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Organização é um sintoma de amor à casa. De quem cuida do que tem

Na internet circula um texto condenando a infelicidade aos lares organizadinhos. Concorda?

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“Uma casa infeliz é aquela que você entra e está tudo arrumado. Uma casa sem uso. Você entra e as almofadas estão no lugar… Casa arrumada é uma casa triste.”

A frase é do filósofo e escritor brasileiro Mário Sérgio Cortella e circulou pela internet nesses últimos dias. Adoro o Cortella e entendi o ponto de vista da colocação. Mas quero sair em defesa das casas arrumadas.

Vamos combinar, há poucas sensações tão maravilhosas na vida adulta do que quando você observa sua casa recém-faxinada. Eu só falto fazer o papa no aeroporto e beijar o chão da sala. Como amo olhar pra minha sala quando ela está nesse estado de graça da limpeza e da organização.

E não se engane, sou uma pessoa com fortes tendências à desorganização e sem neuras com limpeza ou ordem. Lá em casa vira e mexe o armário se descontrola, uma gaveta cheia demais emperra, a cadeira faz a vez de cabideiro, a cama vira o dia sem ser arrumada. E tudo bem.

Acontece.

Mas a casa arrumada proporciona um prazer imenso. Sensação de paz. A energia flui melhor. Almofadas no lugar, abajur aceso, cheirinho de limpeza, pia limpa, cama feita, roupa suja no cesto. Zero infelicidade, pura satisfação.

Como uma pessoa que vive igualmente os dois extremos dentro da casa — do caos e da organização — posso dizer que casa arrumada é feliz, sim. Feliz demais. Organização é um sintoma de amor à casa. De quem cuida do que tem.

Cada casa, cada lar, cada família, cada pessoa tem sua forma particular de ser feliz. Na bagunça ou na ordem.

É tudo uma questão de equilíbrio desses extremos: não dá para querer controlar a posição da almofada 24h, ficar psicopata com qualquer objeto fora do lugar. É um comportamento tão ruim e aprisionador quanto o de quem vive imerso num caos de desorganização diária.

Assim como Cortella, Carlos Drummond de Andrade também já saiu em defesa da bagunça num texto delicioso que falava que casa com marca de copo na mesa de centro, tapete desfiado, mancha no sofá, é casa que tem festa, tem vida. Verdade. Mas quem usa descanso de copo e tira a mancha do sofá com vanish também pode ser feliz.

Vamos deixar assim: dá pra ter festa, dá pra ter bagunça, dá pra ter tudo arrumadinho, dá pra ser feliz. Como que alguém julga de infeliz minha casa faxinadinha? Não dá, Cortella!

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