A breguice nossa de cada dia – Parte II
A listinha dos itens de decoração mais difamados continua com algumas considerações importantes: a presença deles aqui não significa que a coluna os classifica como cafonas
atualizado
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A listinha dos itens de decoração mais difamados continua com algumas considerações importantes: a presença deles aqui não significa que a coluna os classifica como cafonas. A ideia é discutir por que o senso comum e os profissionais da área os tacham de tal forma. E mostrar como, quando bem utilizados, viram belos itens de design.
Então, se acalme se a sua casa estiver cheia desses elementos, leia com a mente aberta para uma boa interpretação de texto e compartilhe com a gente suas impressões sobre o porquê de esses objetos serem amados por uns e odiados por outros tantos.
Mas ó, cá entre nós, brega mesmo é se preocupar com o que os outros vão achar das suas escolhas. A decoração tem de se adaptar à personalidade dos moradores, e não o contrário. Então, se você quer manter aquela capa de babados sobre seu botijão de gás, ou aquele galo português que muda de cor se for chover (eu tenho!), seja feliz.
- Tapete felpudo
Deliciosos. Fofos. Macios… “Chiques” para alguns. Mas longe de serem queridinhos dos profissionais da área de design e arquitetura de interiores. Nos projetos atuais, esses tapetes, também conhecidos como shaggys, são relegados às salas de televisão, já que permitem, para quem não conseguiu vaga no sofá, ficar deitadão no chão com certo conforto.
Quanto mais brilho tiverem os fios, mais o povo ama e mais os profissionais torcem o nariz. Para entender o porquê de eles terem aparecido nesta lista basta analisar o histórico: os shaggys alcançaram o auge no começo dos anos 2000. Eram caríssimos. Os chineses, muito espertos, viram ali um filão de mercado e começaram a fabricar essas peças a granel. Assim, o preço despencou e eles foram parar em tudo quanto é sala. É um movimento muito parecido com o da moda de roupas.
A tendência surge e, assim que cai no gosto popular, fica datada e sai das páginas das revistas. O tapetão felpudo caiu em desgraça para muitos profissionais por ter se tornado comum demais. Besteira? Provavelmente. Quem tem ama e não troca por nada. Na minha opinião, ele é mais legal no quesito conforto – o que não exclui a possibilidade de ficar lindo na sala de estar. Se quer abraçar a causa com mais segurança estética, prefira os modelos de algodão e fibras naturais.
- Mistura de estampas
O oposto do caso anterior. Enquanto a mistura de estampas parece assustadora e cafona para muita gente, ela é tendência dentro do universo do design. Mas é uma tendência perigosa: se dá certo, fica incrível. Se não convence, fica um desastre total. O ideal é que as estampas misturadas tenham algo em comum: um estilo parecido, uma cor em comum, uma padronagem que converse com a outra. Dificilmente uma almofada floral ao lado de outra xadrez sobre um sofá listrado vai funcionar. Agora, diferentes formas geométricas, de diferentes cores, juntas, podem ficar lindas.
- Pufes
Outro caso de popularização que levou o item à lista da cafonice. Ter pufe é prático e barato. E por isso eles viralizaram nas casas de quem queria economizar e nas lojas de quem queria lucrar. Aí surgiram uns exemplares tenebrosos. Mas tem muito modelo bacana por aí. Sejam aqueles em formato de cubo ou os molengões. No caso do último, quando o recheio já está gasto e ele fica todo troncho e achatado, não tem como defender. Use os pufes numa boa, mas com moderação. Se quer ter um pufe realmente bonitão, experimente encomendar um ou reformar o seu antigo com tecido novo e uma estampa maravilhosa. Ele passa de renegado a queridinho em um piscar.
- Almofada de crochê
Elas bombavam no sofá da casa da sua avó, mas, hoje, meio mundo tem pavor só de imaginar uma dessas na sala. Se engana quem acha que elas estão fadadas aos livros de história do design. As almofodas de crochê voltaram com tudo e são disputadas a tapa no meio.
São artesanais, caras e levam muita personalidade e originalidade para o projeto. Em Brasília, a própria Fundação Athos Bulcão lançou uma linha de mantas e almofadas de crochê com estampas do arquiteto. Mas vale a dica: o ideal é uni-las às demais almofadas de tecidos comuns. Escolher todas as almofadas do ambiente de crochê pode pesar o visual.
- Souvenir de viagem
É engraçado como, quando estamos em uma viagem, bate aquela vontade louca de levar todas as belezas artesanais e lembranças do lugar. Mas aí chegamos em casa com as malas de souvenires e logo percebemos que nem sempre é fácil encaixá-los na decoração.
Vamos analisar o caso por partes. Eu sou dessas. Não resisto e sempre trago algo pra introduzir na decoração de casa. Mas aprendi com o tempo o que funciona ou não na vida real. Bonequinhos de madeira, miniaturas e afins costumam funcionar dentro de uma coleção. Todos juntinhos na mesma prateleira. Soltos, de forma sortida pela casa, de fato, ficam cafonas e descontextualizados. Para desespero do meu marido, que me ajuda a carregar as malas de volta, eu aprendi que mais vale trazer um super item maravilhoso e artesanal do local do que vários cacarecos. Então abro meus olhos em busca de peças de cerâmica, esculturas realmente bonitas, gravuras únicas, itens de antiquários, tecidos.
Antes mesmo de viajar, faço uma pesquisa sobre itens artesanais do lugar. E sempre faço bon$ negócios. Por exemplo, o México é mais do que minicrânios coloridos. Há vasos de cerâmica, peças de ferro pintadas à mão e toalhas e caminhos de mesa bordados que são verdadeiros itens de arte. Em Nova York, esqueça aquela bola de neve artificial com um papai noel dentro ou o cinzeiro com o desenho de um táxi amarelo. Foque nas peças únicas das lojas dos museus. Em Paris, mais vale uma peça de antiquário ou uma gravura de um artista de rua do que a miniatura batida da Torre Eiffel.
Eu sei que são itens mais caros, mas economize US$ 40 no Free Shop e faça esse investimento. Esses itens agregam mais valor e cumprem a mesma função de te levar de volta para os dias maravilhosos das férias. Com muito mais estilo e personalidade.
- A Romerobritização do mundo
O Brasil se divide entre os que amam Romero Britto e os que o odeiam. O preconceito contra as obras multicoloridas do artista era tão difundido – e tão mainstream – que agora a nova moda é ir contra a corrente e dizer que ele é o máximo. Gostando ou não, sonhando ou não com um quadro dele na sua sala, uma questão deve ser discutida: que objeto desse mundo ainda não foi romerobritizado?
Tudo o que você imaginar já ganhou a estampa batida do camarada. Caneca, roupa de cama, poltrona, óculos, vaso, escova de dentes, abajur, tênis, almofada, cueca, guardanapo etc. Então, me esforçando aqui para não fazer juízo da qualidade da arte, é muito chato esse excesso. “Enquanto você está aí falando do cara, ele tá nadando na grana e pintando quadro pro Obama!”, dirão. Eu sei. E isso é realmente um mérito enorme.
O cara conquistou o mundo com uma única estampa para tudo que ele faz (pelo menos tudo o que eu sei que ele faz, mas meu conhecimento sobre ele, de fato, é opcionalmente limitado). Ele pode até ser o artista brasileiro de maior destaque comercial desta década, mas isso não quer dizer que você tenha de colocar essas estampas na casa toda. Se curte o cara, escolhe um item com a estampa e seja feliz. Já tá de bom tamanho.