golpes. Após um término conturbado com um criminoso, Arlyne decidiu se desligar desse mundo e se tornou informante do governo — título que ela preferia chamar de “indivíduo cooperante”.
Madonna queria ser protagonista de “Mob Girl” (A Garota da Máfia), cinebiografia inspirada no livro de Teresa Carpenter que contaria a história da vida turbulenta da jovem Arlyne. Para criar um vínculo com a informante, Madonna a chamou para sua festa de aniversário — realizada no dia 15 de agosto de 1994 — e Peter não estava lá. Na festa, Madonna teria pedido para Arlyne descobrir se Peter traficava drogas. Uma semana depois os dois teriam se encontrado na casa de Madonna e Arlyne descobriu a ligação de Peter com o tráfico.
Na época, a cantora se preparava para lançar seu sexto álbum de estúdio chamado “Bedtime Stories”, disco com pegada romântica e diferente do predecessor “Erotica” — um alívio para o público saturado de ver Madonna desafiar e subverter o puritanismo sexual dos Estados Unidos. No vídeo promocional, Madonna aparecia dizendo: “Sou uma nova pessoa! Vou ser uma boa garota, prometo”. Mas não foi o caso.
O carro-chefe do álbum era a faixa “Secret”, na qual Madonna diz que o amor de sua vida tem um segredo envolto em mistérios. De acordo com Peter, Madonna o convidou para fazer parte da gravação do videoclipe como o namorado dela e receberia U$ 100 mil dólares pela tarefa. No entanto, por estar envolvido com outra mulher que sentia ciúmes da estrela do pop, Peter desistiu da gravação — realizada no Harlem, em Nova York, entre 9 e 11 de setembro de 1994. Madonna teria ficado furiosa.
O que se sabe a partir daí é que Arlyne arquitetou um plano com a Drug Enforcement Administration, órgão da polícia federal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para construir um caso contra Peter Shue. Ele foi pego pela polícia ao tentar comprar 13 quilos de cocaína de um agente disfarçado no estacionamento de um restaurante chinês em Roslyn, Long Island. Foi considerado culpado e passou 21 anos na prisão.
Para Peter, a fúria de Madonna foi o fator determinante para sua prisão. “Ela estava louca. Poderia ter facilmente me deixado em paz, mas colocou um informante atrás de mim”, disse ele ao National Enquirer. No entanto, ele afirma que o tempo na prisão não o deixou com sede de vingança. “No começo da minha sentença, eu costumava pensar em Madonna de forma negativa, mas não guardo rancores”, confessou ao salientar que nunca viu a cantora usar nenhum tipo de droga.
Há pouco tempo, Madonna acionou seus advogados que entraram com uma ação de emergência no Supremo Tribunal de Manhattan para barrar a comercialização de todos os itens vendidos por Darlene Lutz. “Eu entendo que o meu DNA pode ser extraído de um pedaço do meu cabelo. É escandaloso e grosseiramente ofensivo que meu DNA possa ser leiloado para venda ao público em geral”, declarou no documento judicial ao relatar que a ex-funcionária frequentava a sua casa mesmo quando ela não estava presente. “O fato de eu ter atingido o status de celebridade como resultado do sucesso na minha carreira não exclui meu direito de manter a minha privacidade, inclusive em relação a itens altamente pessoais”, escreveu Madonna.
