Quando os anos 1990 ameaçam voltar pra decoração
Mogno envernizado, carpete, tijolo de vidro e todos os terrores da década de 1990
atualizado
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A década de 1990 resolveu dar um alôrrr em pleno 2016. É gargantilha de veludo aqui, gola alta com macacão jeans semi baggy ali, reunião dos Backstreet Boys em todo lugar. E a gente, que gosta de design, se segura na poltrona pé-palito aguardando o momento em que esse retorno ameace romper as fronteiras dos guarda-roupas.
Brincadeiras à parte, o fato é que, diferentemente da moda, cada vez mais descartável, móveis e objetos de decoração duram muito mais tempo nas nossas vidas. É provável que você reconheça a maior parte das tendências que vamos zoar em locais como a sua casa, a casa dos seus pais, tios, avós. Não se aperreie. Um dia será a vez dos “anos 2010”, e nosso bom e velho MDF, nossos queridos padrões geométricos, nossos adesivos de parede e concretos aparentes vão virar piada entre a geração moderninha de 2030.A questão é que a moda sempre respinga suas tendências na decoração de interiores. Daí que bate aquele leve desespero — como diria Dinho Ouro Preto na fatídica década —, ao pensar que certas tendências de 20 anos atrás reapareçam, anunciando que os cenários das casas de “O Rei do Gado” possam tomar conta das vitrines, blogs, revistas e, no pior dos casos, das nossas casas.
Então bora analisar com bom humor o que vale e o que não vale reviver da década 1990:
1. O mogno envernizado
Vamos começar lembrando que o mogno é uma madeira nobre, linda e ameaçada de extinção. Provavelmente porque nos anos 1990, 9 em cada 10 seres humanos sonhava com uma sala toda trabalhada no mogno envernizado. Daquela cadeira chinesa à mesa de jantar, quanto mais mogno, mais bonita era a casa. E ficava aquele amadeirado-avermelhado-cintilante pesando todo o ambiente. Abusamos tanto do estilo que a mogno-brasileiro já é rara na Amazônia. Então, por uma questão de princípios ambientais e estéticos, deixemos essa bela árvore em paz e vamos focar nas madeiras de reflorestamento.
2. Pátina
Quando eu era menina meu sonho era que meu quarto fosse todo de pátina: cama, armários, mesinhas, cadeira, estantes. A questão é justamente essa: a técnica é uma bela solução para vários tipos de móveis, em especial alguns acabamentos coloridos para móveis de demolição, mas a forma como a usávamos na década de 1990, em todos os móveis possíveis, era cansativa. Pátina pode até voltar, mas, por favor, em doses homeopáticas.
3. Tijolo de vidro
Não fique chateado comigo se sua casa ostenta belos exemplares desse tijolinho de vidro. Mas nem em 1990 eu curtia essa tendência. Sempre achei que esses blocos transparentes pareciam cubos de gelo empilhados e nunca entendi como ele caiu nas graças dos brasileiros. Entendo que eles permitem um vazamento de luz bacana, e acho válido em construções onde ele faz a vez das janelas. Agora como base de cozinhas, divisórias, ele simplesmente não desce. Nem cabe em 2016. Salve os cobogós, venezianas e divisórias de madeira, tijolinhos e pedras que cumprem muito melhor a função.
4. O Barzinho no canto da sala
Sonho dos pais de família que queriam modernizar a sala de jantar, o barzão desajeitado de mogno, com copos pendurados e luz embutida era um objeto de desejo. Hoje, com espaços cada vez mais reduzidos, é ele ou a mesa de jantar. Então fizemos adaptações muito mais interessantes desses bares em pequenos móveis, aparadores, carrinhos de cozinha e mesinhas. Amém!
5. Carpete
Me pergunto se a indústria farmacêutica não percebeu a oportunidade que tem em mãos com a possível volta da decoração dos anos 1990. Se os carpetes voltam a virar tendência, eles venderiam antialérgicos como água. Os carpetes eram sinônimo de luxo. Quanto mais fofinhos e peludos, mais abonada era a casa. Hoje os tapetes substituem essa necessidade de conforto com a vantagem de que não acumulam tanta poeira por serem menores e são muito mais fáceis de limpar.
6. Esponja na parede
Bastava uma esponja velha, uma lata de tinta e um pouco de animação para cometer o crime tão comum dos anos 1990. Textura esponjada na parede era o máximo do DIY (Do It Yourself, em português, faça você mesmo). A gente escolhia uma cor clarinha para o fundo, e outra mais forte pras carimbadas da esponja. A brincadeira custava nem 40 reais, ficava horrível e a gente nem ligava. Hoje a gente divide em cinco vezes no cheque a textura de tijolinho ou de papel de parede. Ou seja, a gente era feliz e não sabia. Não sou a favor da volta da esponjada, mas valia projetinhos mais em conta para embelezar as paredes contemporâneas.
7. Bandôs elaborados de cortina
Sinceramente, eu não sei nem por onde começar a explicar porque essa moda não se encaixa mais nos dias de hoje. Acho que uma forma boa de ver a impossibilidade desse retorno é que em 2016 a ideia de ser chique ficou ultrapassada. Da necessidade do rebuscado para provar que temos uma boa condição financeira ou bom gosto. Hoje simplicidade é que se relaciona com a ideia de bom gosto. Esse excesso de pano, de informação, de espaço para acumular poeira e mosquito morto é dispensável. Bandos nunca mais. Será?
- 8- Armário com cama encaixada
Se tinha uma coisa que me dava pavor quando eu aluguei meu primeiro apartamento, era entrar em um imóvel onde a suíte tinha aqueles armários com encaixe para cama. Impossibilitava o negócio, não só pela estética pavorosa, mas porque minha cama é queen e nessa época camas maiores que as de casal comum eram raridade no Brasil. Outro motivo pelo qual essa moda nunca deveria voltar é que esses armários engessavam completamente a possibilidade mudar a cama de lugar no quarto. Vetado no novo milênio!