Marco Pigossi sobre homossexualidade: “Pedia a Deus para me consertar”
O ator, que assumiu o namoro com o cineasta italiano Marco Calvani no final do ano passado, concedeu uma entrevista ao O Globo
atualizado
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Marco Pigossi assumiu, em novembro do ano passado, o namoro com o cineasta italiano Marco Calvani. Durante uma entrevista ao O Globo, o ator relembrou momentos de sua infância e contou como foi o processo para contar, nas redes sociais, que era gay. Calvani era o diretor de Best Place in the World, lançado em setembro, produção que contou com o brasileiro.
“O personagem era latino, mas virou brasileiro quando entrei no projeto. O Marco acompanhou meu processo de sair do armário e transformar isso numa questão política para abrir caminhos para jovens. Tenho necessidade de me expressar sobre o meu processo, sobre o que causou em mim, sobre o que pode causar nas pessoas. É uma maneira de eu me curar”, começou explicando.
Pigossi também relembrou como foi o processo para “sair do armário”. “Ele ficou existindo no meu ambiente de trabalho com uma naturalidade que me fez tão bem. A vida inteira meu trabalho e minha vida pessoal eram separados, tinha medo de que descobrissem. Pela primeira vez, esses mundos existiram juntos, e foi emocionante”, contou.
Logo no início de 2022, o ator trouxe o namorado ao Brasil e o apresentou para sua família. “Com meu pai, é sempre tenso, não há naturalidade. É distante do universo dele, que é eleitor do Bolsonaro. Não que ele ache que ser gay é falta de porrada, mas se vota num candidato desse. Existe um ideal político que distancia a gente”, revelou Marco Pigossi.
“Mas eles se deram superbem. Meu pai até arriscou um italiano, porque meu avô era italiano”, acrescentou o artista.
Quando era criança, Pigossi explicou que foi tomado pela solidão. “Eu rezava, pedia a Deus para me consertar. A homofobia é tão enraizada que, por mais que a gente assuma, ainda vai lidar com o preconceito interno. Vesti a máscara heterossexual, sempre fui observado pela beleza. Fiz esse personagem hétero para me esconder, o que deixou minha vida mais confortável. E sou branco, privilegiado, classe média, filho de médicos. Imagina quem está na favela, é negro”, explicitou.
Na escola, o ator também contou que se escondia, não descia para o recreio e que dispensou até a viagem de formatura. O alívio veio quando ele entrou para o teatro. “Conheci corpos gays ali. Era um alívio deixar de ser eu. O que era uma fuga, mas carregada de carga cultural, do despertar como pessoa”, pontuou.
Por fim, Pigossi expressou a felicidade por fazer as pazes consigo mesmo e poder se abrir. “A pessoa que se aceita e está feliz com o que é conhece uma força enorme. Se sente com poder para ocupar espaços. E o encontro com a comunidade é uma corrente bonita, a gente se sente fortalecido, cria um senso comunitário. Porque, no fundo, o que a gente mais quer é pertencer. Como homossexual, sentia que não pertencia a nenhum grupo. Todos esses corpos passam por isso. E quando passam a pertencer. É do caralho”, completou.
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