Caso Antonio Cicero: onde morte assistida é permitida e como funciona
O poeta e membro da Academia Brasileira de Letras Antonio Cicero morreu nesta quarta após realizar um suicídio assistido fora do Brasil
atualizado
Compartilhar notícia
Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), o poeta e filósofo Antonio Cicero morreu nesta quarta-feira (23/10), aos 79 anos. Ele realizou um suicídio assistido na Suíça.
Cicero foi diagnosticado com Alzheimer e lidava com problemas neurológicos decorrentes da doença há alguns anos. O marido dele, o figurinista Marcelo Pies, revelou, em comunicado a pessoas próximas, que o imortal vinha planejando o procedimento há algum tempo.
O país escolhido por ele foi a Suíça, onde o suicídio assistido é permitido desde 1942, tanto para nascidos no páis, quanto para estrangeiros. Para a realização do procedimento, o indivíduo recebe uma substância letal e a ingere ou a aplica nele mesmo — diferente da eutanásia, que é quando uma outra pessoa, geralmente um médico, aplica a substância no paciente.
Quem tem interesse em passar pelo suicídio assistido não precisa ter uma doença terminal, mas tem que ter a mente sã e expressar o desejo consicente de encerrar a vida. Após isso, a pessoa precisa oferecer uma série de laudos médicos e outros documentos que passarão por longa análise.
Embora o suicídio assistido seja permitido na Suíça, a eutanásia não é. Na Holanda, os dois procedimentos são permitidos, mas é exigido que a pessoa tenha uma doença incurável ou esteja passando por um sofrimento tamanho, que não haja expectativa de melhora.
Outros países que também legalizaram ambos procedimentos são Bélgica, Canadá, Espanha e Luxemburgo. Cada um possui regras específicas, que se assemelham pelo ponto principal da exigência de diagnósticos que causem grandes dores. Em Portugal, apenas a eutanásia é permitida.
Leia a carta de despedida de Antonio Cicero após optar por morte assistida
O poeta e filósofo Antonio Cicero morreu nesta quarta-feira (23/10), aos 79 anos. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e irmão da cantora Marina Lima, ele tinha Alzheimer e optou pela eutanásia na Suíça.
Com a notícia da morte, foi divulgada uma carta em que Cicero, que colaborou com letras de algumas das principais canções de sua irmã, como Fullgás e Pra Começar, explica sua decisão.
“Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem”, começa o poeta na carta.
“Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação”, continua.
Por fim, o artista agradece amigos e se despede: “A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”.