Famosos tiram vício em pornografia do armário e colocam tema em debate
Gustavo Tubarão, Billie Eilish, Terry Crews, Cara Delevingne e Jada Pinkett Smith são algumas celebridades que já falaram sobre o vício
atualizado
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Nesta semana, o youtuber Gustavo Tubarão abriu o coração sobre sua luta contra o vício em pornografia. Em um vídeo publicado na última terça-feira (20/8), o influenciador relata que teve uma recaída. “Estava há quase um ano e meio sem ver. A pornografia é tão viciante quanto a cocaína”, desabafou.
Em seguida, Tubarão pontuou os riscos do consumo de conteúdo adulto. “Eu quero alertar para vocês o tanto que essa merda está me fazendo mal, não só para mim, mas para o meu espírito. O problema é o seguinte: A cocaína tem que pagar e é cara. A pornografia é de graça e todo mundo tem acesso”, disse.
Gustavo Tubarão não é o único famoso que já admitiu algum tipo de dependência em conteúdos adultos. O ator Terry Crews, conhecido por papéis em Todo Mundo Odeia o Chris e Brooklyn Nine-Nine, revelou o vício ao público em 2016. Na época, ele também relatou diversas consequências do hábito, inclusive no seu casamento. Chris Rock, o humorista Russell Brand, e o cantor gospel Kirk Franklin são outros exemplos.
Contrariando expectativas e estereótipos de gênero, o vício também afeta o público feminino. Segundo relatório de consumo divulgado pelo Pornhub, um dos maiores sites do segmento, em 2019 houve um aumento em 39% no acesso de mulheres em sites de conteúdo erótico no Brasil, índice maior que o global, de 32%.
Elas também já usaram a mídia para desabafar sobre o hábito nocivo. Como é o caso da atriz e apresentadora Jada Pinkett Smith, que admitiu ter uma “relação não saudável” com a pornografia, no programa Red Table Talk, da cantora Billie Eilish e da modelo Cara Delevingne.
Para especilialistas, mais que desabados, o depoimento de famosos têm impactos positivos na rotina de outras pessoas. “Quando uma figura pública fala abertamente sobre a sua história, sobre algum transtorno psíquico ou vício que enfrenta, ela ajuda muita gente. Por serem conhecidas e admiradas acabam por ter credibilidade e alcançam um grande número de pessoas”, explica Cynthia Dias Pinto Coelho, psicóloga clínica com formação em sexologia.
“Se um ídolo fala sobre sua patologia, acaba por humanizar o seu problema, permitindo a identificação de vários fãs e seguidores, que podem tomar consciência e ter a coragem para buscar ajuda familiar e profissional, falando mais abertamente sobre o seu vício ou o seu problema. As histórias de tratamento e superação inspiram e trazem esperança para que as pessoas busquem ajuda médica e psicológica”, comenta a sexóloga.
Impactos do vício
Assim como relatou Terry Crew, a pornografia afeta diretamenta a vida das pessoas, em âmbitos além do sexual. No caso do ator, a dependência em conteúdo pornô levou ao divórcio com a Rebbeca King, como ele contou ao podcast Armchair Expert no ano passado.
“O vício em pornografia pode afetar muito a vida afetiva, sexual e os relacionamentos de uma pessoa”, reforça a psicologa. “Ademais, nem todo parceiro sexual estará disposto a realizar algumas cenas, fantasias e posições sexuais ofertadas nos filmes, gerando frustração ou insatisfação sexual nas relações concretas”, detalha Cynthia Dias Pinto Coelho.
Outro ponto é que, como os vídeos adultos são ensaiados e produzidos em estúdio, podem gerar “confusão entre realidade e ficção” na cabeça de quem consome com frequência. “A pessoa pode passar a comparar sua performance ou o seu corpo com os dos atores e, com isso, passar a se sentir insegura ou insuficiente para performar daquela maneira”, explicou a sexóloga.
Em seu relato, Gustavo Tubarão completa que vive momentos ruins por conta do vício. “A pornografia não acaba só com a saúde mental da gente. Parece que a gente abre uma porta e a um buraco negro de coisas negativas. É uma sensação assim vontade de fazer trem errado mesmo”, contou.
Já Billie Eilish, que começou a consumir pornografia aos 11 anos, expôs ter dificuldade na vida sexual por conta do alto consumo de conteúdo erótico. “Nas primeiras vezes que e tive relações sexuais, eu não estava dizendo não a coisas que não eram boas. Era porque eu achava que era isso que eu deveria estar atraída,” contou ao programa Howard Stern Show na rádio Sirius XM, em 2021.
“Eu acho que [a pornografia] realmente destruiu meu cérebro e me sinto incrivelmente devastada por ter sido exposta a tanta pornografia”, admitiu Billie Elish.
Além das comparações, frustrações e baixa autoestima, o vício em pornografia pode, com o tempo, desencadear quadros psicogênicos, como a disfunção erétil, a disfunção ou exacerbação de desejo e a anorgasmia, como é chamada a incapacidade de se chegar ao orgasmo.
Ainda há o risco de que a pornografia se torne a única forma viável para o dependente conseguir obter prazer sexual. Aliás, este foi o caso da modelo Cara Delevingne, que relatou no documentário Planet Sex, da BBC, só conseguir atingir o orgasmo com estímulos visuais dos conteúdos eróticos.
O tratamento
O tratamento para o vício em pornografia é similar a qualquer tipo de adicção, apresentando resultados melhores quando combina psicologia e psiquiatria. “A psicoterapia trabalha a ressignificação de conceitos e mudança de hábitos em relação à dependência. Já a medicação bem indicada, conforme cada caso, ajuda a controlar a ansiedade, os pensamentos obsessivos e intrusivos, os comportamentos compulsivos e a impulsividade”, explica a psicóloga.
Como identificar o vício?
A primeira etapa para notar o vício é a dependência. “No caso da pornografia é importante estar atento à vontade constante de assistir a pornografia e/ou a necessidade de assistir à pornografia para sentir excitação ou desejo sexual, podendo chegar até ao ponto de deixar as relações sexuais físicas em segundo plano”, explica.
Outro ponto é a necessidade de acesso à pornografia em locais inadequados como o ambiente de trabalho ou lugares públicos. “Ou ainda a dependência da pornografia para se excitar, mesmo na presença de um parceiro/a, por exemplo. Os pensamentos recorrentes ao tema ao longo do dia também podem ser um sinal de alerta”.
Na prática, por exemplo, o cantor Joe Jonas teve uma breve experiência com pornografia na Internet ainda na juventude. “Eu usava meu (endereço) residencial para acessar os sites, e fiz isso por sete dias seguidos”, disse à revista Notion.