Yanomamis avisaram à gestão Bolsonaro: inação vai resultar em massacre
Entre 2020 e 2022, pelo menos cinco ofícios relatando casos de violência foram enviados pelos Yanomamis a diferentes instituições
atualizado
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Em maio de 2021, duas crianças, uma de 5 e outra de 1 ano, foram mortas durante invasão de garimpeiros à aldeia Palimiu, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Após o ocorrido, um pedido de ajuda dos indígenas foi enviado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública cobrando providências. O apelo dos Yanomamis não era infundado, aquele mês foi marcado por ataques sistemáticos de garimpeiros às comunidades indígenas.
“Já dissemos que não queremos o garimpo na Terra Indígena Yanomami. Sabemos que a lei brasileira também não permite a atividade em Terras Indígenas. A demora do Estado brasileiro em agir para cumprir a lei e garantir a segurança dos indígenas pode resultar em um massacre”, alertaram os indígenas. Então, o Ministério da Justiça era comandado por Anderson Torres, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ex-ministro está preso por suspeita de omissão quando era secretário de Segurança Pública no DF na época dos ataques golpistas de 8 de janeiro.
O relato acima foi apenas uma das denúncias de violência cometida por garimpeiros na região: entre 2020 e 2022, foram enviados pelo menos cinco ofícios a diferentes instituições. Em um desses documentos, enviado uma semana antes das mortes das crianças, os Yanomamis já haviam alertado as autoridades sobre a escalada de violência na terra indígena. Na ocasião, sete barcos de garimpeiros chegaram à mesma aldeia por volta das 11h e iniciaram um tiroteio, depois disso, ainda avisaram que voltariam “para vingança” às 12h30.
“Solicitamos aos órgãos que atuem com urgência para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu”, apelou a Hutukara Associação Yanomami, entidade que representa o povo indígena. O documento foi enviado à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), à Polícia Federal (PF), ao Exército Brasileiro e ao Ministério Público Federal (MPF).
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Outros alertas
Ainda em dezembro de 2020, a Hutukara avisou sobre o aumento das agressões na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Então, apesar do aumento expressivo no número de garimpeiros, o conflito direto entre os homens que buscam ouro e os donos da terra não eram comuns. A manifestação da associação indígena à corte internacional, vista de hoje, parece premonitória.
“O conflito entre garimpeiros tem se tornado cada vez mais comum dentro da TIY, sendo cotidianos o roubo e assassinato entre si. Temendo ser questão de tempo até que a ameaça permanente dos núcleos de garimpeiros ilegais na TIY resultem em mais mortes indígenas”, afirmou a Hutukara. Para evitar investigações, os garimpeiros mortos por outros garimpeiros eram enterrados clandestinamente na terra indígena. A prática, para os Yanomamis, é um desrespeito.
“Para a cultura Yanomami, o sepultamento de corpos é prática aviltante: os ‘cemitérios’ clandestinos de garimpeiros se tornam lugares amaldiçoados, com os ossos garimpeiros se tornando espíritos malignos”, protestaram os indígenas à Corte Interamericana.
Em outro documento, este de 2022 — o mesmo que relata a morte de seis crianças em 18 dias por doenças tratáveis — os indígenas relatam que jovens Yanomamis são cooptados pelo garimpo. Esse movimento geralmente está aliado ao estímulo do vício em álcool. Os indígenas garimpeiros morrem nas lutas dos exploradores da terra.
“Há informações por parte dos Yanomamis de que ao menos uma dezena de jovens morreram em tiroteios nos últimos meses, sendo ao menos 8 jovens vítimas de armas de fogo em conflito. São jovens que têm acesso às armas fornecidas pelos garimpeiros em troca de apoio e que têm se tornado viciados em drogas e bebidas alcoólicas comercializadas nas currutelas”, informam.