Erika Hilton se pronuncia sobre polêmica de Ludmilla no Coachella
Ludmilla foi acusada de intolerância religiosa ao exibir um vídeo no telão com a mensagem “só Jesus expulsa o tranca-rua das pessoas”
atualizado
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A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) se manifestou sobre a polêmica envolvendo um vídeo projetado por Ludmilla em seu show no Coachella, na Califórnia, Estados Unidos. A cantora, que é evangélica, foi acusada de cometer intolerância religiosa por causa de uma das imagens do clipe, que continua mensagem “só Jesus expulsa o tranca-rua das pessoas”, além da imagem de uma oferenda sendo pisada.
A parlamentar afirmou que soube da polêmica “com tristeza e preocupação”. “A realidade da nossa sociedade é a de que a intolerância e o racismo religioso existem, e estão se fortalecendo em favelas e comunidades do Brasil inteiro com o apoio das milícias, do crime, e da extrema-direita. Quando se projeta essa realidade em um show do porte do show de Ludmilla no Coachella, é necessário refletir isso”, pontuou Hilton.
“Mensagens como essa, sem nenhum contexto, podem criar mais danos à luta pela liberdade religiosa ao invés de ajudar a combater essa realidade de preconceito e violência contra pessoas de axé. A intolerância religosa precisa ser combatida. No nosso cotidiano, na sociedade civil, pelo judiciário, no parlamento, e nas artes também. E as vozes que alertam e trabalham contra a discriminações, sejam elas religiosa, racial, de gênero e orientação sexual, precisam ser fortalecidas”, continuou a deputada.
Em seguida, Erika Hilton pede que Ludmilla encare a repercussão do vídeo como uma oportunidade para avançar nesse debate e reparar danos causados. “Não esperem que na caminhada de pessoas negras nós nos condenemos tão facilmente quanto quem condena pessoas da nossa cor por qualquer passo errado”.
Vale lembrar que Erika participou do anúncio do o primeiro show de Ludmilla no Coachella. A apresentação começou com um áudio de Beyoncé e de Erika, falando em inglês sobre respeito à diversidade.
“Do Rio, no Brasil, para a Califórnia, diretamente para o Coachella. Senhora e senhores: Ludmilla”, introduziu Beyoncé.
“Esta é minha casa. E, na minha casa, eu não vou tolerar qualquer tipo de ódio, racismo, homofobia, transfobia, xenofobia, misoginia. Este é um espaço de autovalorização, um espaço de liberdade. Todos aqui têm seu próprio valor”, começa Erika.
“Respeite minha história, respeite meu povo e minha comunidade. Respeite principalmente as mulheres pretas e latinoamericanas, porque eu cheguei agora”, finaliza.
Entenda
O vídeo projetado no show de Ludmilla no Coachella, de autoria da diretora de criação Ana Julia Theodoro, mistura várias cenas cotidianas das periferias brasileiras, com pessoas dançando, empinando pipa, ônibus sendo queimados, brigas na rua, etc. Há também outra imagem em que a palavra Exu aparece, sem conotação negativa.
Acontece que na umbanda, no candomblé e em outras religiões de matriz africana no Brasil, Tranca-Rua ou Tranca-Ruas é um agrupamento/falange de entidades responsável por guardar e limpar os caminhos. Como Ludmilla é evangélica, a escolha da imagem com a frase “só Jesus expulsa o tranca-rua das pessoas” foi lida como uma afronta às religiões de matriz africana.
“A pessoa ser preta, lésbica, funkeira, levantar essas pautas e fazer uma cagada dessas na religião alheia.. foi feio!”, afirmou uma pessoa no X (antigo Twitter). “Sério que vocês vão passar pano para intolerância religiosa?”, questionou outra.
Rapidamente, Ludmilla se pronunciou sobre o assunto nas redes sociais e revelou que não foi sua intenção ofender as religiões de matriz africana. “Quando eu disse que vocês teriam que se esforçar para falar mal de mim, eu não achei que iriam tão longe”, iniciou a cantora.
“Hoje, tiraram do contexto uma das imagens do vídeo do telão do show em ‘Rainha da Favela’, que traz diversos registros de espaços e realidades nos quais eu cresci e vivi por muitos anos, querendo reescrever o significado deles e me colocando em uma posição que é completamente contrária a minha”, explicou.
“‘Rainha da Favela’ apresenta a minha favela, uma favela real, nua e crua, onde cresci, mas infelizmente se vive muitas mazelas: genocídio preto, violência policial, miséria, intolerância religiosa e tantas outras vivências de uma gente que supera obstáculos, que vive em adversidades, mas que não desiste. Isso passa por conviver em um ambiente muitas vezes hostil, onde a cada esquina você precisa se deparar com as dificuldades da favela”, afirmou.