“Streaming é onde o cinema morre”, diz José Padilha, de Tropa de Elite
José Padilha, diretor de Tropa de Elite, opinou sobre o crescimento dos streamings e fez uma análise sobre a disputa com o cinema
atualizado
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José Padilha, diretor de Tropa de Elite, analisou o atual momento do entretenimento brasileiro e deixou a sua opinião em relação à disputa entre cinema e plataformas de streamings. O cineasta ainda abriu o jogo sobre uma possível série sobre a morte de Marielle Franco.
“É onde o cinema morre, porque você está pegando uma database gigante, um algoritmo que extrapola, que correlaciona público com features do filme e dá uma nota para o diretor que escreveu uma história com só lógica interna [do streaming]. Já aconteceu isso. Sem o ChatGPT já estava acontecendo”, declarou, em papo com o UOL Entrevista.
Para Padilha, o streaming tem uma vantagem financeira sobre o cinema. “Uma coisa é você pegar, como fiz no Tropa de Elite 2, 800 cópias em 35 milímetros e, fisicamente, levar a um monte de cinema e passar o filme. Outra coisa é você distribuir por um cabo. Tem esse corte de custo”, relatou.
O diretor ainda contou sobre a diferença de produção entre o cinema e o streaming. “Em um streaming, você paga uma mensalidade e você não sabe qual o filme que deu lucro ou prejuízo para aquele streaming. […] Quando você começa a fazer filme por atacado, porque você sabe que tem uma receita de assinantes que não vai cair muito rápido, ela tem uma resiliência”, pontuou.
Padilha ainda apontou uma outra vantagem do streaming. “Se eu vir um filme horrível em um streaming, não quer dizer que vou cancelar a minha conta, vou ficar ali no streaming e ver outro. Não existe a pressão de fazer cada filme ser um incrível sucesso”, detalhou.
O cineasta ainda criticou a possibilidade da inteligência artificial criar o roteiro de um filme.
“Nenhum estúdio em Hollywood autoriza um roteiro escrito por um homem branco sobre o Martin Luther King Jr. Porque ele é negro, o roteirista tem que ser negro. Se você pegar a história de, vamos dizer, de uma pessoa transgênero heróico aqui [nos Estados Unidos], e você der para um homem negro que não é transgênero, esse homem negro não pode escrever esse roteiro. Só um Apache, por exemplo, pode escrever roteiro sobre a história dos Apaches. Então, o que as pessoas não acordaram ainda é o seguinte: se eu não posso escrever um roteiro sobre um Apache, por que um computador pode?”