Glória Maria sofreu racismo de ex-presidente: “Neguinha da Globo”
A jornalista Glória Maria morreu, no Rio de Janeiro, na manhã desta quinta-feira (2/2) vítima de um câncer no pulmão que deu metástase
atualizado
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Glória Maria foi uma das pioneiras no jornalismo brasileiro e morreu nesta quinta-feira (2/2), no Rio de Janeiro. Entretanto, durante a sua história, a profissional foi alvo de racismo e foi a primeira pessoa no Brasil a utilizar a Lei Afonso Arinos, primeira norma contra o racismo no Brasil. A repórter também foi vítima do preconceito por um ex-presidente do Brasil.
O ex-chefe do Executivo em questão foi João Figueiredo, último presidente da ditadura militar. Glória contou, em uma participação no Conversa com Bial, em 2020, que ele não gostava dela. “Tira aquela ‘neguinha’ da Globo daqui’. E eu passei todo o governo Figueiredo ouvindo [isso]”, contou a jornalista.
A jornalista foi ainda além, e desabafou sobre o caso. “Sempre tem uma justificativa para você estar ali [em um lugar de poder], nunca é porque você tem talento, porque você tem valor. É por uma coisa qualquer. E você vai aprendendo como é o olhar das pessoas sobre você”, explicou a comunicadora.
Glória Maria reforçou a sua identidade. “Quando você nasce negro – e eu não sou mulatinha, eu sou negra, mesmo, eu sou preta –, você aprende a reconhecer isso a 30 quilômetros de distância, você sabe onde está o racista”, finalizou.
Lei Afonso Arinos
Glória Maria morreu nesta quarta-feira (2/2), aos 73 anos, vítima de um câncer. A jornalista, que marcou época na TV brasileira, foi a primeira a utilizar a Lei Afonso Arinos, a primeira norma contra o racismo no Brasil, estabelecida em 1951, que tornava contravenção penal a discriminação racial.
A repórter publicou no Instagram, em 2019, que em 1970 foi impedida pelo gerente de um hotel no Rio de Janeiro a entrar pela porta da frente do estabelecimento. A jornalista se orgulhava de ter sido a primeira pessoa a utilizar a lei em nosso país. Durante um especial da Globo, Glória Maria relembrou o momento.
“Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção”, explicou a jornalista, na ocasião.
Na sequência, a jornalista detalhou os desdobramentos do preconceito. “Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais. Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula. Porque o racismo, para muita gente, não vale nada, né? Só para quem sofre”, completou.