Quais são os ícones do design no novo milênio?
Em entrevista a coluna, a designer Chiara Alessi afirma que as referências do passado ainda causam mais impacto que as atuais
atualizado
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A história do design pode ser contada quando analisamos objetos que viraram grandes ícones e são reconhecidos em todo planeta. A máquina de escrever Olivetti; o copo americano; a cadeira DAR, do casal Charles e Ray Eames; um simples cotonete; a cafeteira Moka, da marca Bialetti.
Objetos que pessoas de todas as partes do mundo, conhecem por suas formas e funções. Todos esses exemplos, porém, tiveram suas histórias construídas em meados do século XX.
A revolução industrial trouxe consigo uma gama tão ampla de possibilidades de criação para arquitetos e desenhistas de produtos, que tudo foi explorado com absoluta gana e fervor na época.
O resultado foi a criação de incontáveis produtos, de todas as sortes, fins, materiais, estéticas. O século XX explorou cada esquina, curva, espaço da criação de objetos. E a impressão que tanta criação deixou, é a de que ficamos, aqui no século XXI, com pouco espaço para a inovação de formas.
Não é a toa que, quando pensamos em ícones de design contemporâneos, quase sempre nos prendemos a objetos ligados à tecnologia. O Ipod e o Iphone, por exemplo, seriam uma das poucas formas icônicas as quais conseguimos nos referir quando falamos do que foi criado depois dos anos 2000.
Pense aí…. que objetos criados nos últimos 20 anos se tornaram reconhecidos em todo o planeta? Pergunta difícil, porque simplesmente não temos mais essa referência. Temos símbolos de marcas, como o Netflix e o Facebook, mas poucas referências materiais.
Em entrevista para a coluna Casa Nossa, na Embaixada da Itália, a designer e critica italiana Chiara Alessi, conta que criar novos ícones é um desafio ainda demandado pelas empresas, mas pouco conectado com a realidade contemporânea. “O design do passado ainda está vivo. Ainda bebemos dessas fontes, as reciclamos, as usamos como referências. Nosso presente parece ter dificuldade em criar uma imagem confiável e duradoura para entregar ao futuro. Buscamos experiências fortemente estetizantes, produtos capazes de proporcionar gratificação imediata, mas não conectamos eles com esse sentido durador do produto e, por isso, não fixamos ícones”, explica.
Segundo Alessi, somos um novo tipo de sociedade, com uma quantidade absurda de informações e experiências sendo absorvidas. E, ainda assim, com nossas referências dos ícones do passado ainda vigentes. Ainda entendemos a Moka, como a cafeteira italiana, a cafeteira de fogão.
Centenas de novos modelos surgiram mas nenhum conseguiu substituir a referência estética. A Moka, inclusive, foi inventada e desenhada pelo avô de Chiara, Alfonso Bialetti, em 1933, e aperfeiçoada ao longo do tempo até se tornar, nos anos cinquenta, graças às intuições de seu filho Renato, o produto extraordinariamente bem sucedido que estamos familiarizados e um dos cases de design durador mais icônicos da história.
“Nem todos os momentos são favoráveis para o nascimento de ícones. Estamos tão profundamente enraizados em nosso próprio tempo que somos incapazes de nos distanciar dele, incapazes de alcançar o desapego necessário para criar uma perspectiva a partir da qual se une presente, passado e futuro. E, em particular, na passagem de uma cultura de commodities para a digital, o design não conseguiu substituir os grandes ícones ligados aos tipos tradicionais de objetos”, finaliza.