Othon Bastos sobre o Brasil: “Estamos carrancudos, falta poesia”
Othon Bastos está no filme Voo do Anjo, que ainda conta com Emílio Orciollo Neto. O ator contou sobre a produção e o cinema nacional
atualizado
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Conversar com Othon Bastos é voltar no tempo, beber na fonte de grandes pensamentos, e, ao mesmo tempo, entender o cinema nacional contemporâneo. O ator, aos 91 anos, estrela o filme O Voo do Anjo, em cartaz nas sala dos país. E, para explicar essa relação com a sétima arte brasileira, o artista busca ajuda de poetas e filósofos.
O gosto pela poesia veio aos 12 anos, quando participava de algumas reuniões ao lado de seu pai, Mario Costa Bastos. Dentre os poetas brasileiros que mais gosta, está Augusto dos Anjos, cujo livro segue em sua cabeceira. Ao Metrópoles, o veterano explicou que poesia é o que falta atualmente para nossa sociedade.
“Nós estamos muito carrancudos, muito aborrecidos, preocupados, falta poesia, é isso que falta no ser humano. Como dizem, no paraíso dos poetas, as palavras são anjos”, declarou, recuperando uma frase de Paulo Bomfim no livro O Colecionador de Minutos.
O Voo do Anjo acompanha Vitor Almeida (Othon Bastos), um professor de física aposentado que mora com seu filho Renan (Gustavo Duque), um cirurgião plástico, em uma cobertura luxuosa. Sua vida monótona muda com a chegada do entregador de comida Arthur (Emílio Orciollo Netto), que deprimido após um trauma familiar, abandonou a carreira como professor universitário de sociologia, e está em busca da purificação de uma forma irreversível.
Vitor e Arthur se conhecem em um momento de fragilidade — enquanto o personagem do veterano estava sozinho para jantar no aniversário, o de Emílio pensa em se jogar de uma varanda por conta da morte da filha.
Para Bastos, o personagem tem um significado profundo e, até mesmo, poético.. “É a importância de viver, de saber e ter o prazer de viver, ele tinha isso dentro dele e é que o carrega”, descreveu. Ele ainda explicou que o “anjo”, título da obra, vem da queda da filha de Arthur. A história conta com uma temática muito relacionada a luto e à superação.
“Construir esse personagem nesse filme é como construir a própria vida, você tem que estudar, pensar, imaginar, acreditar no que você vai fazer e conversa com o diretor. Como diz o Denzel Washington, o cinema é do diretor, é ele que vai criando e fazendo tudo”, afirmou Bastos, que é dirigido por Alberto Araújo em O Voo do Anjo.
Relação com o cinema
A relação com o cinema, para Othon Bastos, é baseada em escolhas. O ator, do alto de 72 anos de carreira, entende que saber optar pelas oportunidades é essencial para se manter no auge por tanto tempo.
O ator não adotou esse modus operandis recentemente. Vem de muito tempo. Ele lembra que, após viver o cangaceiro Corisco, em Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, ficou quatro anso afastado das telas. Retornando como Bentinho em Capitu (1968), adaptação de Dom Casmurro, de Machado de Assis.
“Eu sempre escolhi os filmes, não me deixei levar pelo sucesso. Inclusive, Nietzsche diz que o “sucesso é o maior mentiroso que existe. Você não é responsável com as coisas que acontecem a você, você é responsável pelas coisas que você escolhe para você”, pontuou.